Álvaro Cunhal

Citações de Álvaro Cunhal

A construção de um Portugal democrático será gravemente limitada ou mesmo impedida se os monopólios estrangeiros continuarem sendo reis e senhores de Portugal. A construção de um regime democrático deve significar a libertação do imperialismo estrangeiro e a conquista da real independência nacional.

A criatividade dos trabalhadores e das massas populares em luta na revolução de Abril é um grande ensinamento.

A existência de nações europeias privadas de uma verdadeira independência nacional é um factor prejudicial ao estabelecimento duma paz duradoura, além do mais porque essa situação de subjugação nacional não se revela apenas nos aspectos económicos, mas no domínio político, diplomático e militar.

A história do comunismo, do movimento comunista, é no fundamental, embora num percurso acidentado, a história de uma luta social constante na defesa dos interesses e direitos dos explorados e oprimidos, tendo como objectivo construir uma sociedade nova e melhor, o que implica confiança no ser humano e exclui a crença em formas sobrenaturais, que decidam do seu destino. Os objectivos e a luta dos comunistas hoje são inseparáveis dos objectivos e da luta desde o Manifesto Comunista de 1848. A Igreja católica pouco tem a ver com os primeiros cristãos que eram perseguidos. Aquele aquem se atribui a fundação da Igreja, S. Pedro, foi crucificado e de cabeça para baixo. Quando, alguns dizem que Cristo foi o primeiro comunista, atribuem-lhe ideias e comportamentos com os quais pouco ou nada têm a ver as ideias e os comportamentos da Igreja Católica ao longo dos anos, pois ela se tornou um elemento integrante do feudalismo, e depois do capitalismo, a não ser em alguns dos seus sectores que retomam as melhores ideias e comportamentos atribuídos a Cristo.

A luta pela paz e a segurança na Europa está também intimamente ligada à luta pela verdadeira independência nacional de todas as nações europeias. Posições económicas dominantes representam meios de influência e de intervenção na política interna de outros Estados e meios de pressão diplomática.

A organização não é uma palavra mágica de que resultem efeitos pelo facto de muitas vezes se proferir. Se se diz mil vezes que é necessário organizar e nada se organiza, mais vale estar calado. A organização é trabalho concreto e quotidiano. A propaganda da necessidade de organizar só tem valor, se é acompanhada dum trabalho de organização efectivo.

A política de exploração, opressão e terror da ditadura é a política de protecção dos interesses monopolistas. Só eliminando o poder dos monopólios poderão as riquezas nacionais ser aproveitadas em benefício do povo e da nação, poderá ser dado um impulso ao desenvolvimento económico no quadro da liberdade e da democracia, poderá elevar-se o nível de vida das classes trabalhadoras e do povo em geral.

Acho que sou um comunista como os outros comunistas.

Acho que sou uma pessoa sincera e espontânea.

As grandes conquistas da Revolução, que foram inscritas na Constituição da República elaborada e aprovada pela Assembleia Constituinte em 1976, a abolição do capitalismo monopolista, a nacionalização dos sectores básicos, a reforma agrária e outras, podem ler-se no programa do Partido Socialista aprovado no Congresso que realizou em Dezembro de 1974. Mas, como Mário Soares já disse, “programas são programas”, e assim achou certamente muito natural meter tudo isso numa gaveta ou deitar tudo isso para o cesto dos papéis.

As grandes revoluções e as suas conquistas não foram só obra dos chefes, dos dirigentes, dos órgãos de poder instaurados. Nós, os comunistas portugueses, compreendemos uma revolução que se propõe realizar profundas transformações progressistas, não só com o apoio do povo, mas com o seu empenhamento, entusiasmo, criatividade e coragem.

É também uma lição da história e uma evidência da actual situação internacional que as forças agressivas do imperialismo se apoiam sempre, além fronteiras, nos regimes e nas forças mais reaccionárias, apoiando estes por sua vez.

Eu aprecio e valorizo o humor.

Eu sou do signo Escorpião e tem sucedido que, quando chega o signo, recebo cartas amistosas escritas a sério ou a brincar, com o horóscopo apropriado. Num dos anos passados recebi um horóscopo de um astrólogo que já morreu e que me comunicava, e disse-o publicamente, que o horóscopo anunciava a minha morte nesse mesmo ano. Deve ter trocado os horóscopos.

Fiz uma tradução de Rei Lear para mim com gramática shakesperianas e dicionários shakesperianos.

Nas nossas mãos os destinos das nossas vidas.

Nem todos quantos estão dispostos a lutar pela liberdade estão dispostos a lutar pelo socialismo, mas todos quantos estão dispostos a lutar pelo socialismo estão prontos a lutar pela liberdade.

No combate à Intersindical e ao movimento sindical, as forças reaccionárias, conservadoras e reformistas invocam constantemente a liberdade sindical. Mas a “liberdade sindical” que defendem representaria de facto, se aplicada, a cisão do movimento sindical e a subordinação de sindicatos ao contrôle de organizações e forças estranhas às classes trabalhadoras.

No que respeita à organização da sociedade e ao Estado, as lições da história obrigam a prevenções. O poder está muito viciado, o poder defende-se, o poder corrompe e é susceptível de corromper. O abuso de poder é fácil, nas instituições, na sociedade, nos órgãos de poder, em qualquer aspecto da vida social. Também nos partidos. É necessário impedir-se e pode impedir-se um poder assim concebido e realizado. Como? Com formas e mecanismos democráticos de fiscalização, incluindo por parte daqueles sobre quem o poder é exercido. Seja no Estado, seja na sociedade, seja na família, seja nos partidos.

Nós queremos que a política seguida em Portugal seja efectivamente portuguesa, seja determinada pelos interesses da maioria da população portuguesa e não pelos interesses de um ínfimo punhado de multimilionários que se tornam cúmplices dos imperialistas estrangeiros nos conselhos de administração das grandes companhias. Nós queremos que a independência portuguesa seja uma realidade vivida pelo nosso povo e não uma frase para fins publicitários.

Numa sociedade em que há classes dominantes e há classes dominadas, aqueles que escrevem a História pertencem em geral às classes dominantes e escrevem a história com critérios da sua classe. Há sem dúvida historiadores que, situando-se social e ideológicamente no âmbito das classes dominantes, procedem a uma investigação séria. Mas é muito raro fugirem a critérios de classe na investigação e na apreciação e valorização relativa que fazem dos problemas e dos acontecimentos.

Os imperialistas estrangeiros têm nas suas mãos os principais recursos nacionais, predominam no mercado interno e dominam o comércio externo, vendem-nos caro e compram-nos barato, pilham as nossas riquezas, exploram o nosso trabalho e reduzem Portugal à condição de um país dependente e semicolonial.

Se todo o aborto é um mal, a clandestinização do aborto é uma catástrofe.

Sem organização podem fazer-se “coisas”. Mas não se podem lançar grandes lutas, dar-lhes continuidade, elevá-las a um nível superior.

Ser comunista não é apenas uma forma de agir politicamente. É uma forma de pensar, de sentir e de viver.

Shakespeare não era apenas um dramaturgo; era também um grande poeta.

Só dogmáticos podem pretender explicar a vida social, na sua extrema riqueza, diversidade e complexa e irregular evolução, com a aplicação de fórmulas imutáveis ou com a citação de textos.

Tenho filhos e amo-os como qualquer pai ama os filhos.