Citações de Manuel du Bocage

A frouxidão no amor é uma ofensa, / Ofensa que se eleva a grau supremo; / Paixão requer paixão; fervor e extremo / Com extremo e fervor se recompensa.

Ah! Se a vossa liberdade / Zelosamente guardais, / Como sois usurpadores / Da liberdade dos mais?

Amor em sendo ditoso / Costuma ser imprudente, / E nos gestos de quem ama / Logo o vê quem o não sente.

Aquele canta e ri; não se embaraça / Com essas coisas vãs que o mundo adora / Este (oh, cega ambição!) mil vezes chora / Porque não acha bem que o satisfaça.

Basta, cega paixão, loucos amores; / Esqueçam-se os prazeres de algum dia, / Tão belos, tão duráveis como as flores.

Da glória, que não é romper muralhas, /Tragar a natureza, / Ou nutrir ilusões, dar vulto ao nada, / Mas em jugo macio / Docemente prender geral vontade.

De Amor os gozos são como o diamante, / Que, sem o engaste que tocar-lhe veda, / Perdera a polidez, perdera o brilho.

De quantas cores se matiza o Fado! Nem sempre o homem ri, nem sempre chora, Mal com bem, bem com mal é temperado.

Dos homens ignoras / A índole errante? / Quem é muito amado / Não é muito amante.

Faço a paz, sustento a guerra, / Agrado a doutos e a rudes, / Gero vícios e virtudes, / Torço as leis, domino a Terra.

Ingénuo, tem conta de ti! / No mundo há muitos enganos / (Eu o sei, porque os sofri); / Os bons padecem mil danos / Julgando os outros por si.

Mas, ah tirano Amor! Ou cedo ou tarde / É forçoso aos mortais sofrer teu jugo; / Amor, tu és um mal que fere a todos: / Longa experiência contra ti não vale, / Ou Virtude, ou Razão, só vale a Morte.

Meus pensamentos se apuram, / Apuram-se os meus desejos / No ténue filtro celeste / De teus espontâneos beijos.

Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida / Delirando de amor, sem fruto ardendo, / É padecer mil mortes, mil infernos.

Ó serena amizade! / Tu prestas mais que Amor: seus vãos favores / São caros, são custosos.

Os Homens não são maus por natureza; / atractivo interesse os falsifica, / A utilidade ao mal, e ao bem o instinto / Guia estes frágeis entes.

Política feroz, que sempre armada / De bárbaros pretextos, / À morte horrenda em lúgubre teatro / Dás vítimas sem conto, / Apoucas e destróis a Humanidade, / Afectando mantê-la.

Por entre a chuva de mortais peloiros / A nua fronte enriquecer de loiros / Eu procuro, eu desejo, / Para teus mimos desfrutar sem pejo, / Pois quem deste esplendor se não guarnece, / Não é digno de ti, não te merece.

Sacode o jugo, despedaça os ferros, / A vaidade te anime. / Quase tudo o que é raro, estranho, ilustre, / Da vaidade procede, / Móvel primeiro das acções pasmosas.

Só tu, meu bem, me arrebatas / A vontade, o pensamento; / Vivo de ver-te e de amar-te, / E detesto o fingimento.

Tu, de quantos dragões o Inferno encerra, / És o pior, Inveja pestilente! / Morde a virtude, ao mérito faz guerra / Teu detestável, teu maligno dente.

Um tímido pudor activos fogos / Contrariava em vão, em vão retinha / Ignotos medos, sôfregos desejos. / Suspensa e curiosa, eu esperava / Gostosa cena, em que prolixas noites / Pensando o que seria, despendera.

Vai sempre avante a paixão, / Buscando seu doce fim; / Os amantes são assim: / Todos fogem à razão.

Virtude os meios ama, odeia extremos; / Extremos são no mundo ou erro ou culpa. / Do mesmo que abrilhanta a Humanidade / Longe, longe, ó mortais, o injusto excesso!

Vós suspirais pela posse / Das externas perfeições; / Vós cobiçais os deleites, / Eu cobiço os corações.