Citações de Armando Nogueira

A bola é uma flor que nasce nos pés de Zico, com cheiro de gol.

A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus.

Anúncio: troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas.

Até a bola do jogo pedia autógrafo a Pelé.

Botafogo é bem mais que um clube. É uma predestinação celestial.

Choremos a alegria de uma campanha admirável em que o Brasil fez futebol de fantasia, fazendo amigos. Fazendo irmãos em todos os continentes.

Copiar o bom é melhor que inventar o ruim.

Criticar sem ofender e elogiar sem bajular.

É sempre melhor ser optimista do que ser pessimista. Até que tudo dê errado, o optimista sofreu menos.

Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro.

Heróis são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania do alto desempenho.

No futebol, matar a bola é um ato de amor. Se a bola não quica, mau-caráter indica.

O árbitro é o próprio burocrata do Apocalipse.

O suor na pele do atleta são lágrimas que o corpo chora na alegria do esforço.

O torcedor é antes de tudo, paixão. É chama sagrada. Queima e ilumina o coração do homem.

Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão.

Para Mané Garrincha, a superfície de um lenço era um latifundio.

Reveja sempre o seu texto. Verás que há sempre o que mudar. Não tenha vergonha de usar o dicionário, quando aparecer uma dúvida.

Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.

Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos.

Você pode elogiar sem bajular e criticar sem ofender.

Citações de Abílio Guerra Junqueiro

A alegria é o sofrimento amoroso, o sofrimento espiritualizado.

A dor é a escada de fogo que nos conduz à vida eterna.

A dor eleva, a dor exalta, a dor diviniza.

A escola é a única alavanca capaz de elevar o povo ao nível da moral.

A felicidade consiste em três pontos: trabalho, paz e saúde.

A humanidade é a vitória dos arrogantes sobre os humildes, dos fortes sobre os débeis, da besta sobre o anjo.

A obra dos homens é a porção de Deus que derramaram.

A verdade não conhece perífrases; a justiça não admite reticências.

A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à redenção pelo sofrimento.

Na alma da maioria dos homens grunhe ainda, baixo e voraz, o focinho do porco.

Nas almas medíocres e superficiais actua sobretudo a realidade transitória das linhas e dos sons, das formas e das cores. As naturezas elevadas, ao contrário, são sempre objectivas e metafísicas.

O filósofo observa e medita. É um espelho que pensa.

O homem é um resumo ideal da natureza. Andou o infinito e lembra-se; andará o infinito e já o sonha.

O problema da morte é, no fundo, o problema da vida.

O progresso marca-o a distância do salto do tigre, que é de dez metros, ao curso da bala, que é de vinte quilómetros. A fera, a dez passos, perturba-nos; o homem é a fera dilatada.

O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez.

Quando a alma, ao termo de mil hesitações e desenganos, cravou as raízes para sempre num ideal de amor e de verdade, podem calcá-la e torturá-la, podem-na ferir e ensanguentar, que quanto mais a calcam, mais ela penetra no seio ardente que deseja.

Quem fraterniza com a dor, comunga no grémio de Deus.

Se nos amesquinharem a fama e cercearem a glória, desviando de nós as multidões, que não pensam e vão para onde as levam, melhor. Os que nos querem, os que nos amam, os que nos entendem, ficarão connosco. Os outros, deixando-nos, prestam-nos favor.

Toda a alegria vem do amor, e todo o amor inclui o sofrimento.

Uma literatura dá a medida de uma sociedade. É um axioma de crítica.

Uma víbora envenena um homem, mas um homem sozinho arrasa uma capital. Os grandes monstros não chegam verdadeiramente na época secundária; aparecem na última, com o homem. Ao pé de um Napoleão, um megalossauro é uma formiga.

Citações de Amor

Nascemos para amar. O amor é o princípio da existência e o seu único fim.
Benjamin Disraeli

Saber amar não é amar. Amar não é saber.
Marcel Jouhandeau

Em amor é um erro falar-se de uma má escolha, uma vez que, havendo escolha, ela tem de ser sempre má.
Marcel Proust

É próprio do amor (…) ser obrigado a aumentar, sob pena de enfraquecer.
André Gide

Mas, ah tirano Amor! Ou cedo ou tarde / É forçoso aos mortais sofrer teu jugo; / Amor, tu és um mal que fere a todos: / Longa experiência contra ti não vale, / Ou Virtude, ou Razão, só vale a Morte.
Manuel du Bocage

A separação (temporária) tem isto de bom – que põe em relevo e torna interessantes mil pequenas coisas da vida daqueles que amamos – que até aí, todos os dias vistas, quase se não percebiam.
Eça de Queiroz

Só há um amor eterno: o amor intelectual.
Baruch Espinoza

Amor – uma grave doença mental.
Platão

O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são.
Friedrich Nietzsche

O amor nasce de quase nada e morre de quase tudo.
Júlio Dantas

O amor é filho da ilusão e pai da desilusão.
Miguel Unamuno

É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música.
Honoré de Balzac

O amor é uma bela flor à beira de um precipício. É necessário ter muita coragem para a ir colher.
Stendhal

Se o amor cabe numa só flor, então é infinito.
Antonio Porchia

Fico com medo. Mas o coração bate. O amor inexplicável faz o coração bater mais depressa. A garantia única é que eu nasci. Tu és uma forma de ser eu, e eu uma forma de te ser: eis os limites de minha possibilidade.
Clarice Lispector

Muito do amor vem com o trabalho, com a persistência, com a presença. (…) O amor é uma obra de arte, o acto do amor é uma obra de arte.
Ruben A.

O amor é Física, o casamento é Química.
Alexandre Dumas

Não interessa quem tu amas, onde é que amas, porque é que amas, quando é que amas ou como é que amas, o que interessa é que amas.
John Lennon

Amar é sofrer. Para evitares sofrer, não deves amar. Mas, dessa forma vais sofrer por não amar. Então, amar é sofrer, não amar é sofrer, sofrer é sofrer. Ser feliz é amar, ser feliz, então, é sofrer, mas sofrer torna-nos infelizes, então, para ser infeliz temos que amar, ou amar para sofrer, ou sofrer de demasiada felicidade – espero que estejas a perceber.
Woody Allen

Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?
Agustina Bessa-Luís

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Miguel Esteves Cardoso

Uma coisa é o amor, outra é a relação. Não sei se, quando duas pessoas estão na cama, não estarão, de facto, quatro: as duas que estão mais as duas que um e outro imaginam.
António Lobo Antunes

Ama-se quem se ama e não quem se quer amar.
Florbela Espanca

Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade.
Albert Camus

Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre.
Anton Tchekhov

O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio.
Cesare Pavese

Os homens são todos iguais, até na maneira de gostarem das mulheres. É a nossa única superioridade. Um homem, quando ama uma mulher adora-a. Uma mulher, quando ama um homem, aceita-o. Um homem vê todas as mulheres na mulher que ama. A mulher esquece os outros homens. Um homem ama e respeita uma só mulher. Uma mulher limita-se a amar só um.
Miguel Esteves Cardoso

Parece-me fácil viver sem ódio, coisa que nunca senti. Mas viver sem amor acho impossível.
Jorge Luis Borges

Por mais duro que alguém seja, derreterá no fogo do amor. Se não derreter é porque o fogo não é bastante forte.
Mahatma Gandhi

Se for possível amar alguém apaixonadamente, mesmo que só uma pessoa, então a vida tem salvação. Ainda que não seja possível reunirmo-nos com a tal pessoa.
Haruki Murakami

Esta insegurança é irritante. Um homem pode ser amado por cem mulheres bonitas e no dia em que uma feia lhe vira a cara desaba-se-lhe a confiança. Acha que as outras cem é que estavam enganadas e que só esta percebeu finalmente que ele não prestava para absolutamente nada. A uma mulher, em contrapartida, basta ser amada uma única vez para achar que os cem homens que a rejeitam são simplesmente parvos que não sabem o que perdem.
Miguel Esteves Cardoso

No amor, somos todos meninos. Meninos, pequenos, pequeninos. Sentimo-nos coisas poucas perante a glória descarada de quem amamos. Quem ama não passa de um recém-nascido, que recém-nasce todos os dias.
Miguel Esteves Cardoso

O amor revela as qualidades sublimes e ocultas do que ama, – o que nele há de raro, de excepcional: nesse aspecto facilmente engana quanto ao que nele há de habitual.
Friedrich Nietzsche

Lembra-te que quando um homem sai do quarto, deixa lá tudo o que aconteceu… e quando é uma mulher a sair, leva tudo com ela.
Alice Munro

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram “em diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica da camaradagem. A paixão, que deveria ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente apaixonadas.
Miguel Esteves Cardoso

O único transformador, o único alquimista que muda tudo em ouro, é o amor. O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar, é o amor.
Anaïs Nin

Mesquinho é o caso de amor que pode ser amavelmente resolvido com proveito para ambas as partes. Quando homem e mulher «ficam amigos» é porque nunca foram outra coisa. O amor verdadeiro é um desespero constante. Os problemas mais espectaculares só se resolvem com mortes. Não há conselhos que lhes valham.
Miguel Esteves Cardoso

O amor não é recíproco, é pessoal, nasce no mais íntimo da nossa identidade. Não é metade de nada, é um todo. Precisa do outro como fim, não como princípio.
José Luís Nunes Martins

Sem um amor não vive ninguém. Pode ser um amor sem razão, sem morada, sem nome sequer. Mas tem de ser um amor. Não tem de ser lindo, impossível, inaugural. Apenas tem de ser verdadeiro.
Miguel Esteves Cardoso

Tal como às vezes digo que, em vez da felicidade, eu acredito na harmonia, penso que o amor é o encontro da harmonia com o outro.
José Saramago

Amar alguém ou alguma coisa é primacialmente instalá-lo num clima de plena liberdade, com todos os riscos que a liberdade comporta: desejar é limitar na liberdade; a nós e aos outros.
Agostinho da Silva

Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria
Miguel Esteves Cardoso

São precisas muitas mulheres para esquecer uma mulher inteligente.
António Lobo Antunes

Na verdade, não há amor sem insegurança. Quem tem a certeza de ter quem quer, ou não tem, ou não quer grande coisa. A segurança é mais para desodorizantes do que para paixões: “E se alguém vier para lhe oferecer flores e se estampar no chão à sua frente fracturando a cana do nariz e espirrando sangue para cima do seu vestido de seda branca… você sabe que é Impulse.”.
Miguel Esteves Cardoso

Tu eras também uma pequena folha que tremia no meu peito. O vento da vida pôs-te ali. A princípio não te vi: não soube que ias comigo, até que as tuas raízes atravessaram o meu peito, se uniram aos fios do meu sangue, falaram pela minha boca, floresceram comigo.
Pablo Neruda

O amor é uma coisa muito estranha, que todos os dias nos acorda, depois de sonhos inequívocos, a lembrar-nos que estamos condenados à pessoa que amamos. E ficamos, por estarmos apaixonados, convencidos. Que o nosso inteiro coração, por estar ocupado por ela, está entregue a expandir-se ilimitadamente por causa disso, por uma só pessoa.
Miguel Esteves Cardoso

Apaixonar-se é passivo; amar activo; o perfeito está no que não é nem isto nem aquilo.
Agostinho da Silva

Quem fala de Amor não ama verdadeiramente: talvez deseje, talvez possua, talvez esteja realizando uma óptima obra literária, mas realmente não ama; só a conquista do vulgar é pelo vulgar apregoado aos quatro ventos; quando se ama, em silêncio se ama.
Agostinho da Silva

No amor não há férias nem nada que se pareça. O amor deve viver-se plenamente, com o seu aborrecimento e com tudo.
Marguerite Duras

Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada!
Sigmund Freud

Amar é aproximar. Fazer próximo quem está mais longe. Dar mais espaço a quem esteja demasiado perto.
José Luís Nunes Martins

O amor, (…), como tu sabes é feito de muitos sentimentos diferentes. Alguém escreveu, creio que até fui eu – que era uma bela flor com raízes diversas. Ora quando uma dessas raízes é a estima absoluta pode ele ao fim de longos anos secar pelas outras raízes mas permanecer vivo por essa.
Eça de Queiroz

Nunca amamos ninguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é a nós mesmos – que amamos. Isso é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa.
Fernando Pessoa

Não é amar as raparigas tratá-las como seres que não entendem senão as suas lisonjas e as suas anedotas; só as amará e só elas o poderão amar a você, para além das enganadoras aparências, quando a sua alma se lhes abrir, e com todos os seus problemas, todas as suas angústias, toda a sua seriedade, toda a sua gravidade humana.
Agostinho da Silva

Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
Clarice Lispector

O amor ou o ódio dos homens não espera, para se fixar, ter primeiro estudado e reconhecido a natureza das coisas. Os homens amam por impulso e por razões de sentimento que nada têm a ver com o conhecimento e às quais a reflexão e a meditação não podem deixar de tirar força.
Sigmund Freud

Quando o amor é grande demais torna-se inútil: já não é mais aplicável, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos é extremamente burguesa.
Clarice Lispector

Não há ninguém que não se envergonhe de ter amado outro, quando o amor já acabou entre eles.
François de La Rochefoucauld

Um homem a quem ninguém agrada é bem mais infeliz do que aquele que não agrada a ninguém.
François de La Rochefoucauld

O amor é querer estar perto, se longe; e mais perto, se perto.
Vinicius de Moraes

O amor, que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida, perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm perigos de empestarem-se em contacto com as da terra.
Camilo Castelo Branco

Nesta entrega incondicional há um momento único: é precisamente quando, pelo Amor, saímos de nós mesmos… que aparecemos diante dos nossos próprios olhos…
José Luís Nunes Martins

Os amantes apenas vêem os defeitos das amadas quando o seu encantamento acaba.
François de La Rochefoucauld

O que faz com que os apaixonados e as amadas nunca se aborreçam quando estão juntos é o falarem sempre de si próprios.
François de La Rochefoucauld

Se julgarmos o amor pela maior parte dos seus efeitos, ele assemelha-se mais ao ódio do que à amizade.
François de La Rochefoucauld

Passamos muitas vezes do amor à ambição, mas nunca regressamos da ambição ao amor.
François de La Rochefoucauld

O amor é a ocasião única de amadurecer, de tomar forma, de nos tornarmos um mundo para o ser amado. É uma alta exigência, uma ambição sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais vastos horizontes.
Rainer Rilke

Só o amor e a arte tornam a existência tolerável.
William Maugham

O amor é a única paixão que não admite nem passado nem futuro.
Honoré de Balzac

Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele.
Platão

Muito pouco ama, quem com palavras pode expressar quanto muito ama.
Dante Alighieri

Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama.
Miguel de Cervantes

Se as duas pessoas se amam uma à outra, não pode haver final feliz.
Ernest Hemingway

Amar é descobrirmos a nossa riqueza fora de nós.
Alain

Quando somos amados, não duvidamos de nada. Quando amamos, duvidamos de tudo.
Sidonie Colette

O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Miguel Esteves Cardoso

Só pelo amor o homem se realiza plenamente.
Platão

O amor, para durar, tem de ser também confiança, também estima. Isto é, deve adquirir algumas das propriedades da amizade.
Francesco Alberoni

Sou demasiado orgulhoso para acreditar que um homem me ame: seria supor que ele sabe quem sou eu. Também não acredito que possa amar alguém: pressuporia que eu achasse um homem da minha condição.
Nietzsche Friedrich

Quando se ama, a fidelidade nada custa.
Henri de Montherlant

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso «dá lá um jeitinho» sentimental.
Miguel Esteves Cardoso

Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.
Friedrich Nietzsche

É tão bom ter-te, que tudo o resto se torna secundário. E é esse o problema.
Joaquim Pessoa

É quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
Clarice Lispector

Do primeiro amor gosta-se mais, dos outros gosta-se melhor.
Antoine de Saint-Exupéry

Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito.
Bertolt Brecht

Era o tempo em que eles se amavam melhor, sem pressa ou excesso, quando ambos estavam mais conscientes e gratos pelas suas incríveis vitórias sobre a adversidade. A vida iria apresentar-lhes outros desafios mortais, com certeza, mas isso já não importava: eles estavam na outra margem.
Gabriel Garcia Márquez

O amor não se vê com os olhos mas com o coração.
William Shakespeare

Dizer que se vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos.
Lev Tolstoi

Quando se ama uma mulher, ou ela se deixa erguer um trono de domínio na alma, e então o homem ama por desejo e gratidão; ou ela repele os afectos do que a requesita, e então é nobre o deixá-la na livre escolha de quem lhe apraz.
Camilo Castelo Branco

Sem amor por si mesmo, o amor pelos outros também não é possível. O ódio por si mesmo é exactamente idêntico ao flagrante egoísmo e, no final, conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo desespero.
Hermann Hesse

Beijar-te é a forma mais doce de sorrir.
Joaquim Pessoa

O amor é a força mais abstracta, e também a mais potente que há no mundo.
Mahatma Gandhi

Donde pode nascer o amor? Talvez de uma súbita falha do universo, talvez de um erro, nunca de um acto de vontade.
Marguerite Duras

A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande.
Roger de Rabutin

O amor é a capacidade de perceber o semelhante no dessemelhante.
Theodore Adorno

Gosto desta ideia: que o amor é uma forma de conversação em que as palavras agem em vez de serem faladas.
David Lawrence

Apenas amamos aquilo que não possuímos por completo.
Marcel Proust

Amar é querer que seja nós e outrem o máximo de nós.
Agostinho da Silva

É preciso reinventar o amor, toda a gente sabe.
Arthur Rimbaud

Os homens hesitam menos em ofender quem se faz amar do que em ofender quem se faz temer; porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação que, por serem os homens pérfidos, é rompido por qualquer ocasião em benefício próprio; mas o temor é mantido por um medo de punição que não abandona jamais.
Nicolau Maquiavel

O amor arranca as máscaras sem as quais temíamos não poder viver e atrás das quais sabemos que somos incapazes de o fazer.
James Baldwin

Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos.
Antoine de Saint-Exupéry

O ouvido é o caminho do coração.
Voltaire

A emoção do amor dá-nos a todos nós uma ilusão enganadora de conhecermos o outro.
Milan Kundera

O amor nunca faz reclamações; dá sempre. O amor tolera; jamais se irrita e nunca exerce vingança.
Mahatma Gandhi

Talvez a razão pela qual não sejamos capazes de amar seja porque ansiamos ser amados, isto é, exigimos algo (amor) do nosso parceiro em vez de nos darmos genuinamente a ele sem nada exigir, querendo apenas a sua companhia.
Milan Kundera

Serás amado apenas quando puderes mostrar a tua fraqueza, sem provocar nenhuma força.
Theodore Adorno

O prazer do amor dura apenas um instante, os desgostos do amor duram toda a vida.
Jean-Paul Florian

À força de falarmos de amor, apaixonamo-nos.
Blaise Pascal

Para mim é suficiente ter a certeza que tu e eu existimos neste momento.
Gabriel Garcia Márquez

Ser amado é consumir-se na chama. Amar, é luzir com uma luz inesgotável. Ser amado é passar; amar é durar.
Rainer Rilke

O amor é um sentimento tão delicioso porque o interesse de quem ama confunde-se com o do amado.
Stendhal

O amor é a união de duas solidões que se respeitam.
Rainer Rilke

A medida do amor é amar sem medida.
Victor Hugo

Que a sua casa seja como um santuário impenetrável. Se o apetite invencível o impelir à comunhão de manjares, que a sociedade digere, à custa de um penoso trabalho do coração, vá, mas deixe-a a ela no segredo da sua vida, como anjo depositário do bálsamo das feridas com que vossa excelência se refugiará do tumulto das paixões degeneradas para o abrigo da amizade íntima, sem a qual o amor é impossível.
Camilo Castelo Branco

A vantagem do amor sobre a libertinagem é a multiplicação dos prazeres.
Baron de Montesquieu

No amor, quem se cura primeiro é quem fica mais bem curado.
François de La Rochefoucauld

Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida / Delirando de amor, sem fruto ardendo, / É padecer mil mortes, mil infernos.
Manuel du Bocage

Amor será dar de presente um ao outro a própria solidão? Pois é a coisa mais última que se pode dar de si.
Clarice Lispector

As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos.
Machado de Assis

Entre os seres humanos, mesmo se intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor pode superar, e mesmo assim somente como uma passagem de emergência.
Hermann Hesse

O amor é prazer, é amor de companhia, é amor de estar junto, precisa de mais coisas. (…) Mas onde é que está o amor completo? Essa ambição mata o amor, esse desejo de tudo ter da outra pessoa, de tudo exigir, de tudo querer, essa ambição leva a desgraça, a drama, a paixão sem controle, folha de árvore a cair no Outono.
Ruben A.

O amor começa quando uma pessoa se sente só e termina quando uma pessoa deseja estar só.
Lev Tolstoi

Fica-se enamorado quando se dá conta de que a outra pessoa é única.
Jorge Luis Borges

O verdadeiro amor é uma expressão da produtividade interna e compreende solicitude, respeito, responsabilidade e conhecimento.
Erich Fromm

Sim, é louco. O amor ou é louco ou então não é nada.
Milan Kundera

Amor é a possibilidade de duas pessoas não se aborrecerem uma à outra.
Ruben A.

Um dos meus sete pecados mortais: a sede de amor absoluto que me devora.
Miguel Torga

O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para sempre e vai crescendo dia a dia.
Honoré de Balzac

Só uma palavra nos liberta de todo o peso e da dor da vida: essa palavra é o Amor.
Sófocles

O homem que vive na indiferença, é aquele que ainda não viu a mulher que deve amar.
Jean de La Bruyère

Renunciar ao amor parecia-me tão insensato como desinteressarmo-nos da saúde porque acreditamos na eternidade.
Simone de Beauvoir

Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.
William Shakespeare

Para quem sabe amar bem, nada é impossível.
Pierre Corneille

Por entre a chuva de mortais peloiros / A nua fronte enriquecer de loiros / Eu procuro, eu desejo, / Para teus mimos desfrutar sem pejo, / Pois quem deste esplendor se não guarnece, / Não é digno de ti, não te merece.
Manuel du Bocage

No amor não há desastre maior do que a morte da imaginação.
George Meredith

É certo, afinal de contas, que neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor.
Johann Goethe

A certeza de ser amado dá robustez a um espírito tímido, tornando-o natural.
André Maurois

Uma vez que o meu coração está morto, vivi mais que o suficiente.
Victor Hugo

Toda a alegria vem do amor, e todo o amor inclui o sofrimento.
Abílio Guerra Junqueiro

Temer o amor é temer a vida, e quem teme a vida já está três quartos morto.
Bertrand Russell

O mal nunca está no amor.
André Gide

O grande amor nunca pode acabar bem. Mesmo que ambos morram ao mesmo tempo, num desastre, será sempre uma tragédia. Assim é com todos os amores que temos: morremos enquanto os amamos. Morre quem amamos e, ao mesmo tempo, quem nos amava.
Miguel Esteves Cardoso

A paixão é, de facto, passiva; na paixão há um domínio do amado sobre o amante. Ter a paixão da física significa que somos inferiores à física. Ter o amor da física significa que somos nós a criar a física. Apaixona-se o fraco, o forte cria. Quando se ama, inventa-se inteiro o objecto amado, e daí o espanto de muitas das mulheres que homens grandes amaram; porque me escolheu ele, porque reparou em mim, porque me quis tanto?
Agostinho da Silva

Amar é mudar a alma de casa.
Mário Quintana

O amor é tão importante como a comida. Mas não alimenta.
Gabriel Garcia Márquez

Um verdadeiro amor é segunda inocência.
Camilo Castelo Branco

Só existe uma lei no amor; tornar feliz a quem se ama.
Stendhal

A maior parte das pessoas vê no problema do amor, em primeiro lugar, o problema de ser amado, e não o problema da própria capacidade de amar.
Erich Fromm

Procura amar enquanto vives. Não se encontrou nada de melhor.
Maxim Gorky

O amor pode ser uma dupla felicidade – a felicidade dos primeiros tempos, da total entrega, e a segunda felicidade, a felicidade das coisas reais, das formas, dos modos de sentir, da participação consciente de uma pessoa noutra.
Ruben A.

O amor é duas coisas ao mesmo tempo; uma, muito fraca, quebra à mínima oscilação; e outra, de uma fortaleza sobrenatural, aliada a um poder que vem das entranhas, força cósmica, para além das convenções, das leis morais, dos requisitos técnicos das religiosidades.
Ruben A.

O fogo do amor não consome nem destrói. Aquece, ilumina e aperfeiçoa.
José Luís Nunes Martins

O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram.
François de La Rochefoucauld

Há vários motivos para não amar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece.
Carlos Drummond de Andrade

O amor traz a liberdade. A lealdade traz a escravidão. Na aparência são iguais; no seu âmago, são exactamente o oposto.
Osho

O amor é fome de outra vida, desejo de transitar. Quando dois amantes se abraçam e beijam, entredevoram-se, morrem um no outro, de algum modo, e transitam para um novo ser. A vida não pode ficar em nós, a repetir-se, que repetir é estar parado, é ocupar o mesmo lugar.
Teixeira Pascoaes

Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção.
Antoine de Saint-Exupéry

As canções e os poemas ignoram tanto acerca do amor. Como se explica, por exemplo, que não falem dos serões a ver televisão no sofá? Não há explicação. O amor também é estar no sofá, tapados pela mesma manta, a ver séries más ou filmes maus. Talvez chova lá fora, talvez faça frio, não importa. O sofá é quentinho e fica mesmo à frente de um aparelho onde passam as séries e os filmes mais parvos que já se fizeram. Daqui a pouco começam as televendas, também servem.
José Luís Peixoto

A exigência mata o amor. A necessidade imensa que tens de companhia, de estar ao pé, de ternura, de já, de saber de ir perto do mais perto, de envolver o amor, de dares personalidade na loucura, essa necessidade mata o amor, estrangula, a liberdade é amor que rouba o livre amor, é tão bom que deita por fora, escalda.
Ruben A.

O amor acredita-se no supérfluo: quem ama pouco, contenta-se com o que basta: quem ama muito, contenta-se com o que sobeja; e quem ama mais que muito, nem com o que basta nem com o que sobeja se contenta, ainda sobe mais, ainda passa mais adiante.
Padre António Vieira

Tudo o que amamos profundamente converte-se em parte de nós mesmos.
Helen Keller

O prazer do amor é amar e sentirmo-nos mais felizes pela paixão que sentimos do que pela que inspiramos.
François de La Rochefoucauld

Os olhos são os intérpretes do coração, mas só os interessados entendem essa linguagem.
Blaise Pascal

O amor pela mulher rompe os laços colectivos criados pela raça, ergue-se acima das diferenças nacionais e das hierarquias sociais, e, fazendo-o, contribui em grande medida para os progressos da cultura.
Sigmund Freud

Exige-se, para o perfeito amor, que o amado ame o amante; que este ame, em si próprio, o amante que ama o amado e que o amado ama, o mesmo tendo de haver no correspondente. Que os amantes amem nos amados os amantes que a eles os amam. Ou, mais simples: que o amor se ame.
Agostinho da Silva

Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor – me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.
Eça de Queiroz

Bendito o dia. Bendita a hora. Bem digo eu, com o mais doce amor, que a hora em que a conheci e me apaixonei por ela foi a hora da minha glória, o momento mais sentido, aberto e despreocupado da minha vida. Ela não é como o calor. Ela é rara ser como ele, embora possa. Ela é como o clima; ela é como Portugal, de norte a sul e de litoral a interior. O meu amor nasceu ontem. Eu nasci um segundo depois.
Miguel Esteves Cardoso

Nós nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Somente através do amor e das amizades é que podemos criar a ilusão, durante um momento, de que não estamos sozinhos.
Orson Welles

Amor não se conjuga no passado, ou se ama para sempre ou nunca se amou verdadeiramente.
Fernando Pessoa

O amor diz-se na originalidade da obra que é a vida de cada um de nós.
José Luís Nunes Martins

Podes cortar todas as flores mas não podes impedir a Primavera de aparecer.
Pablo Neruda

O amor não se define; sente-se.
Séneca

O amor verdadeiro é tranquilo como um céu azul, apesar de conter e palpitar trovoadas de esperança.
José Luís Nunes Martins

A propriedade da quantidade é poder-se sempre dividir e a propriedade do amor é querer-se sempre dar todo.
Padre António Vieira

Um homem sensato pode apaixonar-se como um doido, mas não como um tolo.
François de La Rochefoucauld

O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.
Fernando Pessoa

Algum desgosto prova muito amor, mas muito desgosto revela demasiada falta de espírito.
William Shakespeare

Quando amamos, o nosso amor é tão grande que é suficiente estarmos sentados de mãos dadas, sem pronunciarmos uma única palavra.
Osho

O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.
Albert Camus

Amar é saborear nos braços de um ente querido a porção de céu que Deus depôs na carne.
Victor Hugo

Vai sempre avante a paixão, / Buscando seu doce fim; / Os amantes são assim: / Todos fogem à razão.
Manuel du Bocage

Amor em sendo ditoso / Costuma ser imprudente, / E nos gestos de quem ama / Logo o vê quem o não sente.
Manuel du Bocage

Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos.
Victor Hugo

O amor não se manifesta no desejo de fazer amor com alguém, mas no desejo de partilhar o sono.
Milan Kundera

O amor é mestre, mas é preciso saber adquiri-lo, porque se adquire dificilmente, ao preço de um esforço prolongado; é preciso amar, de facto, não por um instante, mas até ao fim.
Fiodor Dostoievski

Sentir o amor das pessoas que nós amamos é um fogo que alimenta a nossa vida.
Pablo Neruda

Amar é ultrapassarmo-nos.
Oscar Wilde

Perdoa-se na medida em que se ama.
François de La Rochefoucauld

Só se ama o que não se possui completamente.
Marcel Proust

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Miguel Esteves Cardoso

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
Miguel Esteves Cardoso

Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido.
Jean Rostand

Se a situação (Snu Abecassis) for considerada incompatível com as minhas funções, escolherei a mulher que amo.
Francisco Sá Carneiro

O amor não tem idade; está sempre a nascer.
Blaise Pascal

Que o amor não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes

Para que nada nos separe, que nada nos una.
Pablo Neruda

O amor é a única flor que brota e cresce sem a ajuda das estações.
Khalil Gibran

Nunca julgamos aqueles a quem amamos.
Jean-Paul Sartre

Quando escrever um livro

A inspiração é o ingrediente-chave para escrever um livro best-seller

Os livros foram feitos para ser escritos, publicados e vendidos.

Os melhores livros de todos os tempos têm sido escritos em momentos cruciais da história das civilizações, ou nas datas mais importantes da vida de homens e mulheres.

Os escritores deixam-se inspirar pela vida, pelos seres humanos, pelos animais, natureza e objectos.

Mas, haverá uma hora especial do dia para escrever um livro?

A resposta é “sim”. Mas, há mais. Os livros resultam de um desejo de partilha de ideias, crenças, conhecimentos e sentimentos.

O “gatilho” para os escritores de livros é muitas vezes um acontecimento emocional – nascimento, morte, mudança, trauma – ou um evento racional – para ensinar, para marcar a história, partilhar conhecimento, etc.

Se está prestes a escrever o primeiro livro da sua vida, procure sentir qual o momento certo para agarrar a caneta ou bater o teclado do computador.

Os Melhores Horários

Tecnicamente, e de um ponto de vista médico, escrever um livro é mais fácil logo após o café da manhã.

Os cérebros humanos estão “mais frescos” na parte da manhã, depois de uma boa noite de sono.

É mais fácil coordenar e gerir ideias com os primeiros raios de sol. Naturalmente, muitos conhecidos escritores laureados com Prémio Nobel já afirmaram que a noite é o melhor momento para escrever um livro. Pode ser.

Escrever um livro ao final da noite é algo inspirador para muitos escritores de best-sellers e amantes de livros.

O silêncio e a escuridão da noite são regularmente citados como os melhores momentos do dia para produzir um livro apaixonante.

O exercício físico regular, bem como boas práticas alimentares, ajudam ao foco na tarefa da escrita.

Procure igualmente conseguir uma agenda flexível para manter o ritmo de escrita bem vivo. Não vai querer forçar a inspiração, mas o pragmatismo e eficácia são regras muito importantes.

Tempo de Escrita

Definir um tempo certo também pode ser útil, a menos que esteja realmente embalado nos afazeres das letras.

Planear sessões de 45 minutos de escrita, intercalados por pausas de 10 minutos, é um bom conselho. Escrever um livro não deve ser uma maratona desgastante.

As palavras e os caracteres vão começar a fluir.

Se está a escrever uma novela, um romance, um livro de ficção histórica ou uma biografia, certifique-se que cumpre algumas regras.

Socializar com a família e os amigos, passear o cão e dormir sete horas são algumas obrigações fundamentais.

No dia seguinte, antes de iniciar sua sessão de escrita, dê uma olhadela rápida pelas frases escritas no dia anterior, de forma a ligar-se com as ideias mais frescas.

A inspiração para escrever livros é apenas uma questão de tempo.

Como escrever um livro

Aprenda os passos básicos para se tornar um best-seller

Escrever um livro envolve o trabalho e método. Os novos escritores levantam sempre a mesma questão: como se escreve um livro?

Felizmente, a escrita é algo acessível a qualquer pessoa. Um livro é uma colecção de ideias, memórias, pensamentos e emoções.

Há muitas maneiras de conseguir colocar um livro novo nas prateleiras das livrarias mais importantes do mundo.

Para começar a escrever um livro, não precisa de um título, índice ou sumário. Pode começar a escrever simplesmente porque teve algumas ideias interessantes.

Já pensei em começar por tirar algumas notas ou apontamentos?

Se está a tomar o primeiro café da manhã, comece a escrever alguns tópicos ou parágrafos completos.

A página branca de um livro pode ser escrita em qualquer lugar e a qualquer hora. Se não está com pressa para terminar o livro, deixe que o tempo inspire as suas próprias palavras.

Algumas pessoas preferem escrever frases curtas, de modo a que as ideias mais longas comecem a surgir mais tarde.

Também é muito importante acreditar no que está a fazer. Escrever um livro é sempre algo de muito pessoal, e as suas palavras expressam crenças.

Evite julgar-se a si mesmo e às suas palavras. Deixe a caneta fluir no papel.

Há um bom método para os escritores que gostam de organização e disciplina. Aqui estão os passos básicos para escrever um livro com um plano bem estruturado:

1. Encontre um título que represente a ideia geral e resuma o livro que quer escrever. Assim, já tem um título provisório para arrancar;

2. Escreva um breve resumo do livro que conte a história do seu trabalho em dois parágrafos;

3. Faça uma lista de vários capítulos e sub-capítulos que podem integrar o seu livro;

4. Comece a escrever as primeiras palavras e linhas do seu livro, desde o início da história;

5. Assim que o livro entre num bom ritmo de escrita, reveja o índice provisório e corrija o que achar que deve ser corrigido;

6. Gira os tempos de escrita. Tente identificar os melhores momentos para levar o livro para a frente. Depois do almoço? Ou será que a caneta flui melhor à noite?;

7. Nunca perca uma ideia. Mesmo ps piores momentos podem iluminá-lo com alguns novos pensamentos. Anote-os no computador, telemóvel ou moleskine;

8. Mantenha o ritmo de escrita. Se acha que se sente confortável ao escrever duas páginas A4 por dia, procure disciplinar-se para manter este ritmo de escrita;

9. Não estabeleça um número pré-definido de páginas para o livro. Não existe um número mágico. Menos pode ser mais;

10. Releia e reveja a primeira edição do livro, mas apenas uma semana depois de escrever a última frase.

O bloqueio de escritor só acontece na mente.

Sim, você pode escrever um livro e sim, você pode escrever um livro best-seller.

Avance e deixe fluir livremente as ideias. Um livro tem um começo e um fim.

Como publicar um livro

As vantagens da autopublicação e da edição clássica de livros

Acabou de escrever um livro e pretende publicá-lo?

Felizmente, existem duas excelentes formas de comercializar o seu novo livro: a autopublicação ou vender o seu livro a uma editora.

Hoje em dia é mais fácil vender o seu próprio livro. Os canais digitais foram melhorados e os leitores tradicionais estão a transformar-se em leitores de livros electrónicos, os designados eBooks.

Existem vários formatos digitais através dos quais o seu novo trabalho pode ser publicado. O mais simples é, claro está, texto corrido simples de processador, mas a sua obra merece melhor.

Formatos como .PDF, ePub, HTML, Mobipocket, Kindle, Multimedia eBook, Newton Book, eReader, Plucker e Post Script são capazes de alargar o número de leitores que vai ter, em diversas plataformas.

As vantagens da autopublicação são muitas. Se publicar o seu próprio livro, não vai ter rejeições de editoras comerciais, vai aumentar as receitas das vendas e poderá rapidamente colocá-lo no mercado.

A Amazon, por exemplo, criou uma editora online que pega no seu novo livro e comercializa-o em mercados mais vastos, chegando por isso a milhões de leitores electrónicos.

Em conclusão, a autopublicação permite controlar o conteúdo, a paginação, o design, o formato, o preço, os direitos, o marketing e a comunicação do seu mais recente livro.

Claro que haverá sempre a tradicional forma de publicação de livros, em que uma terceira parte é responsável por praticamente todo o processo de edição.

As editoras clássicas tratam de tudo. Além disso, tem o privilégio e o prazer de tocar num livro e nas suas páginas. Ver o seu livro nas estantes é sempre um momento emocionante.

As editoras de livros podem apresentar-lhe um cheque que funciona como vínculo e adiantamento sobre vendas futuras de livros.

A melhor maneira de conseguir uma boa editora é listar todas as empresas nacionais e entregar-lhes uma cópia do seu trabalho.

Posteriormente, analise as melhores ofertas e certifique-se de que está promovendo o seu livro numa grande variedade de canais, tais como jornais, revistas, televisões, redes sociais e blogues.

Tome uma decisão e torne-se um best-seller.

Citações de Eça de Queiroz

A agricultura aqui (em Portugal) é a arte de assistir impassível ao trabalho da natureza.

A alma modela a face, como o sopro do antigo oleiro modelava o vaso fino.

A arbitragem – que até aqui, neste período de crise comercial, tem servido apenas para decidir reduções de salário, servirá um dia quando a prosperidade renascer, para decidir os aumentos de salário. O meio legal de que se têm utilizado os patrões – para fazer baixar os salários – será um dia o mesmo de que se servirão os operários para os fazer subir.

A arte é tudo porque só ela tem a duração – e tudo o resto é nada! As sociedades, os impérios são varridos da Terra, com os seus costumes, as suas glórias, as suas riquezas.

A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação.

A arte idealista esquece que há no homem – nervos, fatalidades hereditárias, sujeições às influências determinantes de hora, alimento, atmosfera, etc.; irresistíveis «teimas» físicas, tendências de carnalidade fatais; resultantes lógicas de educação; acções determinantes ao meio, etc., etc.

A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida – que é não ser apagada de todo pela morte.

A arte, para os que não se enclausuraram todos nela como nos muros de um mosteiro, poetiza singularmente a existência.

A canção, expressão da melancolia, do amor, do entusiasmo, só morrerá se estes sentimentos morrerem; ela é, como o suspiro, como o grito, um dos movimentos naturais da alma.

A caricatura é mais forte que as restrições e que as proibições. É imortal porque é uma das facetas daquele diamante que se chama verdade.

A caricatura é o espelho que engrossa as feições e torna os objectos mais salientes.

A ciência realmente só tem alcançado tornar mais intensa e forte uma certeza: – a velha certeza socrática da nossa irreparável ignorância. De cada vez sabemos mais – que não sabemos nada.

A civilização é um sentimento e não uma construção: há mais civilização num beco de Paris do que em toda a vasta New York.

A complicada abundância da nossa civilização material, as nossas máquinas, os nossos telefones, a nossa luz eléctrica, tem-nos tornado intoleravelmente pedantes: estamos prontos a declarar desprezível uma raça, desde que ela não sabe fabricar pianos de Erard; e se há algures um povo que não possua como nós o talento de compor óperas cómicas consideramo-lo ipso facto votado para sempre à escravidão…

A consciência nem todos têm a honra de a conhecer; a consciência é o que quer que seja de vago e de impalpável, de que nós devemos falar como duma figura diáfana de legenda antiga.

A cordialidade é a quarta virtude teologal, apesar de não vir mencionada na cartilha.

A criança portuguesa é excessivamente viva, inteligente e imaginativa. Em geral, nós outros, os Portugueses, só começamos a ser idiotas – quando chegamos à idade da razão. Em pequenos temos todos uma pontinha de génio.

A curiosidade, instinto de complexidade infinita, leva por um lado a escutar às portas e por outro a descobrir a América; – mas estes dois impulsos, tão diferentes em dignidade e resultados, brotam ambos de um fundo intrinsecamente precioso, a actividade do espírito.

A distância actua sobre a emoção exactamente como actua sobre o som. A mesma dura lei física rege desgraçadamente a acústica e a sensibilidade. É sempre em ambas o idêntico e tão racional princípio das ondulações, que vão decrescendo à maneira que se afastam do seu centro, até que docemente se imobilizam e morrem: se elas traziam um som que vinha vibrando – o som cala quando elas param: se traziam um terror que vinha tremendo – o terror finda quando elas findam.

A escola não deve ter a melancolia da cadeia. Pestallozi, Froebel, os grandes educadores, ensinavam em pátios, ao ar livre, entre árvores. Froebel fazia alterar o estudo do ABC e o trabalho manual; a criança soletrava e cavava. A educação deve ser dada com higiene. A escola entre nós é uma grilheta do abecedário, escura e suja: as crianças, enfastiadas, repetem a lição, sem vontade, sem inteligência, sem estímulo: o professor domina pela palmatória, e põe todo o tédio da sua vida na rotina do seu ensino.

A felicidade no amor dá tudo, até as boas cores.

A gente nunca sabe se o que lhe sucede é, em definitivo, bom ou mau.

A inquietação pela desconfiança de que se não é suficientemente amado – é já uma das mais certas provas de que se ama um pouco, ou de que se começa a amar um pouco.

A luta pelo dinheiro é santa – porque é, no fundo, a luta pela liberdade: mas até uma certa soma. Passada ela – é a tristonha e baixa gula do ouro.

A melhor prosa, a mais perfeita, a mais lúcida, a mais lógica, a que tem sido a grande educadora literária e tem civilizado o mundo, é feita com meia dúzia de vocábulos que se podem contar pelos dedos.

A rotina, numa das suas formas mais estúpidas, é a persistência caturra numa primeira impressão.

A separação (temporária) tem isto de bom – que põe em relevo e torna interessantes mil pequenas coisas da vida daqueles que amamos – que até aí, todos os dias vistas, quase se não percebiam.

Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo vem em caixotes pelo paquete. A civilização custa-nos caríssimo, com os direitos de Alfândega: e é em segunda mão, não foi feita para nós, fica-nos curta nas mangas…

As crianças são os únicos seres divinos que a nossa pobre humanidade conhece. Os outros anjos, os das asas, nunca aparecem. Os santos, depois de santos ficam na Bem-Aventurança a preguiçar, ninguém mais os enxerga. E, para concebermos uma ideia das coisas do Céu, só temos realmente as criancinhas…

As datas, e só elas, dão verdadeira consistência à vida e à sorte. Um bem que nos veio no dia 17 de Agosto, que era uma quarta-feira, fica alumiando a nossa alma com uma claridade muito diferente do bem que nos sucedesse, incertamente, no tempo, sem dia e sem data.

As dívidas serviram, diz-se, a excitar o génio de Dickens e Balzac: não encontrando em mim um génio a excitar, vingam-se da humildade do seu papel torturando-me.

As duas qualidades mais preciosas em Arte, que mais raramente se reúnem: Realidade e Poesia.

As obras de arte devem falar «por si mesmas», explicar-se «por si mesmas», sem terem necessidade de pôr ao lado um cicerone. Acompanhar um livro de versos de crítica «já feita» é querer impor um guia à emoção do leitor. O leitor detesta isso.

As palavras são, como se diz em pintura, valores: para produzir, pois, um certo efeito de força ou de graça, o caso não está em ter muitos valores, mas em saber agrupar bem os três ou quatro que são necessários.

Com a mania francesa e burguesa de reduzir todas as regiões e todas as raças ao mesmo tipo de civilização, o mundo ia tornar-se numa monotonia abominável. Dentro em breve um touriste faria enormes sacrifícios, despesas sem fim, para ir a Tumbuctu – para quê? Para encontrar lá pretos de chapéu alto, a ler o Jornal dos Debates.

Com o longo volver dos tempos, os nobres génios que fizeram vibrar mais fortemente a alma do seu tempo, passam pouco a pouco a ser apenas – o estudo dos comentadores.

Contar histórias é uma das mais belas ocupações humanas: e a Grécia assim o compreendeu, divinizando Homero que não era mais que um sublime contador de contos da carochinha. Todas as outras ocupações humanas tendem mais ou menos a explorar o homem; só essa de contar histórias se dedica amoravelmente a entretê-lo, o que tantas vezes equivale a consolá-lo. Infelizmente, quase sempre, os contistas estragam os seus contos por os encherem de literatura, de tanta literatura que nos sufoca a vida!

Dados para a minha biografia – não lhos sei dar. Eu não tenho história, sou como a República do Vale de Andorra.

Diz-me o que comes, dir-te-ei o que és. O carácter de uma raça pode ser deduzido simplesmente do seu método de assar a carne. Um lombo de vaca preparado em Portugal, em França, ou Inglaterra, faz compreender talvez melhor as diferenças intelectuais destes três povos do que o estudo das suas literaturas.

Dos grandes génios vêm por vezes grandes males, e nunca vem senão bem de uma bondade honesta e grave.

Duas folhas de carta a ler já é uma boa conta, mesmo quando seja uma carta de amor.

E agora definia a consciência… segundo ele, era o medo da polícia… isto da consciência é uma questão de educação. Adquire-se como as boas maneiras.

É algumas vezes necessário, para fazer compreender uma certa relação, que se encham os termos da proporção. Muitas vezes é impossível ser compreendido por todos sem a condição de exagerar, de deformar, de desproporcionar.

É necessário acutilar o mundo oficial, o mundo sentimental, o mundo literário, o mundo agrícola, o mundo supersticioso – e com todo o respeito pelas instituições que são de origem eterna, destruir «as falsas interpretações e falsas realizações» que lhes dá uma sociedade podre. Não lhe parece Você que um tal trabalho é justo?

É o comer que faz a fome.

É o coração que faz o carácter.

Em arte, a copiosa, exuberante, luxuosa e florida fantasia cansa, esquece e passa – e só há eternidade para a beleza pura e simples.

Em política a caricatura é de boa guerra. É uma arma terrível, mas não desleal, porque, se exagera o falso, é para impedir que haja alguém que caia nele; a caricatura diz de mais para que nós digamos apenas o suficiente.

Em Portugal a emigração não é, como em toda a parte, a transbordação de uma população que sobra; mas a fuga de uma população que sofre.

Em Portugal quem emigra são os mais enérgicos e os mais rijamente decididos; e um país de fracos e de indolentes padece um prejuízo incalculável, perdendo as raras vontades firmes e os poucos braços viris.

Em todas as evoluções da arte, nós (portugueses) nunca aproveitamos com os princípios, e ficamos sempre com os maneirismos.

Esta expressão «Leitura», há cem anos, sugeria logo a imagem de uma livraria silenciosa, com bustos de Platão e de Séneca, uma ampla poltrona almofadada, uma janela aberta sobre os aromas de um jardim: e neste retiro austero de paz estudiosa, um homem fino, erudito, saboreando linha a linha o seu livro, num recolhimento quase amoroso. A ideia da leitura, hoje, lembra apenas uma turba folheando páginas à pressa, no rumor de uma praça.

Estou tagarelando muito. Acontece-me isto sempre que estou consideravelmente estúpido.

Eu já decidi que – «forretice», para nós outros portugueses, é ainda a única virtude que podemos cultivar com proveito. O único meio de ser feliz é ser independente – e o único meio de ser independente é ser forreta.

Eu não sou um moralista: sou um artista; o artista é um ser nefasto – que não é responsável pelas suas fantasias, nem pelas suas vinganças.

Eu sou um artista, não um crítico: não tenho análise tenho emoção.

Eu tenho a paixão de ser «leccionado»: e basta darem-me a entender o bom caminho para eu me atirar a ele. Mas a crítica, ou o que em Portugal se chama a crítica, conserva sobre mim um silêncio desdenhoso.

Hoje que tanto se fala em crise, quem não vê que, por toda a Europa, uma crise financeira está minando as nacionalidades? É disso que há-de vir a dissolução. Quando os meios faltarem e um dia se perderem as fortunas nacionais, o regime estabelecido cairá para deixar o campo livre ao novo mundo económico.

Isto poderá parecer estranho, mas as artes têm entre si uma profunda alma tão unida que as feições caracterizadoras duma são, por vezes, intimamente comparáveis às feições caracterizadoras da outra: nada mais parecido com a música de Mozart do que a pintura de Rafael; nada mais parecido com a poesia de Dante que a escultura de Miguel Ângelo. E porque não? Todas as feições se parecem a exprimir o amor, a curiosidade, o terror: as artes são apenas as feições do belo ideal.

Logo que na ordem económica não haja um balanço exacto de forças, de produção, de salários, de trabalhos, de benefícios, de impostos, haverá uma aristocracia financeira, que cresce, reluz, engorda, incha, e ao mesmo tempo uma democracia de produtores que emagrece, definha e dissipa-se nos proletariados.

Louvor bem entendido deve começar por nós, porque neste caso ele se torna uma verdadeira forma de caridade. Mal daqueles que, por humor sombrio ou desalento muito expansivo, se cobrem de cinza diante do mundo, porque o mundo imediatamente, por cima da cinza, os cobre de lama. A humildade só foi possível na Tebaida; e as próprias santas nunca se mostraram aos homens sem a pomposa auréola.

«Love me little, love me long». Há muita verdade neste lindo provérbio inglês. O que é violento é perecível. O que é calmo é duradouro. Um amor brusco e irreflectido, e com natureza de chama participaria da essência dessa primeira ilusão de que eu falei há pouco, e estaria condenado, como toda a chama, a consumir-se a si mesmo. É necessário que as coisas cresçam devagar e lentamente — para que durem muito.

Na arte só têm importância os que criam almas, e não os que reproduzem costumes.

Na arte, a indisciplina dos novos, a sua rebelde força de resistência às correntes da tradição, é indispensável para a revivescência da invenção e do poder criativo, e para a originalidade artística.

Nada dá tanta ideia da constância de carácter, como a firmeza de caminhar. Uma alemã, uma inglesa, anda como pensa – direita e certa. As nossas raparigas, constantemente sentadas e aninhadas, quando têm de se pôr a pé e de marchar, gingam e rolam.

Nada facilita mais uma civilização que um bom clima.

Nada há de mais ruidoso – e que mais vivamente se saracoteie com um brilho de lantejoulas – do que a política.

Não há nada tão ilusório como a extensão de uma celebridade; parece às vezes que uma reputação chega até aos confins de um reino – quando na realidade ela escassamente passa das últimas casas de um bairro.

Não pode haver ligação de almas onde não exista identidade de ideias, de crenças e de costumes.

Não se descuide de ser alegre – só a alegria dá alma e luz à Ironia, à Santa Ironia – que sem ela não é mais que uma amargura vazia.

Não, positivamente não há nada neste mundo «worth to live for» senão um cantinho de fogão doméstico, muito Amor junto dele, e muita Arte em torno, para tornar a vida interessante, poética e distinta. Possa Deus, na sua infinita bondade, permitir que seja esse o nosso Destino. Arte e Amor – com A grande! Eles merecem-no; são as duas expressões supremas da vida, completam-se um pelo outro, e fora deles tudo é nada!

Nas nossas democracias a ânsia da maioria dos mortais é alcançar em sete linhas o louvor do jornal. Para se conquistarem essas sete linhas benditas, os homens praticam todas as acções – mesmo as boas.

Nestas Democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornam mais secas e menos capazes de piedade.

No conto tudo precisa ser apontado num risco leve e sóbrio: das figuras deve-se ver apenas a linha flagrante e definidora que revela e fixa uma personalidade; dos sentimentos apenas o que caiba num olhar, ou numa dessas palavras que escapa dos lábios e traz todo o ser; da paisagem somente os longes, numa cor unida.

No terreno do dinheiro vence sempre quem tem mais dinheiro.

Nos amores deste mundo, desde Eva, há sempre «um que ama e outro que se deixa amar».

Nunca houve numa «vida única» uma «afeição única»: e se nos parece que há casos em que houve é que essa vida não durou o bastante para que a desilusão e a mudança se produzisse, ou quando se produziu ficou orgulhosamente guardada no segredo do coração que a sentiu.

O amor arrasta ao luxo, sobretudo amor de elegante idealismo.

O amor é essencialmente perecível, e na hora em que nasce começa a morrer. Só os começos são bons.

O amor espiritualiza o homem – e materializa a mulher.

O amor por si só é decerto uma companhia – mas não chega à companhia daquela que se ama.

O amor, (…), como tu sabes é feito de muitos sentimentos diferentes. Alguém escreveu, creio que até fui eu – que era uma bela flor com raízes diversas. Ora quando uma dessas raízes é a estima absoluta pode ele ao fim de longos anos secar pelas outras raízes mas permanecer vivo por essa.

O apreço exterior pela arte é a sobrecasaca da inteligência. Quem se quererá apresentar diante dos seus amigos com uma inteligência nua?

O Brasileiro é o Português – dilatado pelo calor.

O campo, na verdade, só é agradável com família, e toda a árvore é triste se na sua sombra não brinca uma criança.

O coração tem os seus «elans», mas a vida tem também os seus cerimoniais.

O esforço de toda a pessoa esclarecida neste mundo deve ser confirmar os Compêndios.

O homem nem sequer é superior ao seu venerável pai – o macaco: excepto em duas coisas tenebrosas – o sofrimento moral e o sofrimento social.

O homem põe tanto do seu carácter e da sua individualidade nas invenções da cozinha, como nas da arte.

O jornal exerce todas as funções do defunto Satanás, de quem herdou a ubiquidade; e é não só o pai da mentira, mas o pai da discórdia.

O melhor espectáculo para o homem – será sempre o próprio homem.

O meu espírito crítico é grosso, só apanha as coisas de enorme relevo.

O riso é a mais antiga e mais terrível forma de crítica.

O riso é a mais útil forma da crítica, porque é a mais acessível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa, ao imenso público anónimo.

O sentimento mais artificial posto num verso maravilhosamente feito é uma obra de arte: o mais verdadeiro grito de paixão num alexandrino desajeitado é uma sensaboria. Só há Beleza onde há Ordem.

O trabalho incessante, enorme, irrita e exagera o desejo das riquezas; aferventa o cérebro, sobreexcita a sensibilidade, a população cresce, a concorrência é áspera, as necessidades descomedidas, infinitas as complicações económicas, e aí está sempre entre riscos a vida social. Entre riscos, porque vem a luta dos interesses, a guerra das classes, o assalto das propriedades e por fim as revoluções políticas.

O verdadeiro comércio inspira virtudes próprias: a economia, a boa-fé, a exactidão, a ordem e actividade leal.

Os artistas só amam na natureza os efeitos de linha e cor; para se interessar pelo bem-estar de uma tulipa, para cuidar de que um craveiro não sofra sede, para sentir magoa de que a geada tenha queimado os primeiros rebentões das acácias – para isso só o burguês, o burguês que todas as manhãs desce ao seu quintal com um chapéu velho e um regador, e vê nas árvores e nas plantas uma outra família muda, por que ele é também responsável…

Os diletantes são-no geralmente de ideias ou de emoções – porque para compreender todas as ideias ou sentir todas as emoções basta exercer o pensamento ou exercer o sentimento, e todos nós, mortais, podemos, sem que nenhum obstáculo nos coarcte, mover-nos liberrimamente nos ilimitados campos do raciocínio ou da sensibilidade.

Os Franceses dizem: é necessário uivar com os lobos. Eu digo: é útil balar com os carneiros; ganha-se a estima dos nédios, as cortesias dos chapéus do Roxo, palmadinhas doces no ombro, de manhã à noite uma pingadeirazinha de glória. Mas ir sacudir, incomodar o repouso da velha Tolice Humana, traz desconfortos; vêm as calùniazinhas, os ódiozinhos, os sorrisos amarelos, a cicuta de Sócrates às colheres.

Os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade.

Os tristes, os deserdados, os pobres, os oprimidos, quando tudo lhes falta, o pão, o lume, o vestido, têm sempre, no fundo da alma, uma cantiga pequena que os consola, que os aquece, que os alegra. É a última coisa que fica no pobre. E então a cantiga vale mais do que todos os poemas.

Para aparecerem no jornal, há assassinos que assassinam.

Para chorar é necessário ver. A mais pequenina dor que diante de nós se produza e diante de nós gema, põe na nossa alma uma comiseração e na nossa carne um arrepio, que lhe não dariam as mais pavorosas catástrofes passadas longe, noutro tempo ou sob outros céus.

Para ensinar há uma formalidade a cumprir – saber.

Para ter um gosto próprio e julgar com alguma finura das coisas de arte é necessária uma preparação, uma cultura adequada. E onde tem o homem de trabalho, no nosso tempo, vagares para esse complicada educação, que exige viagens, mil leituras, a longa frequentação dos museus, todo um afinamento particular do espírito? Os próprios ociosos não têm tempo – porque, como se sabe, não há profissão mais absorvente do que a vadiagem. Os interesses, os negócios, a loja, a repartição, a família, a profissão liberal, os prazeres não deixam um momento para as exigências de uma iniciação artística.

Para todo o homem, mesmo o mais culto, a humanidade consiste especialmente naquela porção de homens que residem no seu bairro. Todos os outros restantes, à maneira que se afastam desse centro privilegiado, se vão gradualmente distanciando também em relação ao seu sentimento, de sorte que aos mais remotos já quase os não distingue da natureza inanimada.

Pensar e fumar são duas operações idênticas que consistem em atirar pequenas nuvens ao vento.

Porque, enfim, o que é o Brasileiro? É simplesmente a expansão do Português.

Preciso conselhos, direcções, preciso «conhecer-me a mim mesmo» – para perseverar e desenvolver o bom, evitar o mau, ou modificá-lo e disfarçá-lo: Mas há lá coisa mais difícil? Que se conheça a si mesmo – o homem que não tira os olhos de si mesmo, é quase impossível: anquilosa-se a gente num certo feitio moral, de que não sai.

Quando se quer mostrar a beleza de um cristal, movendo-o muito com os dedos – quase sempre se finda por lhe empanar a transparência e o brilho casto.

Quando uma civilização se abandona toda ao materialismo, e dele tira, como a nossa, todos os seus gozos e todas as suas glórias, tende sempre a julgar as civilizações alheias segundo a abundância ou a escassez do progresso material, industrial e sumptuário.

Que escrúpulo pode ter uma mulher em beijocar um terceiro entre os lençóis conjugais, se o mundo chama a isso sentimentalmente um romance, e os poetas o cantam em estrofes de ouro?

Quem melhor do que eu sabe, que o coração, depois de despertar, tem hesitações e tem enganos – até que se fixa?

Quem sem descanso apregoa a sua virtude, a si próprio se sugestiona virtuosamente e acaba por ser às vezes virtuoso.

Reconstruir é sempre inventar.

Ser bacharel – uma qualidade que se exige para tudo, e que se não respeita para coisa nenhuma.

Ser espirituoso é metade de ser diplomata.

Toda a virtude que entre os homens se manifesta, logo que lhes arranca uma admiração, é mais cheia de perigos que um aroma muito sensual, ou um canto muito amoroso. A mais humilde esmola, a chaga de um mendigo que se lava, uma simples consolação, desde que se mencionem, são perigos terríveis para a alma, porque a persuadem da sua caridade e excelência. Pelo bem que semeamos nos outros, só colhemos dentro em nós orgulho – e cada obra da nossa caridade desmancha a obra da nossa humildade.

Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor – me parece agora vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.

Um artista é pior que uma mulher – e um artista escandalizado na sua vaidade de colorista e estilista é capaz das maiores infâmias.

Um homem de letras, que não escreve as suas memórias, tem realmente direito a que os outros lhas não escrevam.

Um homem de letras, que não escreve as suas memórias, tem realmente direito a que outros lhas não escrevam.

Um livro de contos é um livro ligeiro de emoções curtas: deve portanto ser leve, portátil, fácil de se levar na algibeira para debaixo de uma árvore, e confortável para se ter à cabeceira da cama. Não pode ter o formato dum relatório, que, sendo destinado em definitivo a embrulhar objectos, deve ter de antemão o tamanho cómodo do papel de embrulho; nem pode ter o volume dum calhamaço de erudição histórica, impresso com o fim de ornamentar uma biblioteca.

Vitor Hugo afirmava que só existiam duas coisas verdadeiramente grandes – o génio e a bondade: Michelet acrescentava que dessas duas grandezas só uma era verdadeiramente real – a bondade. Decerto estes dois homens, supremamente bons e geniais, entendiam por bondade – aquela virtude activa que, pela elevação e amplitude das suas manifestações, participa do heroísmo.

Citações de Manoel de Oliveira

A arte é especial. Há uma só lei: o tempo. O tempo é o grande juiz, é o grande juiz de tudo.

A boa-fé é muito perigosa, é uma abertura a todo o tipo de vigarices. Por boa-fé, a gente confia, e o finório aproveita-se sempre dessa circunstância.

A crítica é indispensável. Mais importante ainda é um complemento. Por isso, o filme só está acabado depois de ser visto. Por algum público e de preferência pelos críticos. São eles que vão acabar o filme. Como há muito de inconsciente no trabalho de um artista, é o crítico que vai buscar esse lado, de que o artista nem se deu conta.

A imagem é uma coisa muito concreta, mas serve para mostrar coisas imateriais. Veem-se fantasmas, personagens que deixaram de existir, que talvez já estejam mortas, mas que têm ali uma aparência de corpos concretos. (…) O cinema é um fantasma da vida que não nos deixa senão uma coisa sensível, concreta: as emoções.

A juventude é um tempo extraordinário em que as pessoas desconhecem que estão verdadeiramente a viver. Só com o passar dos anos é que nos apercebemos dos momentos extraordinários já vividos.

A memória é muito caprichosa, fixa umas coisas e não fixa outras. Fixa uma coisa que aparentemente não vale nada e esquece uma coisa que é muito forte. O que retemos na memória é aquilo que o capricho dela reteve, não aquilo que a gente quis reter. Outras vezes há passagens de que a gente não gostaria de falar. Há sempre um segredo, cada um tem um segredo, qualquer coisa que não gosta de ver revelado.

A nossa memória está nos livros, nas pinturas e nos filmes. Dizia Arturo Ripstein, um realizador mexicano, que os governos deviam ajudar os realizadores não por favor mas por obrigação, porque o cinema é o espelho da vida, não temos outro.

A paixão é uma perturbação, o amor é real, é absoluto, é uma coisa estranha. A paixão dá sempre força a um lado, ou é da mulher ou é do homem. O desejo é fazer dos dois, um.

A política é uma coisa que tem de interessar as pessoas, porque nós vivemos debaixo dela, portanto estamos interessados na acção dela: que não nos incomode, que não nos perturbe, que não nos chateie…

A santidade está ligada ao sentido verdadeiro de liberdade, é o desprendimento total das coisas terrenas. Agora, se está preso pelo dinheiro, por uma paixão, pelo desejo de uma mulher, por isto, por aquilo, anda sempre agarrado a esta porcaria que é o campo terreno.

A televisão é diferente. A televisão é pública e o cinema é cativo, privado. A televisão pode passar o cinema ou uma peça de teatro, mas a sua função é pública, é mostrar os acontecimentos que correm, como um jornal, quase.

A televisão, que mostra sobretudo pornografia, ou violência, tiros, “mata e esfola”. As mulheres trabalham e não estão ao lado dos filhos que ficam, sozinhos, a ver televisão. Hoje em dia há uma perda enorme de valores.

A vida é uma derrota. A gente vive na derrota. Nasce contra vontade, e não é senhor do seu destino.

A vida não mudou absolutamente nada, é exactamente aquilo que era antes. O que evoluiu, que tem evoluído, e muito, é o progresso. O progresso é que evoluiu extraordinariamente.

As conquistas mais importantes, depois da Segunda Guerra Mundial, são as trágicas, as que destroem a natureza. Essa porcaria dos transgénicos, por exemplo, que estão sobrecarregados de químicos para que os bichos não lhes peguem. E quando os bichos não pegam, isso é um péssimo sinal.

As telenovelas são muito ricas, muito bonitas, e eu gosto da diversidade. Não sou nada contra o filme comercial. A gente dos filmes comerciais é que é sempre contra o cinema como arte. Mas eu não. Sou apologista da variedade, mesmo no cinema artístico. Penso que a personalidade do realizador é que é a marca da originalidade. Não há outra.

Às vezes acusam-me de que meus os filmes são muito falados. Ora, falados são os filmes americanos, e falam sem dizer nada. Ao menos os meus filmes dizem alguma coisa porque eu escolho textos ricos, bons, profundos, mais difíceis naturalmente. Mas a imagem é formidável.

Chegámos a este momento, ao problema económico do capitalismo e dos bancos. É um obstáculo da vida e da sociedade mundial. Um obstáculo bastante alto mas devemos dar o pulo e saltar para o outro lado.

Como realizador, estou preso ao contexto. Posso fazer tudo o que quiser, mas sempre dentro do contexto. E do contexto dos filmes da Agustina eu nunca saí. Como do Régio ou do Camilo, também nunca saí. Esse é o meu respeito pelos autores, que é muito forte. Mas eu faço cinema, não faço literatura.

Como sopa, de legumes. Porque um cientista, que fez um exame à nutrição dos americanos que deixaram de comer sopa às refeições, declarou que se eles retomassem a sopa diminuiriam o cancro em mais do que 50 por cento. Também gosto de sopa de peixe…

Creio que o amor por uma paisagem pode ser sensual. Muitas coisas relevam da sexualidade. É um abismo. Mesmo a morte é um ato sexual, o mais virtuoso, o mais belo, o último.

Da vida vem o teatro e do teatro vem o cinema. Mas na vida já se representa.

Desconfio sempre da imaginação. (…) Todos os meus filmes são histórias de agonia, da agonia no seu sentido primeiro, no sentido grego, “a luta”.

É mais importante a saúde do que o dinheiro. Uma pessoa com saúde pode dormir na soleira de uma porta. E um ricalhaço doente pode não ter posição na cama.

É preciso que as pessoas estejam profundamente bem-educadas. A Educação é fundamental. No aspecto das prioridades governamentais, por exemplo, penso que o que deve estar em 1º lugar é a Saúde. Um país sem Saúde não vale nada. Em 2º lugar está a Educação e a seguir a Arte porque é o complemento da Educação, é a condição humana. É essencial conhecer isto, sem isto não se pode funcionar. E depois vem o resto…

É um desejo utópico, é um desejo profundo no homem: um bem-estar, e não esta inquietude permanente de guerras.

Estive agora no México e vi escrito nas paredes de um museu um pensamento dos maias, muito simples, muito correcto, mas ao mesmo tempo perfeito, profundo. Dizia: “Semeia para colheres, colhe para comeres, come para viveres”. É um fundamento da vida. A gente vive no sentido inverso: vive para comer, come para colher e colhe porque semeia. Aqui põe-se o problema do que transcende isso.

Estou a fazer filmes há uns bons anos e muito do que levo para o cinema nasce de uma reflexão generosa, de aprendiz, que faço da literatura. Tudo nesta vida que levamos tem uma duração estabelecida, um momento para acabar, incluindo os valores monetários, menos as histórias que contamos. As histórias que os livros nos contam duram para sempre e o mesmo espero das histórias trazidas pelo cinema.

Estou habituado a que recebam mal os meus filmes e isso não me altera, nem altera nada do que penso sobre o cinema. Eu reprovo o prémio da competição.

Estupidamente, agora as governações proíbem o milho e acaba por se passar fome. Aqui há tempos faltava o milho e ficou tudo aflito. Agora já se pode cultivar milho outra vez. É incompreensível este desprezo pela natureza, da qual nós dependemos inteiramente.

Eu acho que no artista, e mesmo fora do artista, na vida, o subconsciente resolve muita coisa e trabalha tudo. E de vez em quando atira uma coisa para o consciente. Está tudo guardado nessa grande mala que herdamos, que vem no sangue.

Eu admiro os santos, muito mais do que os revolucionários. (…)Porque os santos jogam no abstracto.

Eu era muito tímido, reservado, tinha medo daquilo que dizia, medo que aquilo não fosse certo. Mas sobre o que era cinema, sabia muito bem o que queria e o que não queria, muito mais do que agora! Agora tenho mais dúvidas. O mundo mudou, as coisas mudaram e eu também mudei.

Eu não me prendo aos objetos. Prendo-me mais às pessoas. Quando viajo levo só o computador, não tenho nenhum fetiche.

Eu não sou representante do cinema português. O cinema português é um conjunto de realizadores, e da soma deles – dos bons, claro – é que se retirará um efeito como o da literatura ou da pintura.

Fiz muitas asneiras. Nunca tive um desastre mortal de automóvel, e hoje surpreendo-me: o que tive, realmente, foi muita sorte. Tive o meu anjo da guarda protector, que é o destino. O anjo da guarda e o destino são uma e só coisa.

Fui simpatizante com as ideias comunistas. Mas isso era se elas se realizassem. Mas o que aconteceu foi o contrário.

Há (em Portugal) realizadores muitíssimo bons, e devia ser mais desenvolvido e exportado em força, o que dava entrada de dinheiro! Eu dizia, na proporção de um país pequeno, pobre e na situação em que está, que o nosso cinema merecia uma ajuda para que os filmes corressem mundo e fossem também uma entrada económica de resultados.

Há um poeta português que disse que o espírito é como o ar que se respira. Eu fiquei com essa ideia. E, ultimamente, há um outro escritor que diz que o espírito é como o ar que se respira. Fiquei muito emocionado nesse livro, que eu li era muito novo. Fiquei sempre a pensar… E agora, pensando melhor, realmente, quando se morre, solta-se o espírito. O espírito é como o ar que sai. E o espírito sai e junta-se. Ao sair, perde a personalidade, onde está todo o bem e todo o mal, liberta-se desse bem e mal e junta-se ao absoluto, que é a configuração do espírito, o absoluto. É Deus.

Há uma coisa que gostei de ouvir do Fellini: tinha uma grande admiração pelas pessoas que falham e persistem. Persistem com a mesma vontade, ou mais forte, com a ideia de alcançarem a finalidade última. Considero-me um pouco dentro dessa classe.

Hoje quer-se fazer a globalização, mas de quê? Fazer tudo por igual? Juntar tudo: um só rei, um só Papa, como nas palavras do Padre António Vieira. Há esse desejo utópico. Mas é difícil chegar lá. Perdem-se pelo caminho, tem-se hesitações e há um retorno à Idade Média, em inverso. Agora são os árabes a quererem destruir o mundo ocidental.

Hoje vai-se ver filmes cada vez mais à pressa, cada vez com menos atenção, não exatamente predisposto a confiar [na projeção], a não ser nos efeitos especiais e nos efeitos sonoros espetaculares. A projeção já não chega. A crença no cinema está muito diminuída, [e isso] é terrível porque o que há de mais belo no homem é a sua humanidade, a sua capacidade de confiar nos outros, de ver a imagem dos outros.

Hoje, depois de muitas décadas, já percebo que a minha vocação nesta vida é dirigir filmes. E os meus filmes falam sobre valores que vão além do dinheiro. O meu filme busca saber se existe alma. O tempo… o tempo eu sei que existe. E talvez eu filme como filmo para contemplar o tempo.

Na Europa há um mito histórico e religioso. A União Europeia tende para isso: um só comando genérico e uma só fé que é posta na democracia. Tira-se a religião um pouco para o lado e estabelece-se uma democracia generalizada, a união da Europa com um mesmo fim: um só rei e um só papa. É o mito que se está a tornar uma realidade actualmente com Bruxelas no centro da União Europeia. Acho que é óptimo mas é muito difícil porque há diferentes climas nas regiões, há diferentes idiossincrasias, diferentes línguas. É sempre muito difícil tornar uma coisa acessível a toda essa diversidade.

Nada é verdadeiramente satisfatório. Mesmo a arte a que um artista é vocacionado, e sobre a qual e para a qual vive, está sempre aquém do seu desejo.

Não é normal a ligação mulher com mulher e homem com homem. Mas é tolerável. Eles que façam lá o que entenderem. Mas o casamento tem um único fim: preservar a continuidade da espécie.

Não gosto até da palavra espectador. Ou melhor, da palavra eu gosto. Não gosto é do público, da palavra “público” é que não gosto muito. Porque públicas são as cadeiras do cinema; são públicas. Agora, as pessoas que se sentam nelas, são pessoas, verdadeiramente pessoas, e cada um é distinto do outro. Cada um é um ser autêntico, e, portanto, nem todos estarão aptos ou sensíveis a uma sinfonia, a um trabalho qualquer, seja de que ordem for.

Não há movimento sem tempo. Mesmo parado, o tempo passa, não é preciso que se mova, porque tudo se move, o tempo corre. O tempo é movimento em si. E a imagem…

Não há outra forma de arte que se aproxime mais da vida do que o cinema. E o cinema é também uma síntese de todas as artes – como a própria vida, que contém em si todos os aspectos –, seja a escultura, a pintura ou a própria música.

Não me sinto realizado. Estou a tentar realizar-me neste curto espaço que me resta.

Não uso telemóvel, felizmente. É um vício. Ao contrário do que pensam, as pessoas perdem capacidade de comunicação. Eu fiz um filme sobre isso [a curta-metragem Do Visível ao Invisível].

Não, não olho para o que fiz. Olho para o que vou fazer. Esta é a minha ocupação. Quando me perguntam sempre “qual é o filme que gosta mais”, respondo: é o que vou fazer agora.

Nenhuma arte simula a vida como o cinema. Todavia, não é uma vida. Também não é propriamente uma arte. Porque é uma acumulação, uma síntese de todas as artes. O cinema não existia sem a pintura, sem a literatura, sem a dança, sem a música, sem o som, sem a imagem, tudo isto é um conjunto de todas as artes, de todas sem exceção.

Ninguém nasceu por vontade própria. Somos lançados ao mundo, temos que gramar isto quer queiramos, quer não. Estamos submetidos às forças enigmáticas da natureza, ligados umbilicalmente com a natureza, somos do mesmo processo. Dentro de nós há o mesmo que aconteceu no sudoeste da Ásia: quando estamos irados, é uma tempestade. A natureza é extremamente caprichosa, dá a uns o que tira a outros. E a gente não sabe porquê. Eu mereço mais? Não mereço mais nem menos, sou como os outros, peco como os outros, gozo como os outros, vivo como os outros.

Ninguém tem medo da morte. Ao nascer, não há outra finalidade certa que não seja a morte. Hoje, na minha idade, penso que a morte, quer para um religioso e crente, como eu sou, quer para um leigo, será a única entrada para o absoluto.

Nos filmes, como em qualquer obra de arte, há sempre uma grande parte do subconsciente do artista do qual ele não se dá conta. Por isso, as obras enriquecem com o tempo, a crítica vai descobrindo partes mais ignoradas e as obras ficam mais ricas do que quando saem. Na verdade, o homem não mudou, apenas aquilo que fez: o progresso. A natureza do homem é a mesma: a inveja, a vingança, as paixões ou o amor são manifestações da natureza do homem que não mudaram nada. Há pessoas que, às vezes, mudam de partido. Eu pergunto: também mudam de natureza? Ela é a mesma, e é nela que está todo o bem e o mal do homem.

Nós somos impelidos por forças obscuras, não somos totalmente senhores de nós próprios.

Nunca trabalhei tanto na minha vida. Mas também durmo. Durmo bem, embora me deite sempre tarde.

O cinema dá-nos a possibilidade de, a partir da câmara, repor a vida além da Morte e simular a ressurreição, inclusive a dos grandes heróis da literatura.

O cinema é imaterial, o teatro é material: os actores têm carne e osso, estão lá, vivos, nos cenários. Mas o cinema, não – é um fantasma da realidade.

O cinema é mundano. E a santidade é a fuga do mundano. É o desprendimento – o sentimento de liberdade mais profundo – de tudo quanto é mundano, da vida, das atracções. É separar-se de tudo. Por trás do cinema e do autor está a vaidade. Basta isso para destruir tudo. Ele faz isto – gosta de receber prémios, de receber elogios, que compreendam os seus filmes. E isso é mundano – é deste mundo –, a santidade não é deste mundo.

O cinema é o espelho da vida. E não só é o espelho da vida como não há outro, é o único espelho da vida. E sendo-o é também a memória da vida.

O cinema só trata daquilo que existe, não daquilo que poderia existir. Mesmo quando mostra fantasia, o cinema agarra-se a coisas concretas. O realizador não é criador, é criatura.

O computador tem possibilidades de mais para aquilo de que eu preciso. Não quero saber coisas de computadores. Quero apenas saber o necessário para escrever os meus textos e as minhas planificações. O resto das capacidades dos computadores só me atrapalha.

O homem é um bocado como o gato, fica preso às casas porque nelas se passaram histórias, e a casa é o guardião de todas essas histórias, problemas, alegrias, etc.

O homem tem um tecto, (que os gregos atingiram), para além disso, já não percebemos nada. Somos joguetes do destino. O Espinosa dizia: “Supomos que somos livres porque ignoramos as forças obscuras que nos manipulam”. E S. Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, a nossa crença é vã”. Não sabemos: nenhum dos nossos mortos disse qualquer coisa.

O meu público é aquele que vai ver os meus filmes. O cinema dá-nos uma visão da vida.E a vida é um mistério.

O mundo é complexo, incompreensível, talvez não tanto para quem tem uma crença nalguma coisa firme, mas para aqueles onde a dúvida prevalece. E o que proponho é a dúvida. A dúvida é uma maneira de ser.

O que é que nos dá o progresso? Uma coisa só: conforto. Só conforto. O homem da caverna tinha de matar o boi…

O que mais me marcou, no aspecto social e mundial, foi o 25 de Abril. Foi o acto que mais me marcou. Porquê? Porque o 25 de Abril, em si, tem um momento extraordinário: os militares, que fizeram o 25 de Abril, não desejavam tomar o poder. Fizeram-no para entregar o poder democrático ao país. Este é um caso raro e único.

O que nós hoje vemos numa literatura moderna e apressada é uma multiplicação elevada à sétima potência por muitos autores oportunistas, em trabalhos repetitivos da violência pela violência e da pornografia pela pornografia, apenas por estar em moda e de ser de rentabilidade fácil.

O sentimento religioso é uma coisa muito particular, de cada um.

O sexo é um prazer, um vício, como fumar, tomar café, beber uma droga.

O sexo, fonte de toda a pornografia, é cousa abissal, e esse abismo perverte e atrai o lado mais animal do homem. Desumanizando-o. Digo o lado mais animal do homem, porque entre os animais não há pornografia, nem vergonha.

O sofrimento é uma coisa terrível. Eu não tenho medo da morte, mas temo o sofrimento.

O teatro é mais honesto que o cinema, porque o cinema filma sonhos.

O teatro é mais rico. Os actores estão lá, em carne e osso. No cinema, só está a personagem. O actor já não se encontra lá quando o filme é exibido. O cinema é complementar mas tem uma vantagem perdura no tempo. Se houvesse cinema no tempo áureo das tragédias gregas saberíamos como elas eram. Como não há, apenas calculamos como seriam.

Os meus filmes têm histórias um pouco profundas, às vezes difíceis de compreender. Por isso, filmo-os da forma mais clara possível. É preciso que o cinema seja claro, porque tudo o resto (as paixões, a vida), não o é.

Os rituais são muito importantes. Sem eles, a vida seria indecifrável. O cinema não filma senão isso, um conjunto de signos, de convenções. A vida é um enigma, não é legível. São os rituais que nos permitem lê-la.

Para mim os poetas chegam mais longe do que os filósofos. As suas poesias contêm segredos que vão para além. A nossa inteligência não é capaz de os desvendar, a gente sente, mas não desvenda.

Para mim, a expressão mais rica é a literatura.

Para os budistas, quando morre uma pessoa, a alma sai e pode instalar-se num gato. Falei com o Dalai Lama e pus-lhe essa questão: se a pessoa morre e a alma passa de um humano para uma fera, não perde a evolução do raciocínio? Disse-me que não, pois o que conta é o esforço. Percebi que a vida, em si mesmo, é um esforço enorme em tudo que fazemos. Mas é ele que activa a imaginação.

Parar é morrer e isto é aplicável hoje. O pior de tudo é parar, quer dizer, não se fazerem coisas, não se fazer nada, ficar com medo, retrair-se, etc. Esta ideia do povo, diante da crise, correr a tirar o dinheiro dos bancos, com medo de o perder, agrava terrivelmente a situação. É um erro parar, não continuar a despertar as coisas.

Portugal é o país mais universalista do mundo. Os portugueses têm esse dom; se não o tivessem, não teriam feito os Descobrimentos.

Quem tem um sentimento político profundo é que toma posições. Mas o meu sentimento profundo é humanista, não político.

Sabe que esta história política é muito difícil, muito grave. Há uma desmobilização fortíssima, há uma perda de valores enorme! Hoje a aldrabice monta por aí com toda a força, e isso é triste.

Sem identidade não se é. E a gente tem que ser, isso é que é importante. Mas a identidade obriga depois à dignidade. Sem identidade não há dignidade, sem dignidade não há identidade, sem estas duas não há liberdade. A liberdade impõe, logo de começo, o respeito pelo próximo. Isto pode explicar um pouco os limites da própria vida.

Sinto que pertenço a uma deontologia cinematográfica que recusa mostrar o lado íntimo. Só filmo o que é público, embora possa sugeri-lo.

Sinto que precisava de viver mais 50 anos para concretizar todos os projectos que tenho. Se tivesse os meios, não me custava nada fazer dois filmes por ano. Ideias não me faltam, seja através de projecto escritos por mim ou por grandes escritores.

Somos movidos por impulsos que ignoramos da natureza: o ódio, o amor, a paixão, a bondade. Pode-se quase perguntar se somos dependentes porque ninguém nasceu por vontade própria. Seremos verdadeiramente responsáveis pelos nossos actos? Temos a justiça que nos torna responsáveis e a evolução que o homem tem engendrado, mas não somos independentes. Somos dependentes das circunstâncias (…). Tornamo-nos responsáveis perante a lei e pela justiça, mas na verdade somos um joguete do destino.

Somos todos escravos da tecnologia. Lembro-me da sabedoria desses grandes homens que viajavam pelo mundo e passavam por terras diferentes, diferentes línguas. Não conheciam e acabavam por conhecer aquelas gentes e os seus modos de vida diferentes, de um lado para o outro, até à China e por aí fora. Era admirável, não era? Hoje não, vai-se de avião, não se sente nada.

Sou crente e tenho fé. Mas, ao mesmo tempo, sou abordado por um certo pessimismo e frequentemente me lembro de um provérbio russo que diz: o pessimismo é a conclusão do optimista.

Sou um sobrevivente como qualquer outro. A arte é um ofício, uma paixão que as pessoas têm. O usurário tem uma paixão pelo dinheiro e junta o dinheiro para nada – é triste. O artista tende ao absoluto; pode também estar numa situação de revolta. Não é exactamente o meu caso, embora muitas vezes me revolte.

Tenho as minhas convicções, mas tenho sempre medo que essas convicções pareçam demasiado particulares, quando eu queria ter uma visão genérica do que é o cinema.

Toda a arte é um reflexo da vida. Se nós não sabemos a finalidade da vida, como é que vamos saber a finalidade da arte? É um segredo que nos é vedado.

Todos os efeitos especiais pertencem à técnica, não à arte. Para além disto, sugerimos o inacreditável. Onde podemos ir mais longe do que aquilo que somos? Li um realizador dizer que quando apresentava um filme novo, se ouvia que era o filme de um grande realizador, ficava triste. Mas se ouvia que era um grande filme, ficava contente. Isto é evidente: o realizador não deve mostrar-se. Mostra o inconcebível, mas não se mostra a ele próprio.

Todos os meus filmes mostram que, de facto, todos os homens entram em agonia no momento em que chegam ao mundo. Sou um grande lutador contra a morte. Passei a vida a observar a agonia, cada vez com mais experiência, com cada vez mais vontade de mostrá-la. Mas a morte acaba por chegar.

Vivo muito bem, concerteza. Se eu não tivesse atingido esta idade não apanhava esta quantidade de prémios que me começaram a dar agora, no final da vida.

Citações de Padre António Vieira

A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançar, e isto é o que se chama ciência.

A ausência é o remédio do amor.

A boa e má opinião está na mão de um grande, porque tudo pode. Pode o mal, porque com o poder o executa; pode o bem, porque com a grandeza tudo se obra.

A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.

A cabeça tem entendimento especulativo, as mãos têm entendimento prático, e este é só o entendimento que faz as coisas.

A cegueira do juízo e amor-próprio é muito maior que a cegueira dos olhos.

A cegueira que cega cerrando os olhos, não é a maior cegueira; a que cega deixando os olhos abertos, essa é a mais cega de todas.

A dignidade não se introduziu no mundo senão para abrigo daqueles que a não logram.

A diligência na guerra é tudo para com efeito se alcançar vitória.

A dor não tem juízo, e nenhuma é maior que a do amor ofendido.

A espada da justiça que se sustenta com demasiadas bocas, empobrece a todos, e todos a trazem na boca.

A Esperança é um afecto que, suspirando sempre por ver, vive de não ver, e morre com a vista.

A esperança promete bens, o temor ameaça males, e entre promessas e ameaças tanto vem a se padecer o que se espera, como o que se teme.

A esperança satisfaz-se com a medida do que se espera.

A fé e a caridade são afectos muito fidalgos, e muito bons de contentar. A fé para crer, basta-lhe uma profecia e fica satis­feita; a caridade para amar, quando não tenha benefícios, bastam–lhe agravos, que o amor até de ofensas se sustenta.

A fé não vê, mas vê-se: não vê, porque não vê os seus objectos, mas vê-se, porque se vê nos seus efeitos.

A fé que não dói, é muito fácil de crer; a fé que não se pode praticar sem dor, é muito dificultosa de admitir.

A fortuna com o que dá, faz grandes e o ânimo com o que despreza, faz grandiosos.

A fortuna nunca iguala os desejos dos homens.

A inclinação mais natural, mais viva, e que mais fortes e profundas raízes tem lançado na natureza humana é o desejo ou apetite da glória.

A inveja, como filha primogénita da soberba, pesa para cima, e todos seus tiros se assestam contra o mais alto.

A justiça está entre a piedade e a crueldade: o justo propende para a parte do piedoso; o justiceiro para a de cruel.

A maior capacidade que criou a natureza foi a do coração humano.

A maior gula da natureza racional é o desejo de saber.

A maior miséria da vida humana (outros dirão outra), eu digo que é não haver neste mundo de quem fiar.

A maior parte do que sabemos é a menor do que ignoramos.

A maldade é comerem-se os homens uns aos outros, e os que a cometem são os maiores, que comem os pequenos.

A melhor e a pior coisa que há no mundo é o conselho. Se é bom, é o maior bem; se é mau, é o pior mal.

A melhoria não está no lugar, senão na pessoa que o ocupa.

A mesma luz e a mesma candeia ao longe vê-se, ao perto alumeia.

A mim não me faz medo o pó que hei-de ser; faz-me medo o que há-de ser o pó.

A natureza a todos os homens fez iguais; a fortuna é que fez os altos, os baixos, e os baixíssimos.

A natureza fez o comer para o viver e a gula fez o comer muito para o viver pouco.

A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos.

A peste do governo é a irresolução. Está parado o que havia de correr, está suspenso o que havia de voar, porque não atamos nem desatamos.

A pior coisa que têm os maus costumes é serem costumes: ainda é pior que serem maus.

A primeira coisa que morre em o homem é a língua e a última coisa que lhe acaba é o coração. Será talvez porque a língua é que viveu mais desunida e por isso mais solta. O coração morre com menos pressa, porque todo o sangue se une para sua defesa.

A primeira vitória para alcançar outras muitas é sujeitar o juízo próprio, quem não é sujeito ao mando alheio.

A propriedade da quantidade é poder-se sempre dividir e a propriedade do amor é querer-se sempre dar todo.

A razão por que não achamos o descanso é porque o buscamos onde não está.

A restituição do respeito é muito mais difícil do que a do dinheiro.

A tristeza é um mal e enfermidade universal de que ninguém escapa.

A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto, e que mais facilmente engana os homens.

A vida de um homem compõe-se de muitas idades, e o que acontece em qualquer destas idades se diz com toda a propriedade e verdade que acontece nos dias daquele homem.

A virtude é a que dá o ser à honra e à fama; mas a honra e a fama são as que defendem a virtude.

A vista dos bens alheios cresce o sentimento dos males próprios.

A vitória tanto menos vale, quanto mais custa.

Acautele-se o coração humano e nenhum se fie de si.

Ainda que seja muito segura, muito firme e muito bem fundada a esperança é um tormento esperar.

Amar a quem me aborrece é ser humano com quem o não é comigo; aborrecer a quem me ama, é ser cruel com que mo não merece.

Amar a quem nos aborrece, é acto de generosidade; aborrecer a quem nos ama, é acto de ingratidão.

Amar e não ser amado é o maior tormento; ser amado e não amar é a maior injustiça.

Amar e não ser amado é ser mártir; ser amado e não amar é ser tirano.

Amor e ódio são os dois mais poderosos afectos da vontade humana.

Antes de o amarem poderá haver coração tão duro, que não ame nem queira amar; mas depois de se ver amado, há-de amar, e querer amar, ainda que não quisesse.

Antes de ver o fim não se pode fazer juízo.

Ao trabalho corresponde o fruto que se colhe.

Aos humildes a demasiada honra mais os embaraça do que os melhora.

Aos outros lugares, ainda que não sejam os mais altos, chega-se tarde e com dificuldade; ao último, logo e facilmente.

Aquele a quem convém mais do que é lícito, sempre quer mais do que convém.

As acções de cada um são a sua essência.

As acções generosas, e não os pais ilustres, são as que fazem fidalgos.

As batalhas mais invencíveis são as do entendimento, porque onde as feridas não tiram sangue, nem a fraqueza se vê pela cor, nenhum sábio se confessa vencido.

As cidades com ferro se defendem e não com ouro.

As coisas grandes não se acabam de repente; hão mister de tempo e todas têm seu tempo.

As coisas não começam do princípio como se cuida, senão do fim. O fim porque as empreendemos, começamos e prosseguimos, esse é o seu primeiro princípio, por isso ainda que sejam indiferentes, o fim, segundo é bom ou mau, as faz boas ou más.

As lágrimas são o mais vivo do sentimento, porque são o destilado da dor; são o mais encarecido dos louvores, porque são o preço da estimação; são o mais efectivo da consolação, porque são o alívio da natureza.

As obras de um herói, postas a uma luz escura da razão e da vontade, são borrões que ofendem; à melhor luz do entendimento são primores que admiram.

As varas do poder, quando são muitas, elas mesmo se comem, como famintas sempre de maiores postos.

Assim como a alquimia por arte tudo converte em ouro, assim a obediência por natureza tudo transforma e converte em virtude.

Assim como a obediência é o compêndio e união de todas as virtudes, assim a desobediência é o dispêndio e destruição de todas.

Assim como há esperanças que tardam, há esperanças que vêm. (…) As esperanças que tardam tiram a vida; as esperanças que vêm, não só não tiram a vida, mas acrescentam os dias e os alentos dela.

Assim como o amor só com amor se conquista, assim não há amor tão forte, ou tão fortificado, que se não renda a outro amor.

Bem fora que pudera mais com os homens, a memória, que a esperança.

Brilhar com demasiado luzimento nas acções, mais estorva os aplausos do que os granjeia.

Cada um em seu juízo não se deve estimar mais que aquilo em que ele mesmo se avalia.

Coisa dificultosa é que homens tão derramados nas coisas exteriores, cheguem a se ver interiormente, como convém.

Como a fortuna (…) não costuma subir a ninguém por seus degraus, em faltando degraus para a descida, tudo hão-de ser precipícios.

Como é necessária a vigilância na guerra, é também preciso maior cuidado na paz.

Como na guerra não há coisa mais para estimar que o vencer, assim não há outra mais para temer que a mesma vitória.

Como o que há basta para a ambição dos presentes, não querem aventurar nada com a esperança, porque possuem o que nunca esperaram.

Como temo que os que condenam as coisas novas sejam aqueles que não podem dizer senão as muito velhas, e pode ser que muito remendadas!

Conquistar a terra das três partes do mundo a nações estranhas foi empresa que os reis de Portugal conseguiram muito fácil e muito felizmente, mas repartir três palmos de terra em Portugal aos vassalos, com satisfação deles, foi impossível.

Considerai e medi bem os degraus, uns tão altos, outros tão baixos, por onde, tropeçando, ajoelhando e caindo, ou se perde a pretensão, ou se chega finalmente a tomar posse do lugar pretendido, e vereis quanto mais custa o alcançar que o merecer.

Crescer a grandeza que se não pode sustentar, é enfraquecer.

Das obras grandes ou pequenas, das acções generosas ou vis, cada um traz na própria cabeça a verdadeira medida.

De duas maneiras cega a fortuna, porque cega como luz e cega como fouce; com uma mão abraça e com outra corta; com a que abraça introduz a cegueira e com a que corta mostra o desengano.

De nenhuma coisa são mais avarentos os homens, que do louvor (…) de nenhuma são mais pródigos, que do desejo de receber.

De um erro nascem muitos, e sobre fundamento tão errado nunca houve edifício certo.

Dizem que temos valor (os portugueses), mas que nos falta dinheiro e união; e todos nos prognosticam os fados que naturalmente se seguem destas infelizes premissas.

Do sábio é próprio mudar o parecer.

Dores certas não se podem curar com remédios duvidosos.

Duas caras tem a inveja: uma com que no interior se entristece e outra com que no exterior se dissimula.

E assim como não há mármore nem bronze tão duro que, ferido do raio do sol, não responda ao mesmo sol com a reflexão do seu raio, assim não há coração tão de mármore na dureza, e tão de bronze na resistência, que, prevenido no amor, o não redobre e corresponda com outro.

É coisa tão dificultosa acomodar-se a trabalhar para viver, quem está costumado a outra vida, que esta mesma dificuldade é a que inventou a arte e artes de furtar.

É consequência própria e natural da inveja, perseguir os presentes e estimar os passados, matar os vivos e celebrar os mortos.

É empresa arriscada e inútil abraçar-se com quem se vai a perder.

É melhor que luzir em todo o tempo, o luzir somente a tempo; assim se enganam os olhos da inveja, e assim se concilia nos ânimos a estimação.

E que significa possuir a alma em vão, senão ser dotado de alma racional e não poder raciocinar?

É tão grande o sabor do alheio, é tal a doçura e suavidade do que se furta, que até pão e água, se é furtado, é manjar muito saboroso.

É verdade que muitas vezes tem maiores dificuldades o conservar, que o fazer, mas quem se gloria da feitura, não deve recusar o peso da conservação.

Em havendo olhos maus, não há obras boas.

Em nenhuma parte tanto como em Portugal se gasta tanto papel, ou se gasta tanto em papéis.

Em tempo em que só vale a lisonja, não podia parecer bem quem professa só a verdade.

Em todas as coisas há aumento, estado e declinação. O aumento pende do estado, mas a declinação sempre se origina do aumento.

Em todas as outras coisas o deixar de ser é sinal de que já foram; no amor o deixar de ser é sinal de nunca ter sido.

Em todos os parentes o amor é acidente que se pode mudar; no amigo fiel é essência, e por isso imutável.

Enfim, que neste jogo que o mundo chama da fortuna, não consta o ser má ou boa, senão no bom ou mau uso dela.

Enquanto os conselhos se não dão à execução, por mais conselhos e por mais decretos que haja, ainda se não tem dado princípio a nada.

Enquanto Portugal teve homens de “havemos de fazer” (que sempre os teve) não tivemos liberdade, não tivemos reino, não tivemos coroa. Mas tanto que tivemos homens de “quid facimus” (que fazemos), logo tivemos tudo.

Entre o conhecimento do bem e do mal há uma grande diferença: o mal conhece-se quando se tem e o bem quando se teve; o mal, quando se padece, o bem, quando se perde.

Entre todas as injustiças, nenhumas clamam tanto ao Céu como as que tiram a liberdade aos que nasceram livres e as que não pagam o suor aos que trabalham.

Entregar o coração com os olhos abertos, é querer a vista por prémio do amor: entregar o coração com os olhos fechados, é não querer no amor nem o prémio da vista.

Esta é a injustiça da fama, que tanto desacredita com o presumido, como ofende com o verdadeiro.

Estar todo em todo e todo em qualquer parte é propriedade só dos espíritos; e assim está em nós a nossa alma.

Estude-se nos acontecimentos passados, que são a melhor regra para os acertos, porque, como os livros são mestres para a vida, são aqueles sucessos lição para os prudentes.

Fazer mais ostentosa a dignidade do que ela é em si, é afectar fortunas; e se lográ-las é motivo para a inveja, afectá-las é estímulo para o ódio.

Fé e liberalidade são virtudes sinónimas; e quem está duvidoso no dar, não está firme no crer.

Fiar-se só de si, e aconselhar-se só consigo, tem o perigo do amor-próprio; fiar-se só de outro, e aconselhar-se só com outro, tem o risco do interesse alheio.

Foram muito menos os danos em que caíram os homens por lhes faltar a notícia do passado, que aqueles que cegamente se precipitaram pela ignorância do futuro.

Grande miséria é que não bastem os serviços, o amor e a verdade para conservar a graça dos príncipes e que baste a calúnia para se perder.

Grandes males não se curam senão com grandes remédios, e estes não se aplicam sem grande resolução.

Há casos em que a felicidade consiste não em se achar o que se busca e deseja, senão em se não achar.

Há casos em que por pedir licença se perdem as mais gloriosas acções.

Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros.

Humildade essencialmente é o conhecimento da própria dependência, da própria imperfeição e da própria miséria.

Ingratidão que desama, grande ingratidão é, mas a ingratidão que chega a desconhecer, é a maior de todas.

Instruir é construir.

Lembra-te, homem, que és pó levantado e hás-de ser pó caído.

Luzir português entre portugueses, e muito menos luzir com a sua luz, é coisa muito dificultosa na nossa terra.

Maior a utilidade que podemos e devemos tirar do conhecimento das coisas futuras, que da notícia das passadas.

Mais afronta a mesura de um adulador, que uma bofetada de um inimigo.

Mais aptos e capazes são dos grandes lugares os que pretendidos os recusam, que os que ambiciosos os pretendem.

Mais arriscada foi sempre a boa que a má fama, porque as grandes prendas são muito ruidosas, e muitas vezes foi reclamo para o perigo mais certo o mais estrondoso ruído.

Mais dá quem despreza o que espera, que quem dá o que possui.

Mais dificultoso é ganhar pouco com pouco, que muito com muito.

Mais fácil é unir distâncias, que casar opiniões e entendimentos.

Mais para temer é um homem desarmado, com entendimento, que todas as feras armadas, sem ele.

Mais se conquistam os reinos com a guerra civil dos próprios, que com a guerra viva dos estranhos.

Mais se dedicam as lisonjas ao interesse de quem as obra, do que ao decoro de quem as admite.

Mais temo eu a Portugal os perigos da opulência, que os danos da necessidade.

Mal é dizer mal, mas depois de o haverdes dito, dizerdes ainda que dizeis bem, é um mal maior sobre outro mal, porque é estar obstinado nele.

Meditar não é outra coisa que cuidar um homem no que lhe importa ou deseja e nenhum há que não medite.

Melhor fora não intentar que não conseguir; nem desejar os fins se não se hão-de aplicar os meios.

Melhor será arrepender agora, que quando o mal passado não tenha remédio.

Muitas vezes a mentira hoje no mundo é mais poderosa que a verdade.

Muito à pressa vive o que tudo quer lograr de uma só vez.

Muito mais custa abrir a boca para pedir, que fechá-la para calar.

Muito mais faz quem pede para dar, do que quem dá o que tem.

Muito mais para temer é o inimigo oculto e dissimulado, que descoberto.

Muito tempo há que a mentira se tem posto em pés de verdade, ficando a verdade sem pés e com dobradas forças a mentira.

Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.

Muitos diferentes visos fazem as acções generosas aos olhos da inveja, conforme a luz a que se opõe, e logo se vêem com agrados ou com defeitos.

Muitos não têm o coração dentro em si, senão fora de si e muito longe. Fora de si, porque não cuidam em si e muito longe de si, porque todos os seus cuidados andam só atentos e aplica­dos às coisas temporais e mundanas que amam.

Muitos neste mundo alcançam os cargos só pelo merecimento do seu vestido.

Na mesa onde se frequentar muito o jogo, cedo faltará o comer.

Nada receia perder, quem nada espera interessar.

Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande.

Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito.

Não basta ver para ver, é necessário olhar para o que se vê.

Não creio nem crerei nunca a quem pode o que quer enquanto não quiser o que pode.

Não crer é ter o entendimento cego e obstinado; crer uma coisa e obrar outra, é totalmente não ter entendimento.

Não depende a grandeza, para a ruína, mais que de si mesma.

Não descuidar da sucessão, é reconhecer a mortalidade.

Não devemos condenar os amigos pela informação dos inimigos.

Não é amante quem morre porque amou, senão quem amou para morrer.

Não é de heróis a vingança.

Não está o erro em desejarem os homens ser, mas está em não desejarem ser o que importa.

Não há alegria neste mundo tão privilegiada, que não pague pensão à tristeza.

Não há amor que mais facilmente perdoe, e mais benignamente interprete e dissimule defeitos, que o amor de pai.

Não há coisa boa sem contradição, nem grande sem inveja.

Não há coisa que mais sintam os pais do que os castigos e penas dos filhos e descendentes.

Não há coisa que tanto mude as feições, como a fortuna.

Não há coisa tão preciosa, e tão útil, que continuada não enfade.

Não há inocência que esteja segura de um falso testemunho.

Não há leis tão justas e leves que não necessitem de quem as faça executar e guardar.

Não há poder maior no mundo que o do tempo: tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba.

Não pode haver maior cegueira, nem mais cega, que ser um homem cego, e cuidar que o não é.

Não pode haver modo melhor de conhecer a desigualdade das forças que medindo-as.

Não se fazerem mercês, é faltar com o prémio à virtude; fazerem-se, é semear benefícios para colher queixas.

Não se há-de estar tão casado com o amor-próprio, que todos os partos do entendimento, por serem filhos próprios, pareçam formosos.

Não sei qual é a maior tentação, se a necessidade, se a cobiça.

Não só vos condenam os homens pelo que vós nunca imaginastes, mas condenam-vos pelo que nem eles imaginam de vós.

Não ver nada, é privação; ver uma coisa por outra é erro.

Nascer pequeno e morrer grande é chegar a ser homem.

Necessário é logo que haja prémios, para que haja soldados.

Nem todos os futuros são para desejar, porque há muitos futuros para temer.

Nenhum homem há que não dê pelo pão e ao pão todo o seu cuidado.

Nenhum segredo é segredo perfeito, senão o que passa a ser ignorância, porque o segredo que se sabe, pode-se dizer, o que se ignora, não se pode manifestar.

Nenhum segue mais leis que as da conveniência própria. Imaginar o contrário é querer emendar o mundo, negar a experiência e esperar impossíveis.

Nenhuma coisa desengana a quem quer enganar-se.

Nenhuma coisa deste mundo pára ou permanece, todas passam.

Nenhuma coisa se pode prometer à natureza humana mais conforme a seu maior apetite, nem mais superior a toda a sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros.

Nenhuma coisa trazemos os homens mais esquecida e desconhecida, nenhuma trazemos mais detrás de nós, que a nós mesmos.

Ninguém se contenta com a estatura que Deus lhe deu, e não há homem tão pigmeu ou tão formiga, que não aspire a ser gigante.

No golfo de uma privança, nunca o perigo é mais certo, que quando a fortuna é mais próspera.

No homem o poder é pouco e limitado, e o querer, sempre insaciável e sem limite.

Nós (portugueses) temos a nossa desunião, a nossa inveja, a nossa presunção, o nosso descuido e a nossa perpétua atenção ao particular.

Nos grandes são mais avultados os erros, porque erram com grandeza e ignoram com presunção.

Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos.

Nunca se empregam os homens na luz que vêem, senão nos defeitos que a luz lhes mostra.

O amor acredita-se no supérfluo: quem ama pouco, contenta-se com o que basta: quem ama muito, contenta-se com o que sobeja; e quem ama mais que muito, nem com o que basta nem com o que sobeja se contenta, ainda sobe mais, ainda passa mais adiante.

O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor.

O amor depois da perda vê-se na dor; antes dela, no receio.

O amor é o preceito; a correspondência, a obrigação; o amar, império; o ser amado, obediência.

O amor em matéria de ausência, se é sofrido, não é grande; se não é impaciente, não é amor.

O amor essencialmente é união e a união não pode unir um extremo, sem que una também o outro.

O amor essencialmente é união, e quanto mais une ou procura unir os que se amam, tanto maiores efeitos tem, e tanto maiores afectos mostra de amor.

O amor fino não busca causa nem fruto. E não pode haver mais fino nem mais provado amor que aquele que entrega o coração e fecha os olhos. Entregar o coração com os olhos abertos é querer a vista por prémio do amor; entregar o coração com os olhos fechados é não querer no amor nem o prémio da vista.

O amor não é união de lugares, senão de vontades; se fora união de lugares, pudera-o desfazer a distância, mas como é união de vontades, não o pode esfriar a ausência.

O amor perfeito, e que só merece o nome de amor, vive imortal sobre a esfera da mudança, e não chegam lá as jurisdições do tempo.

O amor pesa-se na balança da paciência: padecer menos, é amar menos; padecer mais, é amar mais.

O amor sempre é amoroso, mas umas vezes é amoroso e unitivo, outras vezes amoroso e forte. Enquanto amoroso e unitivo, ajunta os extremos mais distantes; enquanto amoroso e forte, divide os extremos mais unidos.

O avarento chama pródigo ao liberal; o covarde temerário ao valente; o distraído hipócrita ao modesto; e cada um condena o que não tem, por não confessar o que lhe falta.

O bem ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto; se é passado, causa saudade; se é futuro, causa desejo.

O certo é que toda a fortuna tem jurisdição no amor: se é adversa, ninguém vos ama; se é próspera, a ninguém amais.

O efeito da memória é levar-nos aos ausentes, para que estejamos com eles, e trazê-los a eles a nós, para que estejam connosco.

O entendimento acha o que há; a vontade acha o que quer.

O erro por que muitas vezes se não acertam as eleições dos ofícios, é porque se buscam os homens grandes nas casas grandes, e eles estão escondidos nas casas pequenas.

O fim para que os homens inventaram os livros foi para conservar a memória das coisas passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens, que ainda é maior tirania.

O fruto, quando está maduro, se se não colhe, cai e apodrece. Não está a felicidade em viver muito, senão em viver bem.

O homem incapaz de julgar, por um lado, nem vê o que é melhor nem o aprova; por outro, aprova o que é pior e segue-o como se fosse o melhor.

O ingrato não só esteriliza os benefícios, senão também o benfeitor: esteriliza os benefícios, porque os paga com ingratidões e esteriliza o benfeitor, porque vendo o benfeitor que se pagam com ingratidões os seus benefícios, cessa, e não os quer continuar.

O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.

O livro visto por fora, não mostra nada; por dentro está cheio de mistérios.

O livro, sendo o mesmo para todos, uns percebem dele muito, outros pouco, outros nada.

O maior pensar da criatura humana é comer; desde que o homem nasce até que morre anda a procurar o pão para a boca.

O mal não está em ser tentado, está em ser vencido.

O melhor modo de pedir é agradecer.

O merecimento da esmola não consiste em que a comam aqueles para quem a dais, senão em que vós a deis para que eles a comam.

O merecimento sempre foi mal visto dos invejosos; são os olhos da inveja os que dão quebranto às acções generosas, que, como de cristal, estalam ao lume dos mesmos olhos que as vêem.

O não ter respeito a alguns, é procurar, como a morte, a universal destruição de todos.

O ofício e obrigação dos poetas não é dizerem as coisas como foram, mas pintarem-nas como haviam de ser ou como era bem que fossem.

O ofício há-de transformar-se em natureza, a obrigação há-de converter-se em essência, e devem os homens deixar o que são, para chegarem a ser o que devem.

O pó futuro, o pó em que nos havemos de converter, vêem-no os olhos; o pó presente, o pó que somos, nem os olhos o vêem nem o entendimento o alcança.

O primeiro efeito, ou consequência, da necessidade é o desprezo da honra; o segundo, a destruição da virtude.

O que dá e tira os reinos do mundo é o direito das armas.

O que se põe em questão e disputa, igualmente se põe em dúvida; e quem duvida da sua fé, qualquer que seja, já é herege dela.

O querer e o poder, se divididos são nada, junto e unidos são tudo.

O retractar-se não é argumento de não saber, mas de saber que muitas vezes pode acertar o menos douto no que o mais letrado não advertiu.

O ruído que faz a grande fama também faz com que o grande seja de todos roído, quando nas asas da fama se vê mais sublimado.

O Sol pode fazer dias longos: dias grandes só os fazem e podem fazer as acções.

O tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade.

O tempo umas coisas melhora e outras corrompe.

O tudo deste mundo e do outro é a alma, não é o mundo.

O uso de ver tem fim com a vida, o apetite de ser visto não acaba com a morte.

Obra-se mal não só quando se obra, nem só quando se aconselha, senão também quando se permite.

Oh, se os livros falassem, quantas ignorâncias haviam de dizer que consultam com eles de noite, os que de dia se publicam grandes letrados.

Onde há muito em que eleger, não pode haver pouco sobre que duvidar.

Ordinariamente vemos grandes resplendores, onde não há luz, e grandes luzes sem nenhum resplendor.

Os afectos da nossa alma, se são extremamente intensos, ateiam-se pela vizinhança ao corpo, chegando o corpo a padecer por enfermidade o que a alma padece por sentimento.

Os ânimos desejosos de fazer bem, mais os lisonjeia quem lhes pede, que quem os louva.

Os bens que mais nascem do ânimo que da fortuna, melhor se asseguram, porque aqueles guardam-se no peito, e estes cansam os ombros.

Os bons anos não os dá quem os deseja, senão quem os assegura.

Os brutos distinguem-se dos homens, em que os homens se governam pelo entendimento, e os brutos pelos sentidos.

Os dois nervos da guerra são gente e dinheiro.

Os exemplos dos tempos passados costumam ser as regras e documentos para os presentes e futuros.

Os governos são para fazer bem com o pão próprio, e não para acrescentar os bens com o pão alheio.

Os homens costumam conhecer nos outros, não a pessoa, senão a fortuna.

Os homens não amam o que cuidam que amam.

Os homens quando testemunham de si mesmos, uma coisa é o que são, e outra coisa é o que dizem.

Os impérios e reinos não os dá nem os defende a espada da justiça, senão a justiça da espada.

Os inimigos da campanha podem-se vencer uma e muitas vezes, os da nossa corte são invencíveis; aqueles com as vitórias vão-se diminuindo, estes com elas crescem mais.

Os inimigos que mais temo a Portugal são soberba e ingratidão, vícios tão naturais da próspera fortuna que, como filhos da víbora, juntamente nascem dela e a corrompem.

Os ladrões são casta de gente em que se emprega melhor o castigo do que se pode esperar a emenda.

Os mais felizes reinos não são aqueles que têm as mais bem entendidas cabeças, senão aqueles que têm as mais bem entendidas mãos.

Os martírios vistos de perto são muito mais feios que de longe.

Os modos de guerrear são tantos, quantos tem inventado o amor para a defesa própria, e o ódio para a ruína do inimigo.

Os muros, como o cinto, não são muros enquanto se não fecham.

Os olhos da inveja nunca vêem sem dar olhado.

Os outros lugares, quanto mais altos, tanto menos segurança têm, e a sua mesma altura é o prognóstico certo da sua ruína.

Os Portugueses não se contentam com se lhes dar o pão partido; há-se-lhes de dar todo o pão, sob pena de não ficarem contentes. Daqui se segue que nunca é possível que o estejam.

Os que cuidam que tudo sabem necessitam de mais advertências, porque erram mais torpemente; por isso necessitam de mais conselhos, porque presumem que de nada carecem, cegueira em que os mais advertidos tropeçam.

Os que pela experiência do que têm visto crêem o que está prometido, vê-lo-ão, porque são dignos de o verem; os que não crêem, ou não querem crer, a sua mesma incredulidade será a sua sentença e já que o não creram, não o verão.

Os textos são da justiça, as interpretações podem ser da lisonja.

Os vícios nunca nos fartam, a virtude logo nos enfastia.

Para aprender não basta só ouvir por fora, é necessário entender por dentro.

Para conseguir efeitos grandes, e para levar a cabo empresas dificultosas, mais segura é uma ignorância bem aconselhada, que uma ciência presumida.

Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.

Para não mentir, não é necessário ser santo, basta ser honrado, porque não há coisa mais afrontosa, nem que maior horror faça a quem tem honra, que o mentir.

Para ver com uma candeia, não basta só que a candeia esteja acesa, é necessário também que a distância seja proporcionada.

Pelo que fizeram, se hão-de condenar muitos, pelo que não fizeram, todos.

Perguntado a um grande filósofo, qual era a melhor terra do mundo, respondeu a mais deserta, porque tinha os homens mais longe.

Pior é uma verdade diminuída que uma mentira muito declarada.

Pois, o que é ignorar invencivelmente senão ignorar e não conseguir saber? E o que é a ignorância invencível senão a ignorância acompanhada da incapacidade de saber aquilo que se ignora?

Por mais que sejam muitos os notadores dos livros, são muito mais os que no mundo vivem notados.

Porque é timbre da nossa nação (Portugal), tanto que sai à luz quem pode luzir, tragá-lo logo, para que não luza.

Porque importa pouco o ter tomado, se se não conservar o que se tomou.

Pouco conhece a riqueza da saúde, quem cuida que por algum preço pode ser cara, quanto mais caríssima.

Pouco fez, ou baixamente avalia as suas acções, quem cuida que lhas podiam pagar os homens.

Prudência é o saber acomodar, para melhor luzir e viver.

Quaisquer meios são mortos se não forem activamente postos em acção por vivos e fortes instrumentos aptos para operar.

Quando as dores são iguais, sentem-se todas; quando uma é maior, suspende as outras.

Quando julgamos os outros, condenamo-nos a nós.

Quando o amor deixa de ser credor, só então é pobre. Finalmente, ser tão grande o amor que se não possa pagar, é a maior glória de quem ama…

Quando o propósito do arrependimento se ajunta com a resolução do pecado, nem é arrependimento nem é propósito, porque a resolução de pecar contradiz o propósito da emenda, e o pecado presente desfaz o arrependimento futuro.

Quando se procede contra partes não ouvidas, ainda que se pronuncie o que é justiça, sempre se procede sem justiça.

Quanto é mais eficaz e poderosa para mover os ânimos dos homens a esperança das coisas próprias, que a memória das alheias?

Quanto maior é na cabeça o esvaecimento, vem a ser mais no coração a fraqueza.

Quanto o bem desejado está mais vizinho, tanto é maior o desejo.

Que cousa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentro em si e ver-se a si mesmo?

Que não crerá o amor, quando se lhe promete o que deseja muito!

Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam nem para que o amem, esse só é fino.

Quem busca o desengano tarde, não se desengana.

Quem diz o que entende, tão fora está de mentir, que antes mentiria se fizesse o contrário.

Quem em tudo quer parecer maior, não é grande.

Quem hoje se atreveu ao criado, amanhã se atreverá ao senhor.

Quem levanta muita caça e não segue nenhuma, não é muito que se recolha de mãos vazias.

Quem não dá todos os dias do ano, não dá o ano, dá partes dele somente.

Quem não lê, não quer saber; quem não quer saber, quer errar.

Quem não pergunta por ignorância, pergunta por gosto.

Quem não tem poder não tem amigos.

Quem nas asas da fama voa também padece, porque não há asas sem penas, ainda que estas sejam as plumagens com que o benemérito se adorna.

Quem padece muito pelo que muito ama, a sua cruz é a sua glória.

Quem pode mostrar em sua mão os despojos, sempre tem por si a presunção da vitória.

Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem.

Quem quer mais que lhe convém, perde o que quer e o que tem.

Quem quiser apurar os quilates do amor, toque o amor do que se ama com o amor do que se deixa, e logo conhecerá quão fino é.

Quem se confessa por réu, não lhe fazem agravo as testemunhas.

Quem só dá aos particulares, diminui o poder, porque se faz senhor de poucos.

Quem tem muito dinheiro, por mais inepto que seja, tem talentos e préstimo para tudo; quem o não tem, por mais talentos que tenha, não presta para nada.

Quem tem seis asas e voa só com duas, sempre voa e canta. Quem tem duas asas e quer voar com seis, cansará logo e chorará.

Queremos ir ao Céu, mas não queremos ir por onde se vai para o Céu.

Saudar com os iguais é acto de amizade, com os maiores de urbanidade, e com todos de humanidade.

Se as dores inconsoláveis podem ter alguma consolação e alívio, é a semelhança ou companhia de outrém, que as padeça iguais.

Se não quero fazer companhia, arrisco-me a ficar só. Se quero ser amigo de todos, arrisco-me a ter todos por inimigos.

Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é futuro do passado, e o mesmo presente é o passado do futuro.

Se nos vendemos tão baratos, porque nos avaliamos tão caros?

Se o só não terá quem o levante, também não terá quem o derrube. E maior felicidade é carecer do perigo de quem me derrube, que haver mister o socorro de quem me levante.

Se um homem está verdadeiramente arrependido, se conhece verdadeira e profundamente as suas culpas, nunca ninguém dirá dele tanto mal, que ele se não julgue por muito pior.

Seja o futuro emenda do passado, e o que há-de ser, satisfação do que foi.

Sem igualdade e igualdade com todos, não há paz.

Sempre se deram as mãos a ruína e a felicidade.

Sempre se deve antes escolher paz do que guerra, principalmente quando na guerra é tão certa a ruína.

Sendo a glória o fim e a graça o meio de a conseguir, antepor a graça à glória e o meio ao fim, não só parece dissonância, senão desordem manifesta.

Sendo muito poucos no mundo os homens que podem luzir, aqueles diante dos quais se possa luzir, ainda são muito menos.

Sendo tão natural ao homem o desejo de ver, o apetite de ser visto é muito maior.

Só a necessidade há-de obrigar à guerra, mas a vontade sempre há-de desejar a paz.

Só no que sobeja se segura o que basta.

Só quem tem por natureza o mais, tem confiança para se chamar o menos.

Só se sabe querer bem, quem se sabe livrar de si.

Sobre presunções não assenta bem alguma condenação de direito, principalmente quando é grave.

Tanto depende o que se diz da autoridade de quem o diz.

Tanto foi em todas as idades do mundo e tanto é hoje, na curiosidade humana, o apetite de conhecer o futuro!

Tanto são maiores finezas, quanto mais ocultas, porque fazer o benefício e esconder a mão, assim como é maior generosidade, assim é maior fineza.

Tem o interesse olhos de multiplicar, ou as dignidades a que anela, ou as riquezas a que aspira, parecendo-lhe sempre mais do que são, porque estão inficcionados com o achaque da cobiça.

Todo o relógio perfeito não só dá horas, mas tem um braço mostrador com que as aponta.

Todos atiram ao alvo e poucos acertam, porque o acertar é de uma só vez, e o errar é de muitas.

Todos imos embarcados na mesma nau, que é a vida, e todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo.

Todos os que na matéria de Portugal se governaram pelo discurso, erraram e se perderam.

Todos querem mais do que podem, nenhum se contenta com o necessário, todos aspiram ao supérfluo, e isto é o que se chama luxo.

Três mais há neste mundo pelos quais anelam, pelos quais morrem e pelos quais matam os homens: mais fazenda; mais honra; mais vida.

Três mais há neste mundo, pelos quais suspiram, pelos quais anelam, pelos quais morrem, e pelos quais se matam os homens: mais fazenda, mais honra, mais vida.

Tudo conquista o amor, quando conquista uma alma, porém o primeiro rendido é o entendimento.

Um grande delito muitas vezes achou piedade; um grande merecimento nunca lhe faltou a inveja.

Uma das potências da alma é o entendimento, o qual nunca aumenta e cresce, senão quando já desfalece o corpo; amostra desta verdade é a experiência, pois nunca os homens se vêem mais avultados no entendimento, senão quando muito crescidos nos anos, e para se aumentar aquela potência da alma, parece que com os muitos anos necessariamente se hão-de desfazer as forças do corpo.

Uma velhice enganada é a maior sem-razão do tempo: uma mocidade desenganada, é a maior vitória da razão.

Uns se conservam pelo que foram, outros pelo que são.

Vemos que todo este mundo é vaidade, que a vida é um sonho, que tudo passa, que tudo acaba, e que nós havemos de acabar primeiro que tudo, e vivemos como se fôramos imortais, ou não houvera eternidade.

Vencer é avantajar-se, competir é medir-se.

Viver do próprio a pão e água é a maior penitência: viver do alheio, ainda que seja a pão e água, é grande regalo. Tão saboroso bocado é o alheio!

Citações de Marquês de Maricá

A actividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça.

A alegria do pobre, ainda que menos durável, é sempre mais intensa que a do rico.

A ambição é um enredo que nos enreda por toda a vida.

A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.

A amizade mais perfeita e mais durável é somente aquela que contraímos com o nosso interesse.

A aura popular é como a fumaça, que desaparece em poucos instantes.

A autoridade de poucos é e será sempre a razão e argumento de muitos.

A avareza contribui muito para a longevidade, pela dieta e abstinência.

A beleza é uma letra que se vence à vista, a sabedoria tem o seu vencimento a prazos.

A beneficência da vaidade é algumas vezes mais profusa que a da virtude.

A beneficência é sempre feliz e oportuna quando a prudência a dirige e recomenda.

A celebridade, que custa pouco, tem pequeno fulgor e duração.

A civilidade é uma impostura indispensável, quando os homens não têm as virtudes que ela afecta, mas os vícios que dissimula.

A cobardia, aviltando, preserva frequentes vezes a vida.

A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens.

A constância nas nossas opiniões seria geralmente embaraço e oposição ao progresso e melhoramento da nossa inteligência.

A credulidade e confiança de muitos tolos faz o triunfo de uns poucos velhacos.

A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.

A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.

A dissimulação algumas vezes denota prudência, mas ordinariamente fraqueza.

A duração de um bem não assegura a sua perpetuidade.

A esperança descobre recursos, a desesperação os renuncia.

A experiência que não dói pouco aproveita.

A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.

A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.

A filosofia desagrada, porque abstrai e espiritualiza; a poesia debita, porque materializa e figura todos os seus objectos. Quereis persuadir e dominar os homens, falai à sua imaginação, e confiai pouco na sua razão.

A filosofia não entorpece a sensibilidade, quando muito pode chegar a regulá-la.

A força é hostil a si própria, quando a inteligência a não dirige.

A força sem inteligência é como o movimento sem direcção.

A fruição desencanta muitos bens e prazeres sensuais, que a imaginação, os desejos e as esperanças figuravam encantadores.

A harmonia da sociedade, como da natureza, consiste e depende da variedade e antagonismo dos seus elementos e carácteres.

A herança dos sábios tem sempre maior extensão e perpetuidade que a dos ricos: compreende o género humano, e alcança a mais remota posteridade.

A ignorância dócil é desculpável, a presumida e refractária é desprezível e intolerável.

A ignorância pasma ou espanta-se, mas não admira.

A ignorância que deverá ser acanhada, conhecendo-se, é audaz e temerária quando não se conhece.

A ignorância tem os seus bens privativos, como a sabedoria os seus males peculiares.

A ignorância vencível no homem é limitada, a invencível infinita.

A ignorância, exagerando a nossa pouca ciência, promove a nossa grande vaidade.

A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.

A igualdade repugna de tal modo aos homens que o maior empenho de cada um é distinguir-se ou desigualar-se.

A imaginação é o paraíso dos afortunados, e o inferno dos desgraçados.

A imaginação exagera, a razão desconta, o juízo regula.

A impaciência, quando não remedeia os nossos males, agrava-os.

A imperfeição é a causa necessária da variedade nos indivíduos da mesma espécie. O perfeito é sempre idêntico e não admite diferenças por excesso ou por defeito.

A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral.

A inconstância humana é o produto necessário das variações da natureza, das circunstâncias e dos eventos.

A incredulidade que é da moda nas pessoas jovens, torna-se o seu tormento na velhice.

A indiferença ou apatia que em muitos é prova de estupidez pode ser em alguns o produto de profunda sapiência.

A ingratidão dos povos é mais escandalosa que a das pessoas.

A intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.

A intolerância irracional de muitos escusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns.

A intriga que alcança os empregos não habilita para bem servi-los.

A inveja de muitos anuncia o merecimento de alguns.

A inveja, que abrevia ou suprime os elogios, é sempre minuciosa e prolixa na sua crítica e censura.

A liberdade é a que nos constitui entes morais, bons ou maus; é um grande bem para quem tem juízo; e para quem o não tem, um mal gravíssimo.

A liberdade que nunca é suficiente para os maus é sempre sobeja para os bons.

A má educação consiste especialmente nos maus exemplos.

A maior parte dos males e misérias dos homens provêm, não da falta de liberdade, mas do seu abuso e demasia.

A maledicência é uma ocupação e lenitivo para os descontentes.

A maledicência pode muitas vezes corrigir-nos, a lisonja quase sempre nos corrompe.

A memória dos velhos é menos pronta, porque o seu arquivo é muito extenso.

A mocidade é a estação da felicidade sensual, a velhice, a da moral e intelectual.

A mocidade é temerária; presume muito porque sabe pouco.

A mocidade é um sonho que deleita, a velhice uma vigília que incomoda.

A mocidade expande-se para conhecer o mundo e os homens, a velhice contrai-se por havê-los conhecido.

A mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice.

A moda determina as opiniões de muita gente.

A moderação em muitos homens é o reconhecimento da própria fraqueza ou mediocridade.

A modéstia doura os talentos, a vaidade os deslustra.

A morte anula sempre mais planos e projectos do que a vida executa.

A morte de um avarento equivale à descoberta de um tesouro.

A morte que desordena muitas coisas, coordena muitas outras.

A morte que tira a importância a todos, confere-a a muito poucos.

A mudança rápida da temperatura do ar não é mais funesta à saúde individual do que a das opiniões políticas à tranquilidade das nações.

A nossa imaginação gera fantasmas que nos espantam durante toda a nossa vida.

A novidade incomoda os velhos, a uniformidade os moços.

A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.

A opinião da nossa importância nos é tão funesta como vantajosa e segura a desconfiança de nós mesmos.

A opinião pública é sempre respeitável, não pelo seu racionalismo, mas pela sua omnipotência muscular.

A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração que as modas.

A opinião que domina é sempre intolerante, ainda quando se recomenda por muito liberal.

A paciência dispensa a resistência e a reacção.

A paciência em muitos casos não é mais senão medo, preguiça ou impotência.

A paixão da leitura é a mais inocente, aprazível e a menos dispendiosa.

A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.

A pobreza não tem bagagem, por isso marcha livre e escuteira na viagem da vida humana.

A preguiça dificulta, a actividade tudo facilita.

A preguiça enfada e quebranta mais que o trabalho regular.

A preguiça gasta a vida, como a ferrugem consome o ferro.

A prudência é uma arma defensiva que supre ou desarma todas as outras.

A razão destrói nos homens as criações da sua própria imaginação.

A razão dos filósofos é muitas vezes tão extravagante como a imaginação dos poetas.

A razão é escrava quando a fé e autoridade são senhoras.

A razão prevalece na velhice, porque as paixões também envelhecem.

A razão também tiraniza algumas vezes, como as paixões.

A razão, sem a memória, não teria materiais com que exercer a sua actividade.

A religião amansa os bravos e alenta os fracos.

A religião supre o juízo e a razão que falta em muita gente.

A riqueza doura a sabedoria e os talentos, mas não os constitui.

A riqueza não acompanha por muito tempo os viciosos.

A sabedoria é geralmente reputada como pobre, porque não se podem ver os seus tesouros.

A sabedoria é sintética; ela expressa-se por máximas, sentenças e aforismos.

A sabedoria humana, bem ponderada, vale sempre menos do que custa.

A sabedoria indigente é menos invejada que a ignorância opulenta.

A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.

A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis.

A solidão liberta-nos da sujeição das companhias.

A tirania não é menos arriscada para o opressor, do que penosa para o oprimido.

A vaidade de muita ciência é prova de pouco saber.

A vaidade é talvez um grande condimento da felicidade humana.

A velhice reflexiva é um grande armazém de desenganos.

A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que pela sua variedade nos encantam.

A vida a uns, a morte confere celebridade a outros.

A vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca e simultaneamente intrigados e intrigantes.

A vida humana parece de algum modo tríplice, quando reflectimos que vivemos e sentimos em três tempos, no pretérito, presente e no futuro.

A vida humana seria incomportável sem as ilusões e prestígios que a circundam.

A vida reluz nos olhos, a razão nas palavras e acções dos homens.

A vida tem uma só entrada: a saída é por cem portas.

A vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.

A vingança do sábio desatendido ou maltratado é o silêncio.

A virtude diviniza-nos, o vício embrutece-nos.

A virtude é comunicável, mas o vício contagioso.

A virtude é o maior e mais eficaz preservativo dos males da vida humana.

A virtude remoça os velhos, o vicio envelhece os moços.

A virtude resplandece na adversidade, como o incenso reacende sobre as brasas.

A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.

Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.

Admiramo-nos do que é raro, ou singular, tanto no mal como no bem.

Adular os tolos é um meio ordinário de os desfrutar; os velhacos empregam-no eficazmente.

Afectamos desprezar as injúrias que não podemos vingar.

Afectamos desprezar os bens que não podemos conseguir.

Aflige-nos a glória alheia contrastada com a nossa insignificância.

Agrada-nos o homem sincero, porque nos poupa o trabalho de o estudarmos para o conhecermos.

Ainda que perdoemos aos maus, a ordem moral não lhes perdoa, e castiga a nossa indulgência.

Amamo-nos sempre em tudo o que mais amamos fora de nós.

Amamo-nos sobre tudo, e aos outros homens por amor de nós.

Ambicionando o louvor e admiração dos outros homens, provocamos frequentes vezes a sua inveja e aversão.

Ambos se enganam, o velho quando louva somente o passado, o moço quando só admira o presente.

Amigos há de grande valia, que todavia não podem fazer-nos outro bem, senão impedindo pelo seu respeito que nos façam mal.

Aprovamos algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão.

Aproveita muito subir aos maiores empregos do Estado, para nos desenganarmos da sua vanglória e inanidade.

Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.

Arguimos a vaidade alheia porque ofende a nossa própria.

As circunstâncias ordinariamente nos dominam, poucas vezes nos obedecem.

As crenças religiosas fixam as opiniões dos homens, as teorias filosóficas perturbam-nas e confundem.

As desgraças que vigoram os homens probos e virtuosos, enervam e desalentam os maus e viciosos.

As esperanças, quando se frustram, agravam mais os nossos infortúnios.

As grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem poucos seriam os livros se contivessem somente verdades. Os erros dos homens abastecem as estantes.

As ideias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.

As nossas necessidades unem-nos, mas as nossas opiniões separam-nos.

As opiniões de um século causam riso ou lástima em outros séculos.

As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objectos.

As revoluções frequentes fazem raquíticas as nações recentes.

As revoluções, que regeneram as nações velhas, arruinam e fazem degenerar as novas.

As verdades mais triviais parecem novas quando se enunciam por um modo mais elegante e desusado.

As virtudes são económicas, mas os vícios dispendiosos.

As virtudes são racionais, os vícios sensualistas.

As virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.

Bem curta seria a felicidade dos homens se fosse limitada aos prazeres da razão; os da imaginação ocupam os maiores espaços da vida humana.

Capitulamos quase sempre com os nossos males, quando os não podemos evitar ou remover.

Com pouco nos divertimos, com muito menos nos afligimos.

Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.

Como a luz numa masmorra faz visível todo o seu horror, assim a sabedoria manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua natureza.

Como o espaço compreende todos os corpos, a ambição abrange todas as paixões.

Como os sábios não adulam os povos, estes também não os promovem.

Condenamos por ignorantes as gerações pretéritas, e a mesma sentença nos espera nas gerações futuras.

Custa menos ao nosso amor-próprio caluniar a sorte, do que acusar a nossa má conduta.

De nada vale a celebridade, quando os grandes crimes também a conseguem.

Deixamos de subir alto quando queremos subir de um salto.

Descontentes de tudo, só nos contentamos com o nosso próprio juízo, por mais limitado que seja.

Desejamos que prosperem as pessoas de cuja prosperidade esperamos participar por algum modo, e receamos a elevação daquelas cujas intenções não nos são favoráveis.

Desempenhar bem os grandes empregos depende muitas vezes mais das circunstâncias que dos homens.

Desesperar na desgraça é desconhecer que os males confinam com os bens, e que se alternam ou se transformam.

Desperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve.

Desprezos há, e de pessoas tais, que honram muito os desprezados.

Deve-se julgar da opinião e carácter dos povos pelo dos seus eleitos e predilectos.

Deve-se usar da liberdade, como do vinho, com moderação e sobriedade.

Disputa-se com mais frequência sobre as coisas frívolas do que nas mais importantes; as primeiras alcançam a compreensão de todos.

Disputa-se sobre tudo neste mundo; argumento irrefragável do nosso pouco saber.

Divertimo-nos com os doidos na hipótese de que o não somos.

Dizer-se de um homem que tem juízo é o maior elogio que se lhe pode fazer.

Dói mais ao nosso amor-próprio sermos desprezados, que aborrecidos.

Dói tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.

Dos especuladores em revoluções muitos se perdem, e poucos prosperam por algum tempo.

É bem singular que os moços sejam pródigos podendo esperar uma vida longa, e que os velhos sejam avarentos estando ameaçados de uma morte próxima ou iminente.

É condição dos grandes homens serem perseguidos e maltratados na vida, e depois da sua morte lastimados, glorificados e vingados.

É fácil avaliar o juízo ou a capacidade de qualquer homem, quando se sabe o que ele mais ambiciona.

É falta de habilidade governar com tirania.

É felicidade para os homens que cada um deles a defina a seu modo com variedade, na sua essência e objectos.

É judiciosa a economia de palavras, tempo e dinheiro.

É mais difícil sustentar uma grande reputação que granjeá-la ou merecê-la.

É mais fácil cumprir certos deveres, que buscar razões para justificar-nos de o não ter feito.

É mais fácil maldizer dos homens do que instruí-los e melhorá-los.

É mais fácil perdoar os danos do nosso interesse, que os agravos do nosso amor-próprio.

É mais fácil refutar erros que descobrir verdades.

É mais útil algumas vezes a extirpação de um erro, que a descoberta de muitas verdades.

É muito difícil, e em certas circunstâncias quase impossível, sustentar na vida pública o crédito e conceito que merecemos na vida privada.

É muito provável que a posteridade, para quem tantos apelam, tenha tão pouco juízo como nós e os nossos antepassados.

É nas grandes assembleias deliberantes que melhor se conhece a disparidade das opiniões dos homens, e o jogo das paixões e interesses individuais.

É necessário saber muito para poder admirar muito.

É necessário subir muito alto para bem descortinar as ilusões e angústias da ambição, poder e soberania.

É no mundo intelectual que se admiram e apreciam as maravilhas inumeráveis do mundo sensível e material.

É quando menos se crê em milagres que os povos os exigem dos que governam.

É tal a falibilidade dos juízos humanos, que muitas vezes os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade conduzem-nos à miséria e à desgraça.

É tal a incapacidade pessoal de alguns homens, que a fortuna, empenhada em sublimá-los, não pode conseguir o seu propósito.

É tão fácil enganar, quanto é difícil desenganar os homens.

É tão fácil o prometer, e tão difícil o cumprir, que há bem poucas pessoas que cumpram as suas promessas.

É tão fácil sentir a felicidade como é difícil defini-la.

É triste a condição de um velho que só se faz recomendável pela sua longevidade.

Em certas circunstâncias o silêncio de poucos é culpa ou delito de muitos.

Em diversas épocas da nossa vida somos tão diversos de nós mesmos como dos outros homens.

Em geral o temor ou medo, e não a virtude, mantêm a ordem entre os homens.

Em matérias e opiniões políticas os crimes de um tempo são algumas vezes virtudes em outro.

Em saber gozar e sofrer, os animais levam-nos grande vantagem: o seu instinto é mais seguro do que a nossa altiva razão.

Em tese geral não há homem feliz sem mérito, nem desgraçado sem culpa.

Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós mesmos.

Enganamo-nos ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a violência dos males que tememos.

Fazemos ordinariamente mais festa às pessoas que tememos do que àquelas a quem amamos.

Folgamos com os erros alheios como se eles justificassem os nossos.

Formam-se mais tempestades em nós mesmos que no ar, na terra e nos mares.

Ganhamos frequentes vezes perdoando oportunamente.

Há benefícios conferidos com tal rudeza e grosseria que de algum modo justificam os beneficiados da sua ingratidão.

Há certos passatempos e prazeres ilícitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.

Há crimes felizes que são reputados heróicos e gloriosos.

Há duas coisas que não se perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia.

Há empregos em que é mais fácil ser homem de bem, que parecê-lo ou fazê-lo crer.

Há enganos que nos deleitam, como desenganos que nos afligem.

Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo.

Há homens que afectam de muito ocupados, para que os creiam de muito préstimo.

Há homens que hoje crêem pouco ou nada, porque já creram muito e demasiado.

Há homens que parecem grandes no horizonte da vida privada, e pequenos no meridiano da vida pública.

Há males na vida humana que são preservados de outros maiores, e muitas vezes ocasionam bens incalculáveis.

Há mentiras que são enobrecidas e autorizadas pela civilidade.

Há muita gente boa e feliz, porque não tem suficiente liberdade para se fazer má e desgraçada.

Há muita gente infeliz por não saber tolerar com resignação a sua própria insignificância.

Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.

Há muita gente que procura apadrinhar com a opinião pública as suas opiniões e disparates pessoais.

Há muita gente que, assim como o eco, repete as palavras sem lhes compreender o sentido.

Há muitas ocasiões em que a mesma prudência recomenda o aventurar-nos.

Há muitas ocasiões em que os ricos e poderosos invejam a condição dos pobres e insignificantes.

Há muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem benfeitores infelizes ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos.

Há muitos homens reputados infelizes na nossa opinião, que todavia são felizes a seu modo, segundo as suas ideias.

Há opiniões que nascem e morrem como as folhas das árvores, outras, porém, que têm a duração dos mármores e do mundo.

Há opiniões que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.

Há pessoas que dizem mal de tudo para inculcar que prestam para muito.

Há pessoas que ganham muito em ser lidas, e perdem tudo em ser tratadas: escrevem com estudo e vivem sem ele.

Há pessoas que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.

Há povos que são felizes em não ter mais que um só tirano.

Há sempre entre os homens uma sabedoria da moda, como um penteado, um calçado ou um vestuário.

Há um limite nas dores e mágoas que termina a nossa vida, ou melhora a nossa sorte.

Há verdades que é mais perigoso publicar do que foi difícil descobrir.

Ignorância e pobreza vêm de graça, não custam trabalho nem despesa.

Ignorância e preguiça a ninguém enriquecem.

Instruir e divertir os povos deve ser o empenho dos escritores; os mais hábeis são os que instruem divertindo.

Inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia.

Louvamos encarecidamente o estado, ciência ou arte que professamos, para justificar a nossa escolha e honrar as nossas pessoas.

Louvemos a quem nos louva para abonarmos o seu testemunho.

Mudai os tempos, os lugares, as opiniões e circunstâncias, e os grandes heróis se tornarão pequenos e insignificantes homens.

Mudai um homem de classe, condição e circunstâncias, vós o vereis mudar imediatamente de opiniões e de costumes.

Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas.

Muita luz deslumbra a vista, muita ciência confunde o entendimento.

Muitas pessoas se prezam de firmes e constantes que não são mais que teimosas e impertinentes.

Muito se perde por falta de inteligência, porém muito mais por preguiça e aversão ao trabalho.

Muitos homens são louvados porque são mal conhecidos.

Na admissão de uma opinião ou doutrina, os homens consultam primeiramente o seu interesse, e depois a razão ou a justiça, se lhes sobeja tempo.

Na mocidade buscamos as companhias, na velhice evitamo-las: nesta idade conhecemos melhor os homens e as coisas.

Na nossa conta corrente com a natureza raras vezes lhe creditamos os muitos bens de que gozamos, mas nunca nos esquecemos de debitar-lhe os poucos males que sofremos.

Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.

Não desenganemos os tolos se não queremos ter inumeráveis inimigos.

Não desespereis na desgraça, ela é frequentes vezes uma transição necessária para a boa fortuna.

Não é a fortuna, mas juízo somente, o que falta a muita gente.

Não é dado ao saber humano conhecer toda a extensão da sua ignorância.

Não é livre quem não tem inteligência suficiente para adquirir ou defender a liberdade.

Não é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranquilidade.

Não é raro aborrecermos aquelas mesmas pessoas que mais admiramos.

Não emprestes, não disputes, não maldigas, e não terás de te arrepender.

Não há coisa mais fácil que vencer os outros homens, nem mais difícil que vencer-nos a nós mesmos.

Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.

Não há homem que não deseje ser absoluto, aborrecendo cordialmente o absolutismo em todos os outros.

Não há inimigo desprezível, nem amigo totalmente inútil.

Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem juízo.

Não invejemos os que sobem muito acima de nós: a sua queda será muito mais dolorosa do que a nossa.

Não podemos deixar de ser difusos com os ignorantes, mas devemos ser concisos com os inteligentes.

Não provoques o Poder, que ele se tornará cruel e despótico no seu desagravo.

Não são incompatíveis muita ciência e pouco juízo.

Não se apaga o fogo com resinas, nem a cólera com más palavras.

Não se pode formar bom conceito de quem não tem boa opinião de pessoa alguma.

Não se reconhece tanto a ignorância dos homens no que confessam ignorar, como no que blasonam de saber melhor.

Não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser.

Nas revoluções dos povos a insignificância é a maior garantia de segurança pessoal.

Nas revoluções políticas os povos ordinariamente mudam de senhores sem mudarem de condição.

Nenhum governo é bom para os homens maus.

Nenhum homem é tão bom como o seu partido o apregoa, nem tão mau como o contrário o representa.

Nenhum tempo e nenhum lugar nos agrada tanto como o tempo que não existe, e o lugar em que não estamos.

Ninguém avalia tão caro o nosso merecimento, como o nosso amor-próprio.

Ninguém considera a sua ventura superior ao seu mérito, mas todos se queixam das injustiças dos homens e da fortuna.

Ninguém duvida tanto como aquele que mais sabe.

Ninguém é grande homem em tudo e em todo o tempo.

Ninguém é mais adulado que os tiranos: o medo faz mais lisonjeiros que o amor.

Ninguém é tão prudente em despender o seu dinheiro, como aquele que melhor conhece as dificuldades de o ganhar honradamente.

Ninguém é tão solícito e diligente em requerer empregos, como aqueles que menos os merecem.

Ninguém mente tanto nem mais do que a História.

Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como a nossa consciência.

Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como à nossa consciência.

Ninguém quer passar por tolo, antes prefere parecer velhaco.

Ninguém resiste à lisonja sendo administrada, oportunamente, com a perícia e destreza de um hábil adulador.

Ninguém se agasta tanto do desprezo como aqueles que mais o merecem.

Ninguém se conhece tão bem como aquele que mais desconfia de si próprio.

Nobre e ilustrada é a ambição que tem por objecto a sabedoria e a virtude.

Nos altos empregos os grandes homens parecem ainda maiores; mas os pequenos figuram de mais diminutos.

Nos nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes, ou inábeis.

Num povo ignorante a opinião pública representa a sua própria ignorância.

Nunca os louvores que damos são gratuitos; temos sempre em vista alguma retribuição por este sacrifício do nosso amor-próprio.

Nunca perdemos de vista o nosso interesse, ainda mesmo quando nos inculcamos desinteressados.

O ambicioso, para o ser muito, afecta algumas vezes não valer nada.

O amor na mocidade é ocupação, na velhice distracção ou alienação.

O amor-próprio do tolo, quando se exalta, é sempre o mais escandaloso.

O arrependimento é ineficaz quando as reincidências são consecutivas.

O ateísmo é tão raro quanto é vulgar o politeísmo e a idolatria.

O avarento é o mais leal e fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.

O avarento, por um mau cálculo, sofre de presente os males que receia no futuro.

O coração enlutado eclipsa o entendimento e a razão.

O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos laboriosa.

O entusiasmo é um género de loucura que conduz algumas vezes ao heroísmo, e muitas outras a grandes crimes e malfeitorias.

O erro máximo dos filósofos foi pretender sempre que os povos filosofassem.

O espírito de intriga inculca demérito nos intrigantes.

O espírito vive de ficções, como o corpo se nutre de alimentos.

O estudo confere ciência, mas a meditação, originalidade.

O estudo da história acumula sobre a experiência individual a de muitos séculos e milénios.

O fraco ofendido atraiçoa, o forte e magnânimo perdoa.

O fraco ofendido desabafa maldizendo.

O futuro é como o papel em branco em que podemos escrever e desenhar o que queremos.

O governo dos tolos é sempre mais infesto aos povos que o dos velhacos.

O homem de juízo aproveita, o tolo desaproveita a experiência própria.

O homem de palavra é aquele que menos fala.

O homem mais sensível é necessariamente o menos livre e independente.

O homem que cala e ouve não dissipa o que sabe, e aprende o que ignora.

O homem que despreza a opinião pública é muito tolo ou muito sábio.

O homem que frequentes vezes se inculca por honrado e probo, dá justos motivos de suspeitar-se que não é tal ou tanto como se recomenda.

O homem que não é indulgente com os outros, ainda não se conhece a si próprio.

O hóspede acanhado é um dobrado incómodo para quem o hospeda.

O ignorante espanta-se do mesmo que o sábio mais admira.

O império mais poderoso e fatal que existe é o das circunstâncias.

O insignificante presume dar-se importância maldizendo de tudo e de todos.

O interesse explica os fenómenos mais difíceis e complicados da vida social.

O interesse forma as amizades, o interesse dissolve-as.

O interesse sempre transparece no desinteresse que afectamos.

O invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque os outros gozam.

O juízo, por mais vulgar, é menos apreciado que o engenho.

O lisonjeiro conta sempre com a abonação do nosso amor-próprio.

O louvor fecundo distingue menos que a admiração silenciosa.

O louvor não merecido embriaga como o vinho.

O louvor que mais prezamos é justamente aquele que menos merecemos.

O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.

O luxo, como o fogo, devora tudo e perece de faminto.

O mal ou bem que fazemos aos outros reverte sobre nós acrescentado.

O medo é a arma dos fracos, como a bravura a dos fortes.

O medo e o entusiasmo são contagiosos.

O medo faz mais tiranos que a ambição.

O meio mais eficaz de nos vingarmos dos nossos inimigos é fazendo-nos mais justos e virtuosos do que eles.

O melhor sono da vida a inocência o dorme, ou a virtude.

O muito juízo é um grande tirano pessoal.

O mundo floresce pela vida, e renova-se pela morte.

O nosso amor-próprio é muitas vezes contrário aos nossos interesses.

O nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças.

O nosso amor-próprio exalta-se mais na solidão: a sociedade reprime-o pelas contradições que lhe opõe.

O nosso bom, ou mau procedimento, é o nosso melhor amigo, ou pior inimigo.

O nosso espírito é essencialmente livre, mas o nosso corpo torna-o frequentes vezes escravo.

O nosso orgulho eleva-nos para que nos precipitemos de mais alto.

O ódio e a guerra que declaramos aos outros gasta-nos e consome-nos a nós mesmos.

O orgulho pode parecer algumas vezes nobre e respeitável, a vaidade é sempre vulgar e desprezível.

O pobre lastima-se de querer e não poder, o avarento ufana-se de que pode, mas não quer.

O poder repartido por muitos não é eficaz em nenhum.

O prazer do crime passa, o arrependimento sobrevem e o remorso perpetua-se.

O prazer que mais deleita é o que provém da satisfação de uma necessidade mais incómoda e urgente.

O pródigo pode ser lastimado, mas o avarento é quase sempre aborrecido.

O que ganhamos em autoridade, perdemos em liberdade.

O que há de melhor nos grandes empregos é a perspectiva ou a fachada com que tanta gente se embeleza.

O que mais sabe, menos sofre: a sabedoria infinita é impassível.

O que se qualifica em alguns homens como firmeza de carácter não é ordinariamente senão emperramento de opinião, incapacidade de progresso, ou imutabilidade da ignorância.

O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.

O roubo de milhões, enobrece os ladrões.

O saber é riqueza, mas de qualidade tal que a podemos dissipar e desbaratar sem nunca empobrecermos.

O sábio que não fala nem escreve é pior que o avarento que não despende.

O silêncio é o melhor rebuço para quem não se quer revelar, ou fazer-se conhecer.

O silêncio é o melhor salvo conduto da mais crassa ignorância como da sabedoria mais profunda.

O silêncio, ainda que mudo, é frequentes vezes tão venal como a palavra.

O temor da morte é a sentinela da vida.

O tempo pretérito se torna presente pela memória, e o futuro pela nossa imaginação.

O trabalho é amargo, mas os seus frutos são doces e aprazíveis.

O trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal concebido e pior executado.

O valor mais resoluto é o que procede da desesperação.

O velho calcula muito, executa pouco: a mocidade é mais executiva que deliberativa.

O velho crê-se feliz em não sofrer, o moço infeliz em não gozar.

O velho teme o futuro e abriga-se no passado.

Ocupados em descobrir os defeitos alheios, esquecemo-nos de investigar os próprios.

Onde os homens se persuadem que os governos os devem fazer felizes, e não eles a si próprios, não há governo que os possa contentar nem agradar-lhes.

Ordem social é limitação de liberdade; desordem, liberdade ilimitada.

Ordinariamente nos fingimos distraídos quando não nos convém parecer atentos.

Ordinariamente tratamos com indiferença aquelas pessoas de quem não esperamos bens nem receamos males.

Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.

Os acontecimentos políticos humilham e desabonam mais a sabedoria humana que quaisquer outros eventos deste mundo.

Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir.

Os anarquistas são como os jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas, ou mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.

Os anos mudam as nossas opiniões, da mesma forma que alteram a nossa fisionomia.

Os arrufos entre amantes podem ser renovações de amor, mas entre os amigos são deteriorações da amizade.

Os benefícios conferidos levam sempre o ónus da gratidão e reconhecimento.

Os bens de que gozamos exercem sempre menos a nossa razão do que os males que sofremos.

Os bens que a ambição promete são como os do amor, melhores imaginados que conseguidos.

Os bens que a virtude não dá ou não preserva são de pouca duração.

Os bons conselhos desagradam aos apaixonados como os remédios aos que estão doentes.

Os bons presumem sempre bem dos outros; os maus, pelo contrário, sempre mal; uns e outros dão o que têm.

Os bons tremem quando os maus não temem.

Os conselhos dos moços derivam das suas ilusões, os dos velhos, dos seus desenganos.

Os crimes fecundam as revoluções, e dão-lhes posteridade.

Os elogios de maior crédito são os que os nossos próprios inimigos nos tributam.

Os empregos que por intrigas e facções se alcançam, por facções e intrigas se perdem.

Os erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como os dobrões de ouro.

Os erros de uns são lições para outros, estes acertam porque aqueles erraram.

Os erros de uns são lições para outros; estes acertam porque aqueles erraram.

Os espíritos metódicos são ordinariamente os menos sublimes e transcendentes.

Os faladores não nos devem assustar, eles revelam-se: os taciturnos incomodam-nos pelo seu silêncio, e sugerem justas suspeitas de que receiam fazer-se conhecer.

Os filósofos vivem em disputa e morrem na dúvida.

Os governos fracos fazem fortes os ambiciosos e insurgentes.

Os governos tendem à monarquia, como os corpos gravitam para o centro da terra.

Os grandes empregos desacreditam e ridicularizam os pequenos homens.

Os grandes homens em certas relações são pequenos homens em outras.

Os grandes, os ricos e os sábios sorriem-se: os pequenos, os pobres e os néscios dão gargalhadas.

Os homens afectam desinteresse para melhor promoverem os seus interesses.

Os homens crêem tão pouco na autoridade da própria razão que acabam por justificá-la com a alegação da dos outros.

Os homens de bem perdem e empobrecem nos mesmos empregos em que os velhacos ganham e se enriquecem.

Os homens de extraordinários talentos são ordinariamente os de menor juízo.

Os homens de pouca inteligência não sabem encarecer a própria capacidade sem rebaixar a dos outros.

Os homens disfarçam-se, tal como as mulheres se enfeitam, para agradarem ou enganarem.

Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.

Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.

Os homens em sociedade são como as pedras numa abóbada, resistem e ajudam-se simultaneamente.

Os homens enganam-se miseravelmente quando esperam encontrar a sua felicidade, mais na forma dos seus governos que na reforma dos seus costumes.

Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e desgosto.

Os homens mais orgulhosos são geralmente os mais irritáveis e vingativos.

Os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis.

Os homens não sabem avaliar-se exactamente: cada um é melhor ou pior do que os outros o consideram.

Os homens nos parecerão sempre injustos enquanto o forem as pretensões do nosso amor-próprio.

Os homens poderiam parecer-nos mais justos ou menos injustos, se não exigíssemos deles mais do que podem ou devem dar-nos.

Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda.

Os homens probos são menos capazes de dissimulação do que os velhacos.

Os homens são geralmente tão avaros do seu dinheiro, como pródigos dos seus conselhos.

Os homens são poucas vezes o que parecem; eles trabalham incessantemente por parecer o que não são.

Os homens são sempre mais verbosos e fecundos em queixar-se das injúrias do que em agradecer os benefícios.

Os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.

Os homens têm geralmente saúde quando não a sabem apreciar, e riqueza quando a não podem gozar.

Os homens têm querido dar razão de tudo, para dissimular ou encobrir o seu pouco saber.

Os homens, para não desagradarem aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os bons, a quem respeitam.

Os ignorantes exageram sempre mais que os inteligentes.

Os ingratos pensam minorar ou justificar a sua ingratidão, memorando com frequência os vícios e defeitos dos seus benfeitores.

Os insignificantes são como os mascarados, audazes por desconhecidos.

Os louvores que nos dão os nossos inimigos podem ser diminutos, mas nunca são exagerados.

Os maiores detractores dos governos são aqueles que pretendem governar.

Os mais arrojados em falar são ordinariamente os menos profundos em saber.

Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecer crédito ainda que digam verdades.

Os males da vida são os nossos melhores preceptores, os bens, os nossos maiores aduladores.

Os maus não nos levam em conta a nossa bondade e indulgência, reputam-na fraqueza, e tiram o argumento para multiplicar as suas malfeitorias.

Os maus não são exaltados para serem felizes, mas para que caiam de mais alto e sejam esmagados.

Os maus queixam-se de todos, os bons de poucos, os melhores de ninguém ou de si próprios.

Os moços de juízo honram-se em parecer velhos, mas os velhos sem juízo procuram figurar como moços.

Os moços são tão solícitos sobre o seu vestuário, quanto os velhos são negligentes: aqueles atendem mais à moda e à elegância, estes à sua comodidade.

Os moços, por falta de experiência, de nada suspeitam, os velhos, por muito experimentados, de tudo desconfiam.

Os nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento moral. Eles são os historiadores dos nossos erros, vícios e imperfeições.

Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões.

Os Outros

Os pequenos inimigos, ainda que menos danosos, são sempre mais incómodos que os grandes.

Os pobres divertem-se com pouco dinheiro, os ricos enojam-se com muita despesa.

Os povos desencantados tornam-se insubordinados.

Os povos, como as pessoas, variam de opiniões e gostos, e na sua inconstância passam frequentes vezes de um a outro extremo.

Os que asseveram que os maus são ou podem ser felizes, não têm noções claras da genuína felicidade.

Os que falam em matérias que não entendem parecem fazer gala da sua própria ignorância.

Os que governam preferem o engano que os deleita à verdade que os incomoda.

Os que mais possuem não são os que melhor digerem.

Os que não sabem aproveitar o tempo dissipam o seu, e fazem perder o alheio.

Os que reclamam para si maior liberdade são os que ordinariamente menos a toleram e permitem nos outros.

Os sábios duvidam mais que os ignorantes; daqui provém a filáucia destes e a modéstia daqueles.

Os sábios falam pouco e dizem muito, generalizando e abstraindo resumem tudo.

Os sábios que são respeitados pelos seus escritos são algumas vezes desprezíveis pelas suas acções.

Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem.

Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.

Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito.

Os velhos caluniam o tempo presente atribuindo-lhes os males de que padecem, consequências do passado.

Os velhos dão bons conselhos para se redimirem de ter dado maus exemplos.

Os velhos erram muitas vezes por demasiadamente prudentes, os moços quase sempre por temerários.

Os velhos invejam a saúde e vigor dos moços, estes não invejam o juízo e a prudência dos velhos: uns conhecem o que perderam, os outros desconhecem o que lhes falta.

Os velhos prezam ordinariamente os mortos e desprezam os vivos.

Os velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão uma ideia favorável da maturidade e progresso da sua inteligência.

Os velhos que seguem as modas, presumem rejuvenescer com elas.

Os velhos ruminam o pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro.

Os velhos tornam-se nulos e inúteis à força de prudência e circunspecção.

Os vícios, como os cancros, têm a qualidade de corrosivos.

Para bem conhecer os homens, é necessário primeiramente vê-los e praticá-los de perto, e depois estudá-los e meditá-los de longe.

Para quem não tem juízo os maiores bens da vida convertem-se em gravíssimos males.

Perante um auditório de tolos, os velhacos tornam-se fecundos, e os doutos silenciosos.

Perdoamos mais vezes aos nossos inimigos por fraqueza, que por virtude.

Podemos reunir todas as virtudes, mas não acumular todos os vícios.

Pouco dizemos quando o interesse ou a vaidade não nos faz falar.

Pouco espírito inutiliza muito saber.

Pouco saber exalta o nosso amor-próprio, muito saber humilha-o.

Prezamos e avaliamos a vida muito mais no seu extremo que no seu começo.

Quando a cólera ou o amor nos visita a razão se despede.

Quando a consciência nos acusa, o interesse ordinariamente nos defende.

Quando defendemos os nossos amigos, justificamos a nossa amizade.

Quando moços, contamos tantos amigos quantos conhecidos; porém maduros pela experiência, não achamos um homem de cuja probidade fiemos a execução do nosso testamento.

Quando não podemos gozar a satisfação da vingança, perdoamos as ofensas para merecer ao menos os louvores da virtude.

Quando o amor nos visita, a amizade despede-se.

Quando o interesse é o avaliador dos homens, das coisas e dos eventos, a avaliação é quase sempre imperfeita e pouco exacta.

Quando os tiranos caem, os povos levantam-se.

Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca sorte, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo.

Queixamo-nos da fortuna para desculpar a nossa preguiça.

Quem desconfia de si próprio, menos pode confiar nos outros.

Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.

Quem não desconfia de si, não merece a confiança dos outros.

Quem não espera na vida futura, desespera na presente.

Quem não pode ou não sabe acumular, nunca chega a ser sábio nem rico.

Querendo parecer originais, tornamo-nos ridículos ou extravagantes.

Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.

Saber viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade que muita gente morre sem a ter compreendido.

São incalculáveis os benefícios que provêm da noção de incerteza do dia e ano da nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade.

Se a vida é um mal, por que tememos morrer; e se um bem, porque a abreviamos com os nossos vícios?

Se as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam os mais instruídos.

Se fôssemos sinceros em dizer o que sentimos e pensamos uns dos outros, em declarar os motivos e fins das nossas acções, seríamos reciprocamente odiosos e não poderíamos viver em sociedade.

Sem as ilusões da nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito diminuto e limitado.

Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa.

Sobeja-nos tanto a paciência para tolerar os males alheios, quanto nos falta para suportar os próprios.

Sofrei privações na mocidade, e sereis regalados na velhice.

Somos benfazentes mais vezes por vaidade que por virtude.

Somos bons consoladores, e muito maus sofredores.

Somos em geral demasiadamente prontos para a censura, e demasiadamente tardos para o louvor: o nosso amor-próprio parece exaltar-se com a censura que fazemos, e humilhar-se com o louvor que damos.

Somos enganados mais vezes pelo nosso amor-próprio do que pelos homens.

Somos muitas vezes maldizentes para nos inculcarmos perspicazes.

Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se não há-de aceitar.

Somos muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.

Somos tão avaros em louvar os outros homens, que cada um deles se crê autorizado a louvar-se a si próprio.

Sucede aos homens como às substâncias materiais, as mais leves e menos densas ocupam sempre os lugares superiores.

Sucede frequentes vezes admirarmos de longe o que de perto desprezamos.

Ter privança com os que governam é contrair responsabilidade no mal que fazem, sem partilhar o louvor do bem que operam.

Todas as virtudes são restrições, todos os vícios, ampliações da liberdade.

Todos querem liberdade, muitos a possuem, poucos a merecem.

Todos reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.

Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens de que gozam.

Um grande crime glorificado ocasiona e justifica todos os outros crimes e atentados subsequentes.

Um grande mérito força o respeito, e afugenta a adulação.

Um homem pode saber mais do que muitos, porém nunca tanto como todos.

Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto.

Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.

Uma grande reputação é talvez mais incómoda que a insignificância pessoal.

Unir para desunir, fazer para desfazer, edificar para demolir, viver para morrer, eis aqui a sorte e condição de natureza humana.

Uns homens ocasionam os males e exigem que outros os remedeiem.

Uns homens sobem por leves como os vapores e gases, outros como os projécteis pela força do engenho e dos talentos.

Viver é doce; viver é agro: nesta alternativa se passa a vida.