A banalidade é uma obra terrível dos nossos olhos.
A ciência desenha a onda; a poesia enche-a de água.
A corrupção favorece as ideias novas.
A indiferença que cerca o homem demonstra a sua qualidade de estrangeiro.
A morte é a pessoa feminina de Deus.
A sociedade é uma colecção de cidadãos ou fantasmas, criaturas expulsas da Existência natural, por interesse colectivo. Que são os homens, diante do Homem?
A vaidade é a sinceridade em pessoa.
Agir é construir, destruindo.
As coisas são possibilidades realizadas contendo inúmeras possibilidades realizáveis.
De que serve ressuscitar? Toda a gente continua a ver o morto.
Deus não está nos preceitos da Moral.
É possível que entre o Crime e a Inspiração haja um certo parentesco.
Existir não é pensar: é ser lembrado.
Não existimos mais que os nossos sonhos.
O amor é fome de outra vida, desejo de transitar. Quando dois amantes se abraçam e beijam, entredevoram-se, morrem um no outro, de algum modo, e transitam para um novo ser. A vida não pode ficar em nós, a repetir-se, que repetir é estar parado, é ocupar o mesmo lugar.
O homem é feito de água. Seria uma estátua incolor e transparente, quase invisível, se não fosse a armação de pedra em que se firma e as várias imagens misteriosas reflectidas na sua superfície.
O homem é um castelo feito no ar. O que ele tem de não existente, é que lhe dá existência. O engano em que ele vive, é que lhe dá vida. Toda a realidade do seu corpo se firma na mentira da sua alma.
O homem foge da sua sombra anterior para a sua luz futura.
O homem só é verdadeiro quando se julga incógnito. Se tem de representar a sua pessoa, a arte absorve-o e desvia-o do seu próprio ser.
O homem, antes de tudo, é poeta, por mais gordo ou adaptado à rotundidade planetária; e depois é pedagogo, aferidor de pesos e medidas, engenheiro, deputado e outras deformidades sociais.
O infinito é ele menos o metro em que avultamos; a eternidade é ela menos a hora em que vivemos.
O nome desfigura as coisas.
O pecado é mais fecundo que a virtude.
O Português é indeciso e inquieto, como as nuvens em que as suas montanhas se continuam e as ondas em que as suas campinas se prolongam.
O que não aconteceu, nunca esteve para acontecer, e o que aconteceu, nunca esteve para não acontecer.
O riso brota dos dentes que mordem.
O segredo da nossa vida moral não reside na etérea consciência, mas nas profundas da inconsciência, onde rastejam a dissimulação, a crueldade, o medo e outras virtudes adquiridas nos combates.
Os animais são pessoas, como nós somos animais.
Se Deus não fosse um absurdo, quem lhe ligaria importância ou acreditaria nele?
Ser uma coisa evidente é ficar reduzido a quase nada.
Só a cabeça de um morto diz que sim a todos os movimentos que lhe imprimem.
Sonho
Todas as almas são igualmente perfeitas.
Todo o enigma da vida está fechado na cabeça de uma formiga.
Todos os gestos de um homem visam a Humanidade.