Citações de António Lobo Antunes

A amizade é regida pelo mesmo mecanismo que o amor, é instantânea e absoluta.

A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.

A gente não pode compreender os sentimentos sem o contrário deles.

A melhor maneira de lidar com os outros é tomá-los por aquilo que eles acham que são e deixá-los em paz.

Aprende-se a escrever, lendo. E também é necessária uma grande humildade face ao material da escrita. É a mão que escreve. A nossa mão é mais inteligente do que nós. Não é o autor que tem de ser inteligente, é a obra. O autor não escreve tão bem quanto os livros.

Cada vez gosto mais de ser português e cada vez tenho mais orgulho no meu país. É-me insuportável ouvir dizer «somos um país pequeno e periférico». Para mim Portugal é central e muito grande.

É mais sensual uma mulher vestida do que uma mulher despida. A sensualidade é o intervalo entre a luva e o começo da manga.

É preciso viver, viver como homem comum entre homens comuns. Só um homem comum pode fazer grandes coisas.

Eu gosto desta terra. Nós somos feios, pequenos, estúpidos, mas eu gosto disto.

Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas cosas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (…) Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas.

Idealmente, a missão da crítica seria ajudar a ler. Em teoria, o crítico será um leitor mais atento do que os outros. Não tem necessariamente que emitir juízos de valor. Temos tendência a gostar só dos que são da nossa família, as ideias confundem-se com as nossas paixões.

Isto às vezes é tremendo porque a gente quer exprimir sentimentos em relação a pessoas e as palavras são gastas e poucas. E depois aquilo que a gente sente é tão mais forte que as palavras…

Muitas vezes as coisas que nos tocam mais são aquelas que na altura em que estão a acontecer nem nos apercebemos.

Não há honestidades possíveis. Ou há honestidade ou não há.

Não quero que me respeitem a mim, quero que respeitem a honestidade do meu trabalho.

Não tenho pensamentos abstractos quando estou a escrever. Estou tão preocupado a fazer o livro que nem sequer me pergunto o que é que isto quer dizer, nem sequer pergunto o que estou a escrever. Às vezes nem sequer sabemos se estamos a acertar no papel. Só quando se começa a trabalhar é que se vê se acertámos ou não.

Ninguém é bom ou mau na cama. Se há um problema sexual, é outra coisa, mas senão há problemas concretos, basta que se goste muito de uma mulher; se isso acontece, ela é a melhor na cama.

Ninguém é mais crédulo do que um desesperado.

Ninguém sabe o que é a morte, mas não faz muita diferença porque também nunca sabemos o que é a vida.

No amor podemos substituir uma pessoa por outra, mas não na amizade, porque cada amigo tem o seu lugar e não podemos substitui-lo.

Nós não inventamos nada. Quando estamos a fazer um livro estamos a falar de nós mesmos. É você que está no livro, através daquelas vozes. Ou melhor, é apenas uma voz.

Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas.

O grande artista traz uma forma diferente de colorir.

O livro é um organismo que vive independente e surpreende-nos a cada passo. Um livro não se faz com ideias, faz-se com palavras. São as palavras que se geram umas às outras. E com trabalho.

O nível médio daquilo que se publica, seja onde for, é muito baixo. Esta é a verdade em todo o mundo. As pessoas compram coisas que falam sobre o hoje e quando o hoje se tornar ontem já ninguém vai ler aquilo.

O problema dos partidos (políticos) é que se tornam reaccionários porque têm de funcionar com o aparelho, como qualquer igreja.

O próprio do homem é viver livre numa prisão. Estamos sempre condicionados e até prisioneiros de nós próprios.

Os fins-de-semana são horríveis para os casamentos. Em Portugal resolveram o problema com um jornal enorme, que vem em saco plástico.

Os homens nuca dizem: «Já não gosto.» Dizem: «O problema não está em ti, está em mim. Preciso de pensar, preciso de espaço…». As mulheres são muito mais directas: «Deixei de gostar de ti.» E pronto. Os homens nunca o dizem porque querem que a mulher fique de reserva.

Os livros permitiram-me conhecer pessoas melhores do que nós. Que têm um calibre humano que eu não tenho.

Por que é que havia de me sentir sozinho? Raras vezes na minha vida, desde que me lembro de mim, tive um sentimento de solidão. E não me sinto mal na minha companhia, divertimo-nos muito os dois, eu e eu. Não me aborreço.

Qualquer entrevista é muito inferior a um livro. O livro permite corrigir-se. A entrevista necessariamente está cheia de lugares comuns.

Quando lemos um bom escritor é para nos conhecermos a nós mesmos.

Quando se critica, estamos a julgar. Se julgarmos já não compreendemos, porque julgar implica condenar ou absolver.

Quanto mais silêncio houver num livro, melhor ele é. Porque nos permite escrever o livro melhor, como leitor.

Quem lê é a classe média.

São precisas muitas mulheres para esquecer uma mulher inteligente.

Sinto uma consideração quase nula pelo que, em Portugal, se publica. Desgosta-me a infinidade de romances desonestos, entendendo por desonestidade não a falta de valor intrínseco óbvio (isso existe em toda a parte) mas a rede de lucro rápido através da banalização da vida. Livros reles de autores reles.

Só há grupos onde existem fraquezas individuais.

Tenho uma certa desconfiança em relação à palavra pensar. Quando se está a escrever, podemos pensar enquanto indivíduo. mas enquanto escritor… Sempre me fez confusão as pessoas que dizem: «tenho um livro na cabeça só me falta escrever».