José Saramago

Citações de José Saramago

A democracia não se pode limitar à simples substituição de um governo por outro. Temos uma democracia formal, precisamos de uma democracia substancial.

A doença mortal do homem, como homem, é o egoísmo.

A eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e o Universo não saberá que nós existimos.

A felicidade consiste em dar passos na direcção de si próprio e ver o que se é.

A felicidade é só estar em paz consigo mesmo, olharmos para nós e recordar que não fizemos muito mal aos outros.

A felicidade é só uma invenção para tornar a vida mais suportável.

A finitude é o destino de tudo.

A grande sabedoria, penso eu, é ter um sentido relativizado de tudo. Não dramatizar nada.

A grande vitória da minha vida é sentir que, no fundo, o mais importante de tudo é ser boa pessoa. Se pudesse inaugurar uma nova Internacional, seria a Internacional da Bondade.

A História é tão pródiga, tão generosa, que não só nos dá excelentes lições sobre a actualidade de certos acontecidos outrora como também nos lega, para governo nosso, umas quantas palavras, umas quantas frases que, por esta ou aquela razão, viriam a ganhar raízes na memória dos povos.

A literatura é o resultado de um diálogo de alguém consigo mesmo.

A literatura não é a vida e também não é uma imitação da vida. Nada do que entra num livro vem de outro lugar que não seja este mundo mas o romance, ao achar-se feito, entra ele também a influir na vida.

A minha posição é a de constante interrogação.

A nossa vida é feita do que nós fazemos por ela, e do que temos que aceitar dos outros.

A palavra deixou de ter conteúdo e de ter qualquer coisa dentro, é pronunciada com uma leviandade total.

A palavra mais necessária nos tempos em que vivemos é a palavra não. Não a muita coisa, não a uma quantidade de coisas que eu me dispenso de enumerar.

A única e autêntica liberdade do ser humano é a do espírito, de um espírito não contaminado por crenças irracionais e por superstições talvez poéticas em algum caso, mas que deformam a percepção da realidade e deveriam ofender a razão mais elementar.

A única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz, aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão falado homem novo.

A verdade histórica não existe. A História não é mais do que uma ficção. Quer dizer, uma ficção com mais dados, concretos, reais, mas também com muita imaginação.

A vida, que parece uma linha recta, não o é. Construímos a nossa vida só nuns cinco por cento, o resto é feito pelos outros, porque vivemos com os outros e às vezes contra os outros. Mas essa pequena percentagem, esses cinco por cento, é o resultado da sinceridade consigo mesmo.

Acho que a sabedoria consiste em saber renunciar e ter consciência disso, de que é impossível conhecer o nosso próprio nome.

Acho que damos pouca atenção àquilo que efectivamente decide tudo na nossa vida, ao órgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. Tudo quanto estamos por aqui a dizer é um produto dos poderes ou das capacidades do cérebro: a linguagem, o vocabulário mais ou menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, os ódios, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça. Fora da nossa cabeça não há nada.

Antes do interesse pela escrita, há um outro: o interesse pela leitura. E mal vão as coisas quando só se pensa no primeiro, se antes não se consolidou o gosto pelo segundo. Sem ler ninguém escreve.

Antigamente dizia-se que fora da Igreja não havia salvação; agora parece que, politicamente, fora dos partidos também não há.

Antigamente eu defendia uma tese, a que regresso de vez em quando, que defende que o homem quando descobriu que era inteligente não aguentou o choque e enlouqueceu.

Ao contrário do que geralmente se crê, por muito que se tente convencer-nos do contrário, as verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global.

Ao contrário do que realmente se pensa, é nas diferenças onde a História se repete, não nas semelhanças.

Ao lado das minhas personagens femininas, as masculinas são insignificantes.

Ao poder, a primeira coisa que se diz é «não». Não por ser um «não», mas porque o poder tem de ser permanentemente vigiado. O poder tem sempre tendência para abusar, para exorbitar.

Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.

Às vezes, a literatura parece-se com uma operação da Bolsa. As cotizações sobem e descem e muitas vezes só dependem da promoção.

Cada homem tem a sua parcela de terra para cultivar. O que é importante é que cave fundo.

Corre por aí que sou vaidoso. Mas eu acho que a vaidade é a coisa mais bem distribuída deste mundo. Vaidosos somos todos nós. A questão está em saber se há alguma razão para o ser ou se se é vaidoso sem razão nenhuma.

Costuma-se dizer que a solidão é enriquecedora, mas isso depende directamente da possibilidade de se deixar de estar sozinho.

Dentro ou fora de mim, todos os dias acontece algo que me surpreende, algo que me comove, desde a possibilidade do impossível a todos os sonhos e ilusões. É essa a matéria da minha escrita, por isso escrevo e por isso me sinto tão bem a escrever aquilo que sinto.

Deus e a morte são as duas faces da mesma moeda. Não podem passar um sem outro. Sem morte não haveria Deus, porque não o inventariam. Mas sem Deus não haveria morte, porque Deus tinha de fazer a vida finita.

É a literatura o que, inevitavelmente, faz pensar. É a palavra escrita, a que está no livro, a que faz pensar. E neste momento é a última na escala de valores.

É evidente: a maldade, a crueldade, são inventos da razão humana, da sua capacidade para mentir, para destruir.

É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas.

Em verdade, o mundo não está para ressurreições. Já basta o que basta.

Escrevemos porque não queremos morrer. É esta a razão profunda do acto de escrever.

Estabeleceu-se e orientou-se uma tendência para a preguiça intelectual e nessa tendência os meios de comunicação têm uma responsabilidade.

Estamos numa situação em que uma democracia que, segundo a definição antiga, é o governo do povo, para o povo e pelo povo, nessa democracia precisamente está ausente o povo.

Este é o prodígio da literatura, poder ser capaz de chegar mais fundo na consciência dos leitores, mesmo falando sobre uma outra coisa.

Este país (Portugal) preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez em quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa.

Eu acho que dentro de nós há um espesso sistema de corredores e de portas fechadas. Nós próprios não abrimos todas as portas, porque suspeitamos que o que há do outro lado não será agradável de ver (…) Vivemos numa espécie de alarme em relação a nós mesmos, que talvez seja não querermos saber quem somos na realidade.

Eu acredito no respeito pelas crenças de todas as pessoas, mas gostaria que as crenças de todas as pessoas fossem capazes de respeitar as crenças de todas as pessoas.

Eu apaixono-me sempre pelas minhas personagens femininas.

Eu entendo a felicidade como uma relação de harmonia, como uma relação estreita da pessoa com a sociedade, com aqueles que lhe são próximos e com o meio ambiente.

Eu entendo-me sempre melhor com uma mulher do que com um homem. A conversa é sempre mais solta, mais descontraída. Eu acho que a relação com as mulheres é mais directa.

Eu não gosto de falar de felicidade, mas sim de harmonia: viver em harmonia com a nossa própria consciência, com o nosso meio envolvente, com a pessoa de quem se gosta, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a felicidade não, a felicidade é egoísta.

Eu não sou um exemplo do que é viver neste mundo. Sou um privilegiado. Mas não posso estar contente. O mundo é o inferno. Não vale a pena ameaçarem-nos com outro inferno porque já estamos nele. A questão é saber como é que saímos dele.

Eu sou ateu, mas sempre me senti atraído pelo fenómeno religioso. Interessa-me a religião como instituição de poder que se exerce sobre as almas e os corpos.

Eu sou um céptico profissional. Vivemos num mundo de mentiras sistemáticas.

Falo de uma mudança que levasse as pessoas a pensar que isto não é bastante para viver como ser humano. Não pode ser. Se nós nos convertemos em pessoas que só se interessam pelos seus próprios interesses, vamos converter-nos em feras contra feras. E aliás é isto o que está a acontecer.

Gramsci deixou escrito o retrato fiel daquilo que eu sou: «Pessimista pela razão, optimista pela vontade». Isso diz tudo.

Há duas palavras que não se podem usar: uma é sempre, outra é nunca.

Há quem continue a procurar um Deus porque ainda não apagámos totalmente o medo, nem eliminámos a morte.

Há sempre um zarolho ou um esperto que nos governa.

Há uma pergunta que me parece dever ser formulada e para a qual não creio que haja resposta: que motivo teria Deus para fazer o universo? Só para que num planeta pequeníssimo de uma galáxia pudesse ter nascido um animal determinado que iria ter um processo evolutivo que chegou a isto?

Incluir a literatura entre os agentes da transformação social é uma reflexão ingénua e idealista.

Já não adianta nada dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino. Para os que matam em nome de Deus, Deus é o Pai poderoso que juntou antes a lenha para o auto-de-fé e agora prepara e coloca a bomba.

Na minha opinião, ser escritor não é apenas escrever livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção.

Não é viver muito, que é a aspiração humana. Viver eternamente seria estar condenado a uma velhice eterna. Salvo se o tempo parasse.

Não há formação para se ser escritor. Passe por onde passe, o escritor é sempre um autodidacta. Quando se senta pela primeira vez e escreve as primeiras palavras, não lhe serve de muito ter andado na universidade, ou na outra, a que chamamos universidade da vida. Serve, mas não é por isso que escreve. (…) O que acontece é que talvez nos achemos demasiado importantes, demasiado interessantes.

Não há nenhum caminho tranquilizador à nossa espera. Se o queremos, teremos de construí-lo com as nossas mãos.

Não preciso de conselhos. E não mos dêem porque me irritam. Irritam porque quem está dentro do trabalho sou eu. Posso estar equivocado, mas é um equívoco que resulta naturalmente do próprio trabalho.

Não romantizo nada o ofício de escrever. No fundo, romantizá-lo é outra maneira de parecer interessante.

Não sabemos o que é ser infinitamente bom. Sabemos o que é ser relativamente bom. E sabemos que não somos capazes de ser bons toda a vida e em todas as circunstâncias. Falhamos muito. E depois reconsideramos, o que não quer dizer que o reconheçamos publicamente.

Não são os políticos os que governam o mundo. Os lugares de poder, além de serem supranacionais, multinacionais, são invisíveis.

Nem a arte nem a literatura têm de nos dar lições de moral. Somos nós que temos de nos salvar, e isso só é possível com uma postura de cidadania ética, ainda que isto possa soar antigo e anacrónico. Nem as derrotas nem as vitórias são definitivas. Isso dá uma esperança aos derrotados, e deveria dar uma lição de humildade aos vitoriosos.

No acto de escrever há duas posições coincidentes, a autoridade e a sedução. Com estas duas pernas, a literatura caminha. O escritor tem um poder sobre o leitor. No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e o que é que estamos a fazer e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.

Nós estamos a assistir ao que eu chamaria a morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos e, cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém nos pergunta o que é que pensamos, agora perguntam-nos qual a marca do carro, de fato, de gravata que temos, quanto ganhamos…

Nós, os seres humanos, matamos mais que a morte.

Nunca esperei nada da vida. Por isso tenho tudo.

O amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende para o colectivo. Já andamos há dois mil anos a dizer isso de nos amarmos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudar isso por respeitarmo-nos uns aos outros, para ver se assim tem maior eficácia. Porque o amor não é suficiente.

O conhecimento une cada um consigo mesmo e todos com todos.

O cristianismo tentou convencer-nos de que devíamos amar-nos uns aos outros. Eu direi uma coisa muito clara: não tenho a obrigação de amar toda a gente, mas sim de a respeitar.

O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas cobardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses.

O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente.

O homem é cruel sobretudo em relação ao homem, porque somos os únicos capazes de humilhar, de torturar e fazemos isto com uma coisa que deveria ser o contrário, que é a razão humana.

O homem entra mais rapidamente no quotidiano do que a mulher; em contrapartida, a mulher vive melhor no âmbito do não real. Por isso não precisa da rotina. A mulher aprofunda; o homem expande.

O mal que algumas palavras têm não é o que significam directamente. O mal são as conotações. Nós dizemos «espiritualidade», dizemos «espírito», que não sabemos o que é. É que ninguém pode apresentar uma definição de «espiritualidade» que seja convincente. Tenho a impressão de que as palavras atrapalham muito.

O mundo não é bom – ele não tem a responsabilidade, pobre mundo, somos nós que não somos bons. O ser humano comporta-se como um animal enfermo de superstições, de rotinas, preconceitos, de que parece não sermos capazes de nos libertarmos.

O mundo seria muito mais pacífico se todos fôssemos ateus.

O nosso defeito é tomar demasiado a sério certas coisas que são sérias, mas que, como se costuma dizer, não são para tanto.

O outro é uma complementaridade que nos torna a nós maiores, mais inteiros, mais autênticos. Essa é a minha própria vivência.

O poeta não será mais que memória fundida nas memórias, para que um adolescente possa dizer-nos que tem em si todos os sonhos do mundo, como se ter sonhos e declará-lo fosse primeira invenção sua. Há razões para pensar que a língua é, toda ela, obra de poesia.

O que chamamos de «poder político» converteu-se em mero «comissário político» do poder económico.

O que chamamos democracia começa a assemelhar-se tristemente ao pano solene que cobre a urna onde já está apodrecendo o cadáver. Reinventemos, pois, a democracia antes que seja demasiado tarde.

O que realmente nos separa dos animais é a nossa capacidade de esperança.

O ser humano é um animal doente porque não é capaz de reconhecer, ou de inventar, o seu lugar na natureza e na sociedade.

O ser humano não é intrinsecamente bom nem mau. O que verifico é que a bondade é mais difícil de alcançar e de exercer. E bem e mal são conceitos demasiado amplos. É mais fácil ser mau, mau nas suas formas menores, mau em tudo aquilo que nos afasta do outro, do que ser bom.

O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias.

O único valor que considero revolucionário é a bondade, que é o único que conta.

O universo não tem notícia da nossa existência.

Os escritores aos quais eu volto sempre são Montaigne, Pessoa e Kafka. O primeiro porque somos a matéria do que escrevemos, o segundo porque somos muitos e não um, o terceiro porque esse um que não somos é um coleóptero.

Os homens trazem em si a crueldade. Não devemos esquecer-nos disso, devemos ter cuidado. É preciso defender a possibilidade de criar e defender esse espaço de consciência, de lucidez. Essa é a nossa pequenina esperança.

Os meus escritores de referência são Montaigne, Cervantes, o padre António Vieira, Gogol e Kafka. O padre António Vieira era um jesuíta do século XVII. Nunca se escreveu na língua portuguesa com tanta beleza como ele o fez.

Os políticos dificilmente pedem desculpa às pessoas a quem de alguma maneira ofenderam.

Para mim o que me causa mais impacto ao trabalhar com a memória para escrever é descobrir-se duas coisas: que uma pessoa recorda muito mais do que pensava e que recorda coisas que julgava completamente esquecidas.

Para que serve o arrependimento, se isso não muda nada do que se passou? O melhor arrependimento é, simplesmente, mudar.

Provavelmente não sou um romancista; provavelmente eu sou um ensaísta que precisa de escrever romances porque não sabe escrever ensaios.

Qualquer idade é boa para aprender. Muito do que sei aprendi-o já na idade madura e hoje, com 86 anos, continuo a aprender com o mesmo apetite.

Quando a esquerda chega ao poder, não usa as razões pelas quais chegou. A esquerda deixa de o ser muitas vezes quando chega ao poder e isso é dramático.

Quando se vive de ilusões é porque algo não funciona. A nossa imagem (dos portugueses) mais constante é a de alguém que está parado no passeio à espera de que o ajudem a atravessar para o outro lado.

Quando um político mente destrói a base da democracia.

Quem mata em nome de Deus converte este num assassino.

Sabemos muito mais do que julgamos, podemos muito mais do que imaginamos.

Se não me interessar pelo mundo, este baterá à minha porta pedindo-me contas.

Se toda a política precisa de uma economia, a economia determina uma política; é isso que está a acontecer (com a globalização).

Se virmos a realidade, as mulheres são mais sólidas, mais objectivas, mais sensatas. Para nós, são opacas: olhamos para elas, mas não conseguimos entrar lá dentro. Estamos tão empapados de uma visão masculina, que não entendemos. Em contrapartida, para as mulheres nós somos transparentes. O que me preocupa é que, quando a mulher chega ao poder, perde isso tudo.

Sem política não se organiza uma sociedade. O problema é que a sociedade está nas mãos de políticos profissionais.

Sempre haverá gente para matar os frangos que nós comemos na mesa ou para degolar o porco donde vamos depois extrair umas suculentíssimas costoletas. Se milhões de animais são sacrificados todos os dias para que possamos alimentar-nos, também é certo que há a outra morte, a morte malvada, sanguinária, cruel; a delinquência, as máfias, a extorsão, a exploração, o assassínio, a tortura.

Sente-se uma insatisfação, sobretudo dos jovens, perante um mundo que já não oferece nada, só vende!

Ser Nobel não é a mesma coisa que ser Miss Universo – a Miss Universo assina um contrato e tem de fazer uma quantidade de coisas. Com o Nobel, não há contrato. Dão-to ou não te dão.

Seria incoerente que me opusesse a que um escritor coma do que escreve, o que me parece, isso sim, condenável, é que escreva quando não tem nada para dizer.

Só o amor nos permite conhecermo-nos.

Só se nos detivermos a pensar nas pequenas coisas chegaremos a compreender as grandes.

Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não.

Sou a pessoa mais banal deste mundo. Limito-me a sentar-me à secretária, meter a folha de papel na máquina e ir até onde posso. É como quem entra no escritório e sai dele. Não faço nenhuma espécie de exercícios de aquecimento, nem físicos, nem psíquicos.

Sou um escritor atípico. Só escrevo porque tenho ideias. Sentar-me a pensar que tenho que inventar uma história para escrever um livro nunca me aconteceu e nunca me acontecerá. Necessito de algo que me sacuda por dentro e que se me agarre com força para que eu entenda que ali há qualquer coisa para contar.

Tal como às vezes digo que, em vez da felicidade, eu acredito na harmonia, penso que o amor é o encontro da harmonia com o outro.

Talvez eu tenha um sentido fatalista da vida. Mesmo quando era novo, eu dizia a mim próprio que aquilo que fosse para mim viria parar-me às mãos. Não tenho de ir à procura, é só estar atento. Se há alguma sabedoria na minha vida, é saber esperar.

Temos que nos convencer de uma coisa, que o mais importante no mundo, pela negativa, e o que mais prejudica as relações humanas e as torna difíceis e complicadas é a inveja.

Ter como objectivo vital o triunfo pessoal tem consequências. Mais tarde ou mais cedo, tornamo-nos egoístas, mais concentrados em nós mesmos, insolidários.

Triunfar significa ter e ter mais, abandonando algo que foi importante, aquilo a que chamamos ser mais conscientes, mais solidários, mais unidos aos sentimentos.

Uma austeridade de carácter não é defeito, pelo contrário.

Vivemos num sistema de mentiras organizadas, entrelaçadas umas nas outras. E o milagre é que, apesar de tudo, consigamos construir as nossas pequenas verdades, com as quais vivemos, e das quais vivemos.