Citações de António de Oliveira Salazar

A excepção conduz à anarquia.

A família é a mais pura fonte dos factores morais da produção.

A felicidade é um estado de satisfação da alma, expressão de harmonia total entre as nossas aspirações e as realidades da vida. E por isso julgo mais simples atingir a felicidade pela renúncia do que pela procura e satisfação de necessidades sempre mais numerosas e intensas. A busca da felicidade exige, com efeito, supomos nós, um contínuo estado de insatisfação.

A gratidão pertence à História, não à política.

A indiferença a propósito de um princípio equivale, com efeito, à negação deste princípio, e não raras vezes o silêncio pesa mais que o erro.

A lealdade é a verdade do sentimento: é impossível ser desleal sem mentir à consciência, sem ludibriar a consciência alheia.

A Nação não se confunde com um partido, um partido não se identifica com um Estado.

A ordem não é produto espontâneo das sociedades mas filha da inteligência e da autoridade.

A política só em sentido deturpado se pode confundir com agitação estéril, referver de ódios, estadear de ambições pessoais ou de grupos para a conquista e usufruição de altos lugares.

As liberdades ilimitadas destroem-se a si próprias.

Autoridade absoluta pode existir, liberdade absoluta não existe nunca.

Autoridade e liberdade são dois conceitos incompatíveis… Onde existe uma não pode existir a outra…

Ceder é perder. Formula-se uma política e há que executá-la rapidamente. Só é possível ceder a ter flexibilidade depois da política estar vitoriosa. Antes disso, é perder por completo.

Civilização é a sequência de séculos de disciplina.

Confunde-se em Portugal tantas vezes a justiça com a violência que é vulgar não haver reacções contra o crime e haver reacções contra a pena.

Continuo a declarar que não se pode simultaneamente lisonjear a multidão e governá-la.

Cremos que a guerra é um mal, mesmo quando é uma necessidade, mas sabemos que há para os povos outros males maiores, porque os há que excedem a morte e a miséria – são a sua desonra e aniquilamento.

Deve o Estado ser tão forte que não precise de ser violento.

E como é da essência mesma do poder procurar manter-se, haverá sempre um número mais ou menos grande de princípios que o poder não deixará discutir, isto é, a propósito dos quais a liberdade não existe.

É necessária a política no governo das nações mas fazer política não é governar.

Em geral não têm com a autoridade senão relações baseadas na desconfiança. A obediência resulta sobretudo do modo. O poder é sempre discutido.

Em política acontece que as mesmas palavras traduzam realidades diferentes e que coisas semelhantes possuam nomes contrários.

Falta de perseverança – defeito capital da nossa raça…

Imaginar, como fazem muitas vezes, que as liberdades públicas estão ligadas à democracia e ao parlamentarismo, é não ter em con­ta as realidades mais evidentes da vida pública e social de todos os tempos.

Infeliz povo se, confundindo promessas vãs com realidades, vier a convencer-se um dia de que o trabalho é sinal de servidão e a desordem atmosfera saudável de vida.

Não é de patriota nem de político abandonar o futuro às contin­gências da sorte, não criar para uma obra condições de duração e de estabilidade. Por definição só fica feito o que perdura.

Nós somos um povo de conversadores… inúteis, sobretudo quando não somos espirituosos.

Nunca houve uma boa dona de casa que não tivesse muito que fazer.

O homem do Estado jamais encontrará alguma coisa útil ou eficaz nos trocadilhos de palavra, nas acrobacias da inteligência ou no desvairo das imaginações exaltadas.

O homem que tem presunção e brio de si próprio só sente verdadeira alegria ao vencer as grandes dificuldades. As pequenas dificuldades não pesam na vida dos homens e não podem dar-lhes a consciência, a alegria plena do cumprimento do dever.

O mundo parece ter perdido o hábito de pensar e a culpa talvez caiba a uma acumulação de sofrimentos. Convém reeducar este mundo, aliás afogado em intelectualismo.

O poder só pode agradar aos tolos ou aos predestinados. Os tolos desejam-no pelas vantagens que dele esperam. Os predestinados gozam-no pelo que para eles representa.

O português é eivado de individualismo e toda a regulamentação da sua actividade privada lhe é molesta. Penso que tem de refazer neste ponto a sua educação e que o seu modo de ser não se ajusta às necessidades dos tempos.

Os fados amolecem o carácter português, esvaziam a alma das suas energias e incitam à inacção.

Os homens mudam pouco e então os portugueses quase nada.

Os povos antigos ou são tristes, ou são cínicos. A nós, portugueses, coube ser tristes.

Para a formação da consciência pública, para a criação de determinado ambiente, dada a ausência de espírito crítico ou a dificuldade de averiguação individual, a aparência vale a realidade, ou seja: a aparência é uma realidade política.

Para expor o mínimo projecto os portugueses têm o hábito de se perderem em considerações inúteis.

Pesa-nos a autoridade, atrofia-nos a disciplina, seduz-nos o hiper-criticismo por motivos fúteis, parece-nos salutar entretenimento descartar homens e destruir governos.

Pode-se fazer política com o coração, mas só se pode governar com a cabeça.

Politicamente só existe o que se sabe que existe, politicamente o que parece é.

Praticamente tudo o que parece é, quer dizer, as mentiras, as ficções, os receios, mesmo injustificados, criam estados de espírito que são realidades políticas: sobre elas, com elas e contra elas se tem de governar.

Que queiram deitar-me a terra, compreendo, mas irrito-me que me tomem por tolo.

Quem se coloca no terreno nacional não tem partidos, nem grupos, nem escolas…

Se o mundo não conhece um longo período de idealismo, de espiritualismo, de virtudes cívicas e morais, não me parece que seja possível ultrapassar as dificuldades do nosso tempo.

Somos um país grande, não somos um país pequeno. Comanda­mos interesses muitas vezes importantes, e isto no Mundo. Nós continuamos aferrados à ideia de que somos pequenos, flamamos em pequeno. Há que fazer tudo em grande. Mas somos para aí uns pobres e parecemos não ter envergadura para isso.

Somos um país pequeno, com problemas sérios, e não podemos aderir a frentes débeis, só com o fim de proclamar que – brincamos às democracias.

Um decreto a reconhecer a cidadania faz-se em minutos e pode fazer-se já; um cidadão, isto é, o homem pleno e conscientemente integrado numa sociedade política civilizada leva séculos a fazer.

Citações de Álvaro Siza Vieira

A arquitectura é antes de mais um serviço. É um serviço orientado para o bem-estar. O objectivo, a primeira preocupação, da arquitectura é criar melhores condições, na cidade, na casa, nos equipamentos.

A arquitectura é uma coisa que engloba vida, espaço interior, contradições. Contextos diferentes dão edifícios diferentes.

A arquitectura é utilizada pelo poder.

A história da arquitectura não depende dos prémios.

A prática do arquitecto não é muito saudável. Passamos uma parte da vida debruçados num desenho.

A uma igreja chama-se a casa de Deus. É inerente à arquitetura essa componente de silêncio, de proteção, de comunidade.

Acho que temos de viver numa cidade com coisas bonitas e com coisas feias.

Aprender a ver, que é fundamental, para um arquitecto e para todas as pessoas. Não só a olhar, mas a ver em profundidade, em detalhe, na globalidade.

Arquitetura é arte, e isso está no meu espírito desde sempre.

Dou respostas a um problema concreto, a uma situação em transformação na qual participo sem fixar uma linguagem, porque é simplesmente uma participação num movimento de transformação com implicações mais vastas.

É normal nos chamados bairros económicos construir casas sem ruas.

Há pessoas que gostam e há pessoas que não gostam e as que não gostam julgo que são muito poucas.

Liberdade total não há, e ainda bem que não há. Com liberdade total apenas podia fazer a minha casa, e a minha profissão não é fazer a minha casa.

Lisboa é uma cidade extraordinária. É o mais variada que se possa imaginar.

Mas quem lhe disse que sou ateu? Nunca disse a ninguém se sou se não sou. Nem digo!

Movo-me entre conflitos, compromissos, mestiçagem, transformação.

Mudar de casa é uma das coisas terríficas da existência. Vamos acumulando coisas, a maior parte das quais não serve para nada. É muito difícil na hora de mudar, que é a oportunidade de dispensar todas as coisas inúteis, a gente desprender-se.

Não acredito nisso da inspiração.

Não sei se terei esse talento de que fala.

Não sou capaz de aceitar uma linguagem preestabelecida. Quando trabalho num contexto tenho que decidir qual é o estilo apropriado para utilizar nesse contexto.

Não, uma escola nunca tinha feito. Era suposto que eu só sabia fazer casinhas. Uma escola era uma coisa muito grande para ser feita por mim.

Normalmente, ainda uso janelas, isto é, buracos à superfície por onde entra a luz, buracos maiores ou menores, grandes envidraçados.

O computador permite fazer mais depressa um projecto mas, para já, não pensa, não substitui maquetas, esquissos.

O convite para o Chiado obrigou-me a pensar muito.

O Porto é a cidade mais incómoda que eu conheço, mas eu gosto muitíssimo da cidade do Porto. Não há cidades feias, há cidades difíceis.

Penso que muito do que se recebe numa escola não tem a ver com as aulas, tem a ver com o convívio, com o estabelecimento de relações, com a abertura ao diálogo e a vontade de conhecer outras ideias, outras pessoas.

Quando queremos entrar em relação com outros, seja em que campo for, a relação assume também aspectos de conflito. Posso ter explosões de mau génio, mas isso faz parte de uma abertura ao diálogo.

Quase que não vejo outra coisa que obras minhas destruídas.

Quem faz coisas pequeninas tem tendência a ser pequenino, quem faz coisas grandes tem tendência a ser pouco sensível ao detalhe, porque lida com grandes temas, grandes áreas. Para atingir um equilíbrio na profissão é necessário ter a experiência das várias escalas das várias dimensões.

Se desenho uma retrete, gosto que pareça uma retrete. Há retretes quadradas, cúbicas; acho que não é natural, não é a forma do corpo.

Sou contra essa ideia de especialização. Gosto de diversificar o meu trabalho, quero e tenho feito um pouco de tudo. Não se pode fazer bem um bairro social ou um museu sem ter feito casas. A arquitectura é só uma. As mãos que desenham e as mãos que constroem, seja o que for, são sempre as mesmas.

Sou muitas vezes inseguro. Ainda sou. O arranque de um trabalho…, há sempre uma componente de medo.

Sou um bocado como aquelas pessoas que têm a secretária muito desarrumada, mas controlam essa desarrumação.

Sou um introvertido, como é que posso ser uma estrela? Uma estrela tem um desejo de extroversão. Eu pessoalmente não sou, humanamente não tenho o perfil psicológico de uma estrela, de maneira nenhuma. Passo despercebido em toda aparte.

Temos que usar a experiência naquilo que ela garante, mas também libertar-nos dela, naquilo que prende.

Citações de Álvaro Cunhal

A construção de um Portugal democrático será gravemente limitada ou mesmo impedida se os monopólios estrangeiros continuarem sendo reis e senhores de Portugal. A construção de um regime democrático deve significar a libertação do imperialismo estrangeiro e a conquista da real independência nacional.

A criatividade dos trabalhadores e das massas populares em luta na revolução de Abril é um grande ensinamento.

A existência de nações europeias privadas de uma verdadeira independência nacional é um factor prejudicial ao estabelecimento duma paz duradoura, além do mais porque essa situação de subjugação nacional não se revela apenas nos aspectos económicos, mas no domínio político, diplomático e militar.

A história do comunismo, do movimento comunista, é no fundamental, embora num percurso acidentado, a história de uma luta social constante na defesa dos interesses e direitos dos explorados e oprimidos, tendo como objectivo construir uma sociedade nova e melhor, o que implica confiança no ser humano e exclui a crença em formas sobrenaturais, que decidam do seu destino. Os objectivos e a luta dos comunistas hoje são inseparáveis dos objectivos e da luta desde o Manifesto Comunista de 1848. A Igreja católica pouco tem a ver com os primeiros cristãos que eram perseguidos. Aquele aquem se atribui a fundação da Igreja, S. Pedro, foi crucificado e de cabeça para baixo. Quando, alguns dizem que Cristo foi o primeiro comunista, atribuem-lhe ideias e comportamentos com os quais pouco ou nada têm a ver as ideias e os comportamentos da Igreja Católica ao longo dos anos, pois ela se tornou um elemento integrante do feudalismo, e depois do capitalismo, a não ser em alguns dos seus sectores que retomam as melhores ideias e comportamentos atribuídos a Cristo.

A luta pela paz e a segurança na Europa está também intimamente ligada à luta pela verdadeira independência nacional de todas as nações europeias. Posições económicas dominantes representam meios de influência e de intervenção na política interna de outros Estados e meios de pressão diplomática.

A organização não é uma palavra mágica de que resultem efeitos pelo facto de muitas vezes se proferir. Se se diz mil vezes que é necessário organizar e nada se organiza, mais vale estar calado. A organização é trabalho concreto e quotidiano. A propaganda da necessidade de organizar só tem valor, se é acompanhada dum trabalho de organização efectivo.

A política de exploração, opressão e terror da ditadura é a política de protecção dos interesses monopolistas. Só eliminando o poder dos monopólios poderão as riquezas nacionais ser aproveitadas em benefício do povo e da nação, poderá ser dado um impulso ao desenvolvimento económico no quadro da liberdade e da democracia, poderá elevar-se o nível de vida das classes trabalhadoras e do povo em geral.

Acho que sou um comunista como os outros comunistas.

Acho que sou uma pessoa sincera e espontânea.

As grandes conquistas da Revolução, que foram inscritas na Constituição da República elaborada e aprovada pela Assembleia Constituinte em 1976, a abolição do capitalismo monopolista, a nacionalização dos sectores básicos, a reforma agrária e outras, podem ler-se no programa do Partido Socialista aprovado no Congresso que realizou em Dezembro de 1974. Mas, como Mário Soares já disse, “programas são programas”, e assim achou certamente muito natural meter tudo isso numa gaveta ou deitar tudo isso para o cesto dos papéis.

As grandes revoluções e as suas conquistas não foram só obra dos chefes, dos dirigentes, dos órgãos de poder instaurados. Nós, os comunistas portugueses, compreendemos uma revolução que se propõe realizar profundas transformações progressistas, não só com o apoio do povo, mas com o seu empenhamento, entusiasmo, criatividade e coragem.

É também uma lição da história e uma evidência da actual situação internacional que as forças agressivas do imperialismo se apoiam sempre, além fronteiras, nos regimes e nas forças mais reaccionárias, apoiando estes por sua vez.

Eu aprecio e valorizo o humor.

Eu sou do signo Escorpião e tem sucedido que, quando chega o signo, recebo cartas amistosas escritas a sério ou a brincar, com o horóscopo apropriado. Num dos anos passados recebi um horóscopo de um astrólogo que já morreu e que me comunicava, e disse-o publicamente, que o horóscopo anunciava a minha morte nesse mesmo ano. Deve ter trocado os horóscopos.

Fiz uma tradução de Rei Lear para mim com gramática shakesperianas e dicionários shakesperianos.

Nas nossas mãos os destinos das nossas vidas.

Nem todos quantos estão dispostos a lutar pela liberdade estão dispostos a lutar pelo socialismo, mas todos quantos estão dispostos a lutar pelo socialismo estão prontos a lutar pela liberdade.

No combate à Intersindical e ao movimento sindical, as forças reaccionárias, conservadoras e reformistas invocam constantemente a liberdade sindical. Mas a “liberdade sindical” que defendem representaria de facto, se aplicada, a cisão do movimento sindical e a subordinação de sindicatos ao contrôle de organizações e forças estranhas às classes trabalhadoras.

No que respeita à organização da sociedade e ao Estado, as lições da história obrigam a prevenções. O poder está muito viciado, o poder defende-se, o poder corrompe e é susceptível de corromper. O abuso de poder é fácil, nas instituições, na sociedade, nos órgãos de poder, em qualquer aspecto da vida social. Também nos partidos. É necessário impedir-se e pode impedir-se um poder assim concebido e realizado. Como? Com formas e mecanismos democráticos de fiscalização, incluindo por parte daqueles sobre quem o poder é exercido. Seja no Estado, seja na sociedade, seja na família, seja nos partidos.

Nós queremos que a política seguida em Portugal seja efectivamente portuguesa, seja determinada pelos interesses da maioria da população portuguesa e não pelos interesses de um ínfimo punhado de multimilionários que se tornam cúmplices dos imperialistas estrangeiros nos conselhos de administração das grandes companhias. Nós queremos que a independência portuguesa seja uma realidade vivida pelo nosso povo e não uma frase para fins publicitários.

Numa sociedade em que há classes dominantes e há classes dominadas, aqueles que escrevem a História pertencem em geral às classes dominantes e escrevem a história com critérios da sua classe. Há sem dúvida historiadores que, situando-se social e ideológicamente no âmbito das classes dominantes, procedem a uma investigação séria. Mas é muito raro fugirem a critérios de classe na investigação e na apreciação e valorização relativa que fazem dos problemas e dos acontecimentos.

Os imperialistas estrangeiros têm nas suas mãos os principais recursos nacionais, predominam no mercado interno e dominam o comércio externo, vendem-nos caro e compram-nos barato, pilham as nossas riquezas, exploram o nosso trabalho e reduzem Portugal à condição de um país dependente e semicolonial.

Se todo o aborto é um mal, a clandestinização do aborto é uma catástrofe.

Sem organização podem fazer-se “coisas”. Mas não se podem lançar grandes lutas, dar-lhes continuidade, elevá-las a um nível superior.

Ser comunista não é apenas uma forma de agir politicamente. É uma forma de pensar, de sentir e de viver.

Shakespeare não era apenas um dramaturgo; era também um grande poeta.

Só dogmáticos podem pretender explicar a vida social, na sua extrema riqueza, diversidade e complexa e irregular evolução, com a aplicação de fórmulas imutáveis ou com a citação de textos.

Tenho filhos e amo-os como qualquer pai ama os filhos.

Citações de Almeida Garrett

À cândida rosa da inocência faltam-lhe espinhos que do vicio a guardem.

A caridade é uma virtude que não desacompanha jamais suas duas irmãs, a Fé que dá o ânimo, e a Esperança que alenta o cora­ção.

A eloquência é a força de uma voz respeitada, no meio da efer­vescência popular; é um dos con­tínuos milagres que atestam o poder de Deus, e justificam a sua glória.

A força de uma voz respeitada, no meio de efervescência popular, é um dos contínuos milagres que atestam o poder de Deus e justificam a sua glória.

A modéstia, quando é excessiva e se aproxima do acanhamento, ao qual no mundo se chama falta de uso – pode ser num homem quase defeito inteiro. Na mulher é sempre virtude, realce de beleza às formosas, disfarce de fealdade às que o não são.

A tudo se habitua o homem, a todo o estado se afaz; e não há dúvida por mais estranha que o tempo e a repetição dos actos lhe não faça natural.

Aí, virtude. Que homens, que leis dos homens te conhecem?

Aurora da existência, infância amável, idade abençoada da mão que rege, que aviventa os dias, mimo da natureza, da cândida inocência bafejada, breve, mas linda flor sobre o gomo da vida despontada, infância, oh! meiga idade!

Bem nasce em todos os climas a semente da liberdade; mas desde que lhe germinam as folhas seminais, há-de haver um Washington que a monde, e ampare, ou os espinhos são tantos logo, tantos os cardos e abrolhos, que a afogam.

É falso que o amor seja cego; o amor vulgar pode sê-lo, o amor verdadeiro tem olhos de lince.

Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. O homem – não o homem que Deus fez, mas o que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de limo que no paraíso terreal afeiçoará à imagem da divindade -, o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.

Há três espécies de mulheres neste mundo: a mulher que se admira, a mulher que se deseja e a mulher que se ama. A beleza, o espírito, a graça, os dotes da alma e do corpo geram a admiração. Certas formas, certo ar voluptuoso, criam o desejo. O que produz o amor, não se sabe; é tudo isto às vezes; é mais do que isto, não é nada disto. Não sei o que é; mas sei que se pode admirar uma mulher sem a desejar, que se pode desejar sem a amar.

Imaginar é sonhar, dorme e repousa a vida no entretanto; sentir é viver activamente, cansa-a e consome-a.

O amor não está definido, nem o pode ser nunca.

O coração é cofre precioso de que, raro, confia homem prudente a chave a seu mais Intimo.

Ó formosura, ó doce encanto dolhos, enlevo dalma, para que no mundo te debuxou a natureza? Que vieste fazer no céu à terra, ornato de anjos, divinal revérbero da face do Criador?

O homem é uma grande e sublime criatura, por mais que digam filósofos.

O povo nunca se excita forte­mente pelo bom do que há de vir, senão pelo mau e insuportável do que é.

Orgulho do homem, dás o arranco extremo na vaidade da campa. Que grandezas, que distinções queres pleitear ainda na igualdade terrível do sepulcro!

Pouco vale a destra que não enxuga as lágrimas do aflito sem lhe rasgar primeiro os seios dalma, para lhe esquadrinhar do pranto a causa.

Quanto é doce à fagueira, amena sombra dos variados arbustos, coa fresquidão das plantas saciadas das lágrimas da aurora, nos prazeres cevar da Soledade o descansado espírito!

Saudade, gosto amargo de infelizes, delicioso pungir de acerbo espinho.

Se bem conhecessem as mães quanto valem as carícias maternas, quanto as apreciam os tenros corações de seus filhos, se elas as soubessem guardar e empregar sem capricho nem cegueira, nenhum meio mais forte e seguro para pena ou prémio teria a educação.

Citações de Agustina Bessa-Luís

A amizade exige a cortesia. Não é como o amor, que, pela sua áurea mudança, se adapta à confidência e ao desembaraço narrativo.

A arte de oprimir os povos foi-se modificando. A ambição sofreu grandes alterações. Agora os homens usam de conteúdo cultural, violador de multidões na sua conduta; não é a força do braço nem o nome de família que alimentam o seu prestígio – é antes a energia duma convicção que se imponha pela utilidade que prometem.

A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso». É algo mais. É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.

A competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie.

A criança que é despojada da sua riqueza de convivencialidade incrementa a frustração do adulto de amanhã.

A crueldade é um dom, se corresponde a uma denúncia da cobardia no seu todo, mas é um vício se é a consagração da parcialidade. A vingança é uma parcialidade. A desmesura é parcialidade. A grandeza é o todo.

A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade.

A essência das coisas não está na filosofia, nem na política, nem em qualquer função intelectual. Está na reciprocidade do inconsciente que não encadeia só o que é humano, mas até o que é apenas vegetal ou inerte.

A existência do homem adulto não encerra senão monotonia. A paixão não procede das pessoas, mas de algo a que elas têm de obedecer para não cumprirem apenas uma vida sem impulso e sem fantasia.

A frivolidade é também uma forma de hipocrisia porque as pessoas não são aquilo. A pessoa, quanto mais frívola nos parece, mais esconde a sua natureza profunda.

A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade. Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro tanto demoníaco. Todo o artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica.

A guerra é apetecível. Não me venham dizer que a guerra é obra de generais e de caudilhos. A multidão sabe perfeitamente que vai para uma orgia.

A infância vive a realidade da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia.

A intimidade excessiva desencadeia a hostilidade.

A leitura responsabiliza muito menos que a palestra; e esta menos do que a imagem. Na imagem aparece a lógica do conteúdo com mais intensidade.

A melhor impressão que a poesia nos pode dar é esta: ficar de coração vagabundo, deixando a vareja estalar na janela as asas grossas, e não dar por isso, como um cão surdo.

A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam.

A moral consta duma certa dose de cortesia para parecermos bons.

A mulher e o poder é uma má mistura; torna-as rancorosas e briguentas.

A mulher, até pelo seu grande poder de insignificância, é muito menos vulnerável que o homem.

A paz não tem figura nem desejo absoluto; viver em paz não é viver; (…) a paz é um absurdo, como a realidade concreta é um absurdo que é preciso recriar para que se torne afecto do homem, obra sua.

A rapidez que as pessoas imprimem às suas vidas faz com que simplifiquem a realidade e fabriquem o que se chama a «personalidade do momento». Sobretudo nos políticos e homens à escala governativa, isso exprime-se por manifestações impulsivas, peculiares a cada hora, vinculadas às situações proteiformes.

A razão é como a mulher honestíssima e sem parentes, que em tudo está falta de auxílio e de liberdade.

A sabedoria seduz mais do que a mulher; até porque mais depressa se atinge a sabedoria, do que se encontra uma mulher perfeita.

A sociedade prosseguirá em estado de violência, porque o homem não prescinde da sua enfermidade moral que é achar-se inútil num mundo que não criou.

A solidão, quando é vivida na infância em completa disponibilidade, sem constrangimento, como um estado semelhante ao do primeiro homem e da primeira mulher, tem tendência a tornar-se crónica.

Acabarei como aquele que disse que pouco louvou na vida e se arrepende de não ter louvado ainda menos.

Animais – eles são a medida da nossa paz com o mundo criado; eles são um dado de consolação porque não mudam para como quem tanto muda como nós, humanos.

Ao longo da minha experiência foi-me dado observar o comportamento das pessoas, e com isso fiz romances. Eles ficam, no entanto, muito aquém do que aconteceu, porque há uma coisa que se chama a timidez da alma, e o que nos é revelado pode ser-nos proibido também.

As cidades não são pátrias. É na província que se encontra o carácter e a mística duma nação, e os grandes escritores deixam-se amarrar ao espírito das terras nulas e sensatas a que extraem um brilho que a pedra polida da capital não tem.

As coisas simples são indissolúveis. Não havendo nelas contradição, a tendência é para serem duráveis.

As guerras não surgem por motivos económicos ou passionais. É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior.

As mais belas civilizações tiveram um rápido declínio, exactamente porque elas foram demasiado longe na dissimulação.

As palavras não significam nada se não forem recebidas como um eco da vontade de quem as ouve.

As primeiras impressões não são decisivas. Às vezes são fatais mas não decisivas.

As revoluções só se detêm com as guerras. As nações, cada vez mais enredadas nas suas embaraçosas decisões, hão-de por fim querer sair delas através dum risco cego, duma experiência que pareça resumir a verdade conjuntural.

Casamento – é muito difícil conhecer uma pessoa com quem se vive muito próximo, porque há um fenómeno de desfocagem, porque se está tão próximo não há uma perspectiva para conhecer, só para amar.

Cólera – liberta o coração para razões que prolongam o desejo de viver. Quem não se encoleriza acaba por pedir socorro por meio de doenças, obsessões e livros de viagens.

Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer.

Custa tanto escrever um bom livro como um mau livro; mas só merece respeito a Arte que é em nós uma imposição, um destino, um fogo inconsumível de espírito, ainda que a obra, relativa à nossa exigência, nos pareça medíocre.

Demasiada lucidez é culpada num mundo de cegos, que com a cegueira se contemplam sem desastre de maior.

Disciplinar os povos é sempre a ilusão frenética dos grandes revolucionários. Falham continuamente. Não se dominam as energias sociais do mundo senão na medida em que elas tendem a uma rotina que, por sua vez, deixe tranquila a «espontaneidade negativa» do homem.

Dizem mal de tudo com uma insinceridade genial. Os Portugueses são a gente mais insincera que há. Por isso são raramente grandes artistas.

É extraordinário como nos tornamos violentos quando queremos agradar ao mundo. Agradar ao mundo resume o comportamento da sociedade nos seus aspectos mais retóricos.

Em toda a pergunta há uma ociosidade. Quem pergunta, esconde alguma coisa; quem muito fala, esconde o coração dos curiosos e despede-os com entretenimentos de vozes.

Em todos os grandes vencedores e nos que amam o poder encontra-se a seriedade que se explica por uma sobriedade de desejos. A aspiração mata o desejo. E a aspiração é um dos pontos cardeais do poder.

Entre a obra de arte e a crítica há um abismo, porque a crítica é inteligência, e a obra é, mais ou menos esquivado ou completado, o impossível.

Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração.

Escrevo para desiludir com mérito, que é a maneira de se fazer lembrar com virtude.

Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.

Eu admiro os grandes parados. Em geral são pessoas de grande perspicácia. O movimento produz calor, mas não aguça a inteligência.

Eu digo-lhes o que é a marca dos vencedores: uma solidão moderada e moderada procura de prazeres e de louvores.

Fim – o que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa.

Goza de alegria o que não encontra no mundo atractivo maior do que a virtude desconhecida.

Há três maneiras de viver numa civilização: com as convicções partidárias, com o julgamento dinâmico do homem livre, ou com os impulsos do coração. Todas elas podem ser honrosas ou infames; depende da inspiração que sofrem umas das outras. Pois nada é completamente necessário senão na medida em que depende duma outra realidade.

Humilde é a pessoa que não afasta de si a crença do Infinito, a realidade das suas pequenas pegadas na vida – e não aquela que se desmerece, que insulta o seu corpo e a sua alma, que se enfurece contra si mesma. Aceitar a sua humilhação é consentir na humilhação do seu próprio Deus.

Mãe: profundamente cumpridora e formal, nas suas relações com os seus filhos, na sua relação com a casa e com o lar, sempre presente e movida do bem-estar material, mas com um certo puritanismo, talvez até um pouco incómodo. Um puritano quer dizer um rebelde que se ignora.

Mas o que são os vaidosos senão os que temem a sua nudez? Os que evitam o retrato da alma para não lhes descobrir tormento e debilidade?

Na experiência humana não há unidade, tudo são esforços inéditos; só que muito frequentemente o fracasso os torna iguais entre si.

Na nossa sociedade, que se entende por permissiva, não há afinal homens exemplares. Há só leis que substituem o exemplo; há só alíneas morais que estão em vez dos actos reais e da sua humanidade.

Na sabedoria há qualquer coisa de estéril.

Nada se aprende das recordações; são um manjar frio que só os gulosos devoram.

Nada, na natureza, sofre; só suporta. Desse modo, a natureza comporta-se politicamente. Será justo imitá-la de vez em quando.

Não é difícil o sucesso político se tivermos em conta que é uma área pouco cobiçada e onde não há adversários muito convictos.

Não há exemplo duma ideia que, por excelente que seja, se desenvolva ao nível do quotidiano. Sofre de toda a espécie de mutações antes de entrar na carreira do lugar-comum, que é onde acabam todas as grandes ideias.

No fundo, agradece-se que não haja grandes governantes; eles trazem a ordem, portanto a proibição de escolha a uma consciência em estado de profunda reprovação. Um governante iluminado causa mais males do que duzentos que estejam pouco empenhados na felicidade humana.

Nós, as mulheres, o que nos faz amar um homem é aparentá-lo com tudo o que amamos – o tempo da crise, da puberdade, da gestação, do enigma; os primeiros rostos, as primeiras carícias, os primeiros medos.

O aforismo deve ser a última colheita do uso da vida, e não uma impertinência ou uma afronta.

O amor dos animais contém muito da desaprovação pelos seres humanos e é próprio dum melindroso estado de revolta que não encontrou a sua linguagem.

O amor é o invisível no habitual.

O fenómeno mais herético é o amor. Ele não é bem recebido nem tolerado porque é uma força sem desistência e que não se revoga a si mesma.

O homem de Deus é menino pela confiança e é adulto pelo reconhecimento da paz do coração.

O homem faz tentativas duma obra, a mulher opera sem necessidade de completar alguma coisa. Ela é um ser completo, princípio e fim, lugar, caso, dispersão do conflito em que a própria morte se descreve, se anuncia.

O humor é, nas pessoas, um elemento terrivelmente desconhecido. Pode unir um povo inteiro como o não fazem os costumes e a própria língua.

O humor ilude-nos como uma faísca num campo escuro. A verve um tanto imoderada, uma corrupção do sentimento que se faz galhofa, um medo de ganhar nome de suspeita virilidade. Quem não troça é beato ou é eunuco.

O importante é não perder o estilo, e, se possível, não perder o dinheiro também. Porque o estilo sem dinheiro é uma infiltração do mau gosto.

O medo faz as pessoas extravagantes, mas não as faz originais.

O mundo exige mais do que a média, para dar em troca menos do que é justo.

O mundo não precisa de originais, mas de criaturas livres para além de todas as possibilidades humanas.

O ódio do poder, o ódio duma civilização vitoriana ou outra qualquer, é ainda uma forma de reconhecer-lhe direitos. Não se empurra pelas escadas abaixo uma imagem e o seu santuário, sem estarmos a declarar-lhes a sua virtude feudal.

O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.

O prazer da reflexão deriva duma condição que se presume essencialmente masculina, a da interrogação. O homem interroga, a mulher escolhe. Isto estabelece a mútua dependência dos sexos.

O privilégio de se ser uma vítima do nosso sentimento de superioridade, é difícil de suportar. Assusta muita gente, parece uma heresia em tempos como os nossos. E, no entanto, é fundamental, para que uma obra seja feita.

O que é um poeta, afinal? Uma intacta opressão da alma.

O saber precisa de ser visto com a idiotia que ele próprio comporta, com o jogo de certezas que uma época tem por inevitáveis mas não por permanente. Um mundo sem idiotas é um mundo saturado de falsa dignidade.

O ser civilizado é uma aberração. É perverso.

O trabalho não é uma vocação, é uma inspiração. Para manter essa inspiração é preciso um espaço de criação, não só para o artista profissional como para o indivíduo em geral.

O viver multipolar entre o que se ama e o que nos comove, alimenta a vontade de sermos nós próprios sem afectar o amor do próximo.

Os escritores para crianças ou são chatos ou corruptores. De resto, só escreve expressamente para crianças quem não sabe fazer outra coisa.

Os homens têm necessidade da culpa porque ela funciona como um excitante para criar. Têm que criar as excitações da culpa. Têm que ser criminosos. É tão simples como isso.

Os maiores revolucionários foram conservadores em coisas de arte, e os maiores artistas foram quietistas em assuntos políticos. Entende-se por isto que no revolucionário há uma nostalgia do consumado, e no artista há um cepticismo da realização.

Os povos em busca de originalidade não existem; existem os funcionários da inteligência que julgam ir ao encontro das aspirações dos povos dando-lhes uma dimensão excepcional.

Os tempos são ligeiros e nós pesados, porque nos sobram recordações. Quem se alimenta delas sofre e descuida as alegrias, mesmo que sejam rápidas e se escondam da nossa razão.

Para se remeter ao extraordinário, o homem tem que criar a sua própria solidão repartida com os outros homens.

Parte da originalidade dum escritor depende das fontes dos seus plágios. É preciso dominá-las bem para poder usá-las da maneira mais convincente.

Pode-se não recordar os insultos; mas guarda-se deles um amargo de experiência, feia como uma cicatriz. E isso envelhece a alma, torna-a ruinosa e inútil.

Politizar sem primeiro instruir provoca a intervenção do mais grosseiro rosto dos desejos humanos. Aparece a cupidez e a insolência, e por aí adiante.

Quando alguém se entrega ao ofício de ensinar, com uma fé conspícua e soberana, acreditem que a desilusão vive nele, como as ondinas num lago, como no elemento que as criou.

Quase ninguém repara em ninguém. Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo.

Que a extravagância não seja nada de prático é o que se acredita e se divulga. Mas, na verdade, trata-se duma virtude pela qual o homem prático, o autêntico, dará todo o sangue das suas veias.

Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?

Quem faz a História de um país pertence-lhe para sempre, não pode ser repudiado por ele, não pode ser chamado um estranho.

Se há alguém que não se interessa pelos poetas, são as mulheres. As paixões que as palavras desencadeiam, isso as mulheres recebem no código que a poesia contém.

Se não há homens insubstituíveis, há palavras que são insubstituíveis. Elas, de resto, não exprimem nunca o conflito, mas o seu fantasma; e o fantasma duma realidade está subordinado à escolha estrita das palavras. Aí repousa o estrato da confiança humana.

Sendo que a vida humana é dominação organizada, e o princípio da realidade é adaptação a essa mesma dominação – há a rebeldia como actividade nobre.

Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.

Toda a obra escrita é a expressão dum conhecimento limitado. Mas todo o conhecimento limitado está aberto a novas particularidades, até que se apresente a súbita vontade de não ir mais longe.

Um povo já não acredita nas promessas dos governantes, porque perdeu a vontade fanática que o levava a acreditar e a tecer razões para isso.

Uma nação não nasce de uma ideia nobre, embora esteja preparada para provar a sua nobreza em qualquer conjectura adversa aos seus direitos de justiça.

A amizade exige a cortesia. Não é como o amor, que, pela sua áurea mudança, se adapta à confidência e ao desembaraço narrativo.

A arte de oprimir os povos foi-se modificando. A ambição sofreu grandes alterações. Agora os homens usam de conteúdo cultural, violador de multidões na sua conduta; não é a força do braço nem o nome de família que alimentam o seu prestígio – é antes a energia duma convicção que se imponha pela utilidade que prometem.

A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso». É algo mais. É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.

A competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie.

A criança que é despojada da sua riqueza de convivencialidade incrementa a frustração do adulto de amanhã.

A crueldade é um dom, se corresponde a uma denúncia da cobardia no seu todo, mas é um vício se é a consagração da parcialidade. A vingança é uma parcialidade. A desmesura é parcialidade. A grandeza é o todo.

A cultura é o que identifica um povo com a sua finalidade.

A essência das coisas não está na filosofia, nem na política, nem em qualquer função intelectual. Está na reciprocidade do inconsciente que não encadeia só o que é humano, mas até o que é apenas vegetal ou inerte.

A existência do homem adulto não encerra senão monotonia. A paixão não procede das pessoas, mas de algo a que elas têm de obedecer para não cumprirem apenas uma vida sem impulso e sem fantasia.

A frivolidade é também uma forma de hipocrisia porque as pessoas não são aquilo. A pessoa, quanto mais frívola nos parece, mais esconde a sua natureza profunda.

A grandeza dum espírito está na pluralidade e plenitude da sua sensibilidade. Todo o vasto espírito é sempre um tanto santo e outro tanto demoníaco. Todo o artista exagera ou dilui, aviva ou simplifica.

A guerra é apetecível. Não me venham dizer que a guerra é obra de generais e de caudilhos. A multidão sabe perfeitamente que vai para uma orgia.

A infância vive a realidade da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia.

A intimidade excessiva desencadeia a hostilidade.

A leitura responsabiliza muito menos que a palestra; e esta menos do que a imagem. Na imagem aparece a lógica do conteúdo com mais intensidade.

A melhor impressão que a poesia nos pode dar é esta: ficar de coração vagabundo, deixando a vareja estalar na janela as asas grossas, e não dar por isso, como um cão surdo.

A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam.

A moral consta duma certa dose de cortesia para parecermos bons.

A mulher e o poder é uma má mistura; torna-as rancorosas e briguentas.

A mulher, até pelo seu grande poder de insignificância, é muito menos vulnerável que o homem.

A paz não tem figura nem desejo absoluto; viver em paz não é viver; (…) a paz é um absurdo, como a realidade concreta é um absurdo que é preciso recriar para que se torne afecto do homem, obra sua.

A rapidez que as pessoas imprimem às suas vidas faz com que simplifiquem a realidade e fabriquem o que se chama a «personalidade do momento». Sobretudo nos políticos e homens à escala governativa, isso exprime-se por manifestações impulsivas, peculiares a cada hora, vinculadas às situações proteiformes.

A razão é como a mulher honestíssima e sem parentes, que em tudo está falta de auxílio e de liberdade.

A sabedoria seduz mais do que a mulher; até porque mais depressa se atinge a sabedoria, do que se encontra uma mulher perfeita.

A sociedade prosseguirá em estado de violência, porque o homem não prescinde da sua enfermidade moral que é achar-se inútil num mundo que não criou.

A solidão, quando é vivida na infância em completa disponibilidade, sem constrangimento, como um estado semelhante ao do primeiro homem e da primeira mulher, tem tendência a tornar-se crónica.

Acabarei como aquele que disse que pouco louvou na vida e se arrepende de não ter louvado ainda menos.

Animais – eles são a medida da nossa paz com o mundo criado; eles são um dado de consolação porque não mudam para como quem tanto muda como nós, humanos.

Ao longo da minha experiência foi-me dado observar o comportamento das pessoas, e com isso fiz romances. Eles ficam, no entanto, muito aquém do que aconteceu, porque há uma coisa que se chama a timidez da alma, e o que nos é revelado pode ser-nos proibido também.

As cidades não são pátrias. É na província que se encontra o carácter e a mística duma nação, e os grandes escritores deixam-se amarrar ao espírito das terras nulas e sensatas a que extraem um brilho que a pedra polida da capital não tem.

As coisas simples são indissolúveis. Não havendo nelas contradição, a tendência é para serem duráveis.

As guerras não surgem por motivos económicos ou passionais. É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior.

As mais belas civilizações tiveram um rápido declínio, exactamente porque elas foram demasiado longe na dissimulação.

As palavras não significam nada se não forem recebidas como um eco da vontade de quem as ouve.

As primeiras impressões não são decisivas. Às vezes são fatais mas não decisivas.

As revoluções só se detêm com as guerras. As nações, cada vez mais enredadas nas suas embaraçosas decisões, hão-de por fim querer sair delas através dum risco cego, duma experiência que pareça resumir a verdade conjuntural.

Casamento – é muito difícil conhecer uma pessoa com quem se vive muito próximo, porque há um fenómeno de desfocagem, porque se está tão próximo não há uma perspectiva para conhecer, só para amar.

Cólera – liberta o coração para razões que prolongam o desejo de viver. Quem não se encoleriza acaba por pedir socorro por meio de doenças, obsessões e livros de viagens.

Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer.

Custa tanto escrever um bom livro como um mau livro; mas só merece respeito a Arte que é em nós uma imposição, um destino, um fogo inconsumível de espírito, ainda que a obra, relativa à nossa exigência, nos pareça medíocre.

Demasiada lucidez é culpada num mundo de cegos, que com a cegueira se contemplam sem desastre de maior.

Disciplinar os povos é sempre a ilusão frenética dos grandes revolucionários. Falham continuamente. Não se dominam as energias sociais do mundo senão na medida em que elas tendem a uma rotina que, por sua vez, deixe tranquila a «espontaneidade negativa» do homem.

Dizem mal de tudo com uma insinceridade genial. Os Portugueses são a gente mais insincera que há. Por isso são raramente grandes artistas.

É extraordinário como nos tornamos violentos quando queremos agradar ao mundo. Agradar ao mundo resume o comportamento da sociedade nos seus aspectos mais retóricos.

Em toda a pergunta há uma ociosidade. Quem pergunta, esconde alguma coisa; quem muito fala, esconde o coração dos curiosos e despede-os com entretenimentos de vozes.

Em todos os grandes vencedores e nos que amam o poder encontra-se a seriedade que se explica por uma sobriedade de desejos. A aspiração mata o desejo. E a aspiração é um dos pontos cardeais do poder.

Entre a obra de arte e a crítica há um abismo, porque a crítica é inteligência, e a obra é, mais ou menos esquivado ou completado, o impossível.

Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração.

Escrevo para desiludir com mérito, que é a maneira de se fazer lembrar com virtude.

Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.

Eu admiro os grandes parados. Em geral são pessoas de grande perspicácia. O movimento produz calor, mas não aguça a inteligência.

Eu digo-lhes o que é a marca dos vencedores: uma solidão moderada e moderada procura de prazeres e de louvores.

Fim – o que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa.

Goza de alegria o que não encontra no mundo atractivo maior do que a virtude desconhecida.

Há três maneiras de viver numa civilização: com as convicções partidárias, com o julgamento dinâmico do homem livre, ou com os impulsos do coração. Todas elas podem ser honrosas ou infames; depende da inspiração que sofrem umas das outras. Pois nada é completamente necessário senão na medida em que depende duma outra realidade.

Humilde é a pessoa que não afasta de si a crença do Infinito, a realidade das suas pequenas pegadas na vida – e não aquela que se desmerece, que insulta o seu corpo e a sua alma, que se enfurece contra si mesma. Aceitar a sua humilhação é consentir na humilhação do seu próprio Deus.

Mãe: profundamente cumpridora e formal, nas suas relações com os seus filhos, na sua relação com a casa e com o lar, sempre presente e movida do bem-estar material, mas com um certo puritanismo, talvez até um pouco incómodo. Um puritano quer dizer um rebelde que se ignora.

Mas o que são os vaidosos senão os que temem a sua nudez? Os que evitam o retrato da alma para não lhes descobrir tormento e debilidade?

Na experiência humana não há unidade, tudo são esforços inéditos; só que muito frequentemente o fracasso os torna iguais entre si.

Na nossa sociedade, que se entende por permissiva, não há afinal homens exemplares. Há só leis que substituem o exemplo; há só alíneas morais que estão em vez dos actos reais e da sua humanidade.

Na sabedoria há qualquer coisa de estéril.

Nada se aprende das recordações; são um manjar frio que só os gulosos devoram.

Nada, na natureza, sofre; só suporta. Desse modo, a natureza comporta-se politicamente. Será justo imitá-la de vez em quando.

Não é difícil o sucesso político se tivermos em conta que é uma área pouco cobiçada e onde não há adversários muito convictos.

Não há exemplo duma ideia que, por excelente que seja, se desenvolva ao nível do quotidiano. Sofre de toda a espécie de mutações antes de entrar na carreira do lugar-comum, que é onde acabam todas as grandes ideias.

No fundo, agradece-se que não haja grandes governantes; eles trazem a ordem, portanto a proibição de escolha a uma consciência em estado de profunda reprovação. Um governante iluminado causa mais males do que duzentos que estejam pouco empenhados na felicidade humana.

Nós, as mulheres, o que nos faz amar um homem é aparentá-lo com tudo o que amamos – o tempo da crise, da puberdade, da gestação, do enigma; os primeiros rostos, as primeiras carícias, os primeiros medos.

O aforismo deve ser a última colheita do uso da vida, e não uma impertinência ou uma afronta.

O amor dos animais contém muito da desaprovação pelos seres humanos e é próprio dum melindroso estado de revolta que não encontrou a sua linguagem.

O amor é o invisível no habitual.

O fenómeno mais herético é o amor. Ele não é bem recebido nem tolerado porque é uma força sem desistência e que não se revoga a si mesma.

O homem de Deus é menino pela confiança e é adulto pelo reconhecimento da paz do coração.

O homem faz tentativas duma obra, a mulher opera sem necessidade de completar alguma coisa. Ela é um ser completo, princípio e fim, lugar, caso, dispersão do conflito em que a própria morte se descreve, se anuncia.

O humor é, nas pessoas, um elemento terrivelmente desconhecido. Pode unir um povo inteiro como o não fazem os costumes e a própria língua.

O humor ilude-nos como uma faísca num campo escuro. A verve um tanto imoderada, uma corrupção do sentimento que se faz galhofa, um medo de ganhar nome de suspeita virilidade. Quem não troça é beato ou é eunuco.

O importante é não perder o estilo, e, se possível, não perder o dinheiro também. Porque o estilo sem dinheiro é uma infiltração do mau gosto.

O medo faz as pessoas extravagantes, mas não as faz originais.

O mundo exige mais do que a média, para dar em troca menos do que é justo.

O mundo não precisa de originais, mas de criaturas livres para além de todas as possibilidades humanas.

O ódio do poder, o ódio duma civilização vitoriana ou outra qualquer, é ainda uma forma de reconhecer-lhe direitos. Não se empurra pelas escadas abaixo uma imagem e o seu santuário, sem estarmos a declarar-lhes a sua virtude feudal.

O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.

O prazer da reflexão deriva duma condição que se presume essencialmente masculina, a da interrogação. O homem interroga, a mulher escolhe. Isto estabelece a mútua dependência dos sexos.

O privilégio de se ser uma vítima do nosso sentimento de superioridade, é difícil de suportar. Assusta muita gente, parece uma heresia em tempos como os nossos. E, no entanto, é fundamental, para que uma obra seja feita.

O que é um poeta, afinal? Uma intacta opressão da alma.

O saber precisa de ser visto com a idiotia que ele próprio comporta, com o jogo de certezas que uma época tem por inevitáveis mas não por permanente. Um mundo sem idiotas é um mundo saturado de falsa dignidade.

O ser civilizado é uma aberração. É perverso.

O trabalho não é uma vocação, é uma inspiração. Para manter essa inspiração é preciso um espaço de criação, não só para o artista profissional como para o indivíduo em geral.

O viver multipolar entre o que se ama e o que nos comove, alimenta a vontade de sermos nós próprios sem afectar o amor do próximo.

Os escritores para crianças ou são chatos ou corruptores. De resto, só escreve expressamente para crianças quem não sabe fazer outra coisa.

Os homens têm necessidade da culpa porque ela funciona como um excitante para criar. Têm que criar as excitações da culpa. Têm que ser criminosos. É tão simples como isso.

Os maiores revolucionários foram conservadores em coisas de arte, e os maiores artistas foram quietistas em assuntos políticos. Entende-se por isto que no revolucionário há uma nostalgia do consumado, e no artista há um cepticismo da realização.

Os povos em busca de originalidade não existem; existem os funcionários da inteligência que julgam ir ao encontro das aspirações dos povos dando-lhes uma dimensão excepcional.

Os tempos são ligeiros e nós pesados, porque nos sobram recordações. Quem se alimenta delas sofre e descuida as alegrias, mesmo que sejam rápidas e se escondam da nossa razão.

Para se remeter ao extraordinário, o homem tem que criar a sua própria solidão repartida com os outros homens.

Parte da originalidade dum escritor depende das fontes dos seus plágios. É preciso dominá-las bem para poder usá-las da maneira mais convincente.

Pode-se não recordar os insultos; mas guarda-se deles um amargo de experiência, feia como uma cicatriz. E isso envelhece a alma, torna-a ruinosa e inútil.

Politizar sem primeiro instruir provoca a intervenção do mais grosseiro rosto dos desejos humanos. Aparece a cupidez e a insolência, e por aí adiante.

Quando alguém se entrega ao ofício de ensinar, com uma fé conspícua e soberana, acreditem que a desilusão vive nele, como as ondinas num lago, como no elemento que as criou.

Quase ninguém repara em ninguém. Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo.

Que a extravagância não seja nada de prático é o que se acredita e se divulga. Mas, na verdade, trata-se duma virtude pela qual o homem prático, o autêntico, dará todo o sangue das suas veias.

Que é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?

Quem faz a História de um país pertence-lhe para sempre, não pode ser repudiado por ele, não pode ser chamado um estranho.

Se há alguém que não se interessa pelos poetas, são as mulheres. As paixões que as palavras desencadeiam, isso as mulheres recebem no código que a poesia contém.

Se não há homens insubstituíveis, há palavras que são insubstituíveis. Elas, de resto, não exprimem nunca o conflito, mas o seu fantasma; e o fantasma duma realidade está subordinado à escolha estrita das palavras. Aí repousa o estrato da confiança humana.

Sendo que a vida humana é dominação organizada, e o princípio da realidade é adaptação a essa mesma dominação – há a rebeldia como actividade nobre.

Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.

Toda a obra escrita é a expressão dum conhecimento limitado. Mas todo o conhecimento limitado está aberto a novas particularidades, até que se apresente a súbita vontade de não ir mais longe.

Um povo já não acredita nas promessas dos governantes, porque perdeu a vontade fanática que o levava a acreditar e a tecer razões para isso.

Uma nação não nasce de uma ideia nobre, embora esteja preparada para provar a sua nobreza em qualquer conjectura adversa aos seus direitos de justiça.

Uma nação não nasce duma ideia. Nasce dum contrato de homens livres que se inspiram nas insubmissões necessárias ao ministério dos povos sobre os seus infortúnios.