Citações de Marquês de Maricá

A actividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça.

A alegria do pobre, ainda que menos durável, é sempre mais intensa que a do rico.

A ambição é um enredo que nos enreda por toda a vida.

A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.

A amizade mais perfeita e mais durável é somente aquela que contraímos com o nosso interesse.

A aura popular é como a fumaça, que desaparece em poucos instantes.

A autoridade de poucos é e será sempre a razão e argumento de muitos.

A avareza contribui muito para a longevidade, pela dieta e abstinência.

A beleza é uma letra que se vence à vista, a sabedoria tem o seu vencimento a prazos.

A beneficência da vaidade é algumas vezes mais profusa que a da virtude.

A beneficência é sempre feliz e oportuna quando a prudência a dirige e recomenda.

A celebridade, que custa pouco, tem pequeno fulgor e duração.

A civilidade é uma impostura indispensável, quando os homens não têm as virtudes que ela afecta, mas os vícios que dissimula.

A cobardia, aviltando, preserva frequentes vezes a vida.

A companhia dos livros dispensa com grande vantagem a dos homens.

A constância nas nossas opiniões seria geralmente embaraço e oposição ao progresso e melhoramento da nossa inteligência.

A credulidade e confiança de muitos tolos faz o triunfo de uns poucos velhacos.

A democracia é como a tesoura do jardineiro, que decota para igualar; a mediocridade é o seu elemento.

A dialética do interesse é quase sempre mais poderosa que a da razão e consciência.

A dissimulação algumas vezes denota prudência, mas ordinariamente fraqueza.

A duração de um bem não assegura a sua perpetuidade.

A esperança descobre recursos, a desesperação os renuncia.

A experiência que não dói pouco aproveita.

A falsa ciência não aumenta o nosso saber, agrava a nossa ignorância.

A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.

A filosofia desagrada, porque abstrai e espiritualiza; a poesia debita, porque materializa e figura todos os seus objectos. Quereis persuadir e dominar os homens, falai à sua imaginação, e confiai pouco na sua razão.

A filosofia não entorpece a sensibilidade, quando muito pode chegar a regulá-la.

A força é hostil a si própria, quando a inteligência a não dirige.

A força sem inteligência é como o movimento sem direcção.

A fruição desencanta muitos bens e prazeres sensuais, que a imaginação, os desejos e as esperanças figuravam encantadores.

A harmonia da sociedade, como da natureza, consiste e depende da variedade e antagonismo dos seus elementos e carácteres.

A herança dos sábios tem sempre maior extensão e perpetuidade que a dos ricos: compreende o género humano, e alcança a mais remota posteridade.

A ignorância dócil é desculpável, a presumida e refractária é desprezível e intolerável.

A ignorância pasma ou espanta-se, mas não admira.

A ignorância que deverá ser acanhada, conhecendo-se, é audaz e temerária quando não se conhece.

A ignorância tem os seus bens privativos, como a sabedoria os seus males peculiares.

A ignorância vencível no homem é limitada, a invencível infinita.

A ignorância, exagerando a nossa pouca ciência, promove a nossa grande vaidade.

A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.

A igualdade repugna de tal modo aos homens que o maior empenho de cada um é distinguir-se ou desigualar-se.

A imaginação é o paraíso dos afortunados, e o inferno dos desgraçados.

A imaginação exagera, a razão desconta, o juízo regula.

A impaciência, quando não remedeia os nossos males, agrava-os.

A imperfeição é a causa necessária da variedade nos indivíduos da mesma espécie. O perfeito é sempre idêntico e não admite diferenças por excesso ou por defeito.

A impunidade é segura, quando a cumplicidade é geral.

A inconstância humana é o produto necessário das variações da natureza, das circunstâncias e dos eventos.

A incredulidade que é da moda nas pessoas jovens, torna-se o seu tormento na velhice.

A indiferença ou apatia que em muitos é prova de estupidez pode ser em alguns o produto de profunda sapiência.

A ingratidão dos povos é mais escandalosa que a das pessoas.

A intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.

A intolerância irracional de muitos escusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns.

A intriga que alcança os empregos não habilita para bem servi-los.

A inveja de muitos anuncia o merecimento de alguns.

A inveja, que abrevia ou suprime os elogios, é sempre minuciosa e prolixa na sua crítica e censura.

A liberdade é a que nos constitui entes morais, bons ou maus; é um grande bem para quem tem juízo; e para quem o não tem, um mal gravíssimo.

A liberdade que nunca é suficiente para os maus é sempre sobeja para os bons.

A má educação consiste especialmente nos maus exemplos.

A maior parte dos males e misérias dos homens provêm, não da falta de liberdade, mas do seu abuso e demasia.

A maledicência é uma ocupação e lenitivo para os descontentes.

A maledicência pode muitas vezes corrigir-nos, a lisonja quase sempre nos corrompe.

A memória dos velhos é menos pronta, porque o seu arquivo é muito extenso.

A mocidade é a estação da felicidade sensual, a velhice, a da moral e intelectual.

A mocidade é temerária; presume muito porque sabe pouco.

A mocidade é um sonho que deleita, a velhice uma vigília que incomoda.

A mocidade expande-se para conhecer o mundo e os homens, a velhice contrai-se por havê-los conhecido.

A mocidade viciosa faz provisão de achaques para a velhice.

A moda determina as opiniões de muita gente.

A moderação em muitos homens é o reconhecimento da própria fraqueza ou mediocridade.

A modéstia doura os talentos, a vaidade os deslustra.

A morte anula sempre mais planos e projectos do que a vida executa.

A morte de um avarento equivale à descoberta de um tesouro.

A morte que desordena muitas coisas, coordena muitas outras.

A morte que tira a importância a todos, confere-a a muito poucos.

A mudança rápida da temperatura do ar não é mais funesta à saúde individual do que a das opiniões políticas à tranquilidade das nações.

A nossa imaginação gera fantasmas que nos espantam durante toda a nossa vida.

A novidade incomoda os velhos, a uniformidade os moços.

A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.

A opinião da nossa importância nos é tão funesta como vantajosa e segura a desconfiança de nós mesmos.

A opinião pública é sempre respeitável, não pelo seu racionalismo, mas pela sua omnipotência muscular.

A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração que as modas.

A opinião que domina é sempre intolerante, ainda quando se recomenda por muito liberal.

A paciência dispensa a resistência e a reacção.

A paciência em muitos casos não é mais senão medo, preguiça ou impotência.

A paixão da leitura é a mais inocente, aprazível e a menos dispendiosa.

A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.

A pobreza não tem bagagem, por isso marcha livre e escuteira na viagem da vida humana.

A preguiça dificulta, a actividade tudo facilita.

A preguiça enfada e quebranta mais que o trabalho regular.

A preguiça gasta a vida, como a ferrugem consome o ferro.

A prudência é uma arma defensiva que supre ou desarma todas as outras.

A razão destrói nos homens as criações da sua própria imaginação.

A razão dos filósofos é muitas vezes tão extravagante como a imaginação dos poetas.

A razão é escrava quando a fé e autoridade são senhoras.

A razão prevalece na velhice, porque as paixões também envelhecem.

A razão também tiraniza algumas vezes, como as paixões.

A razão, sem a memória, não teria materiais com que exercer a sua actividade.

A religião amansa os bravos e alenta os fracos.

A religião supre o juízo e a razão que falta em muita gente.

A riqueza doura a sabedoria e os talentos, mas não os constitui.

A riqueza não acompanha por muito tempo os viciosos.

A sabedoria é geralmente reputada como pobre, porque não se podem ver os seus tesouros.

A sabedoria é sintética; ela expressa-se por máximas, sentenças e aforismos.

A sabedoria humana, bem ponderada, vale sempre menos do que custa.

A sabedoria indigente é menos invejada que a ignorância opulenta.

A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada.

A sinceridade imprudente é uma espécie de nudez que nos torna indecentes e desprezíveis.

A solidão liberta-nos da sujeição das companhias.

A tirania não é menos arriscada para o opressor, do que penosa para o oprimido.

A vaidade de muita ciência é prova de pouco saber.

A vaidade é talvez um grande condimento da felicidade humana.

A velhice reflexiva é um grande armazém de desenganos.

A verdade é tão simples que não deleita: são os erros e ficções que pela sua variedade nos encantam.

A vida a uns, a morte confere celebridade a outros.

A vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca e simultaneamente intrigados e intrigantes.

A vida humana parece de algum modo tríplice, quando reflectimos que vivemos e sentimos em três tempos, no pretérito, presente e no futuro.

A vida humana seria incomportável sem as ilusões e prestígios que a circundam.

A vida reluz nos olhos, a razão nas palavras e acções dos homens.

A vida tem uma só entrada: a saída é por cem portas.

A vingança comprimida aumenta em violência e intensidade.

A vingança do sábio desatendido ou maltratado é o silêncio.

A virtude diviniza-nos, o vício embrutece-nos.

A virtude é comunicável, mas o vício contagioso.

A virtude é o maior e mais eficaz preservativo dos males da vida humana.

A virtude remoça os velhos, o vicio envelhece os moços.

A virtude resplandece na adversidade, como o incenso reacende sobre as brasas.

A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.

Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.

Admiramo-nos do que é raro, ou singular, tanto no mal como no bem.

Adular os tolos é um meio ordinário de os desfrutar; os velhacos empregam-no eficazmente.

Afectamos desprezar as injúrias que não podemos vingar.

Afectamos desprezar os bens que não podemos conseguir.

Aflige-nos a glória alheia contrastada com a nossa insignificância.

Agrada-nos o homem sincero, porque nos poupa o trabalho de o estudarmos para o conhecermos.

Ainda que perdoemos aos maus, a ordem moral não lhes perdoa, e castiga a nossa indulgência.

Amamo-nos sempre em tudo o que mais amamos fora de nós.

Amamo-nos sobre tudo, e aos outros homens por amor de nós.

Ambicionando o louvor e admiração dos outros homens, provocamos frequentes vezes a sua inveja e aversão.

Ambos se enganam, o velho quando louva somente o passado, o moço quando só admira o presente.

Amigos há de grande valia, que todavia não podem fazer-nos outro bem, senão impedindo pelo seu respeito que nos façam mal.

Aprovamos algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão.

Aproveita muito subir aos maiores empregos do Estado, para nos desenganarmos da sua vanglória e inanidade.

Aquele que se envergonha ainda não é incorrigível.

Arguimos a vaidade alheia porque ofende a nossa própria.

As circunstâncias ordinariamente nos dominam, poucas vezes nos obedecem.

As crenças religiosas fixam as opiniões dos homens, as teorias filosóficas perturbam-nas e confundem.

As desgraças que vigoram os homens probos e virtuosos, enervam e desalentam os maus e viciosos.

As esperanças, quando se frustram, agravam mais os nossos infortúnios.

As grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem poucos seriam os livros se contivessem somente verdades. Os erros dos homens abastecem as estantes.

As ideias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.

As nossas necessidades unem-nos, mas as nossas opiniões separam-nos.

As opiniões de um século causam riso ou lástima em outros séculos.

As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objectos.

As revoluções frequentes fazem raquíticas as nações recentes.

As revoluções, que regeneram as nações velhas, arruinam e fazem degenerar as novas.

As verdades mais triviais parecem novas quando se enunciam por um modo mais elegante e desusado.

As virtudes são económicas, mas os vícios dispendiosos.

As virtudes são racionais, os vícios sensualistas.

As virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.

Bem curta seria a felicidade dos homens se fosse limitada aos prazeres da razão; os da imaginação ocupam os maiores espaços da vida humana.

Capitulamos quase sempre com os nossos males, quando os não podemos evitar ou remover.

Com pouco nos divertimos, com muito menos nos afligimos.

Com trabalho, inteligência e economia só é pobre quem não quer ser rico.

Como a luz numa masmorra faz visível todo o seu horror, assim a sabedoria manifesta ao homem todos os defeitos e imperfeições da sua natureza.

Como o espaço compreende todos os corpos, a ambição abrange todas as paixões.

Como os sábios não adulam os povos, estes também não os promovem.

Condenamos por ignorantes as gerações pretéritas, e a mesma sentença nos espera nas gerações futuras.

Custa menos ao nosso amor-próprio caluniar a sorte, do que acusar a nossa má conduta.

De nada vale a celebridade, quando os grandes crimes também a conseguem.

Deixamos de subir alto quando queremos subir de um salto.

Descontentes de tudo, só nos contentamos com o nosso próprio juízo, por mais limitado que seja.

Desejamos que prosperem as pessoas de cuja prosperidade esperamos participar por algum modo, e receamos a elevação daquelas cujas intenções não nos são favoráveis.

Desempenhar bem os grandes empregos depende muitas vezes mais das circunstâncias que dos homens.

Desesperar na desgraça é desconhecer que os males confinam com os bens, e que se alternam ou se transformam.

Desperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve.

Desprezos há, e de pessoas tais, que honram muito os desprezados.

Deve-se julgar da opinião e carácter dos povos pelo dos seus eleitos e predilectos.

Deve-se usar da liberdade, como do vinho, com moderação e sobriedade.

Disputa-se com mais frequência sobre as coisas frívolas do que nas mais importantes; as primeiras alcançam a compreensão de todos.

Disputa-se sobre tudo neste mundo; argumento irrefragável do nosso pouco saber.

Divertimo-nos com os doidos na hipótese de que o não somos.

Dizer-se de um homem que tem juízo é o maior elogio que se lhe pode fazer.

Dói mais ao nosso amor-próprio sermos desprezados, que aborrecidos.

Dói tanto a injúria publicada como a ferida exposta ao ar.

Dos especuladores em revoluções muitos se perdem, e poucos prosperam por algum tempo.

É bem singular que os moços sejam pródigos podendo esperar uma vida longa, e que os velhos sejam avarentos estando ameaçados de uma morte próxima ou iminente.

É condição dos grandes homens serem perseguidos e maltratados na vida, e depois da sua morte lastimados, glorificados e vingados.

É fácil avaliar o juízo ou a capacidade de qualquer homem, quando se sabe o que ele mais ambiciona.

É falta de habilidade governar com tirania.

É felicidade para os homens que cada um deles a defina a seu modo com variedade, na sua essência e objectos.

É judiciosa a economia de palavras, tempo e dinheiro.

É mais difícil sustentar uma grande reputação que granjeá-la ou merecê-la.

É mais fácil cumprir certos deveres, que buscar razões para justificar-nos de o não ter feito.

É mais fácil maldizer dos homens do que instruí-los e melhorá-los.

É mais fácil perdoar os danos do nosso interesse, que os agravos do nosso amor-próprio.

É mais fácil refutar erros que descobrir verdades.

É mais útil algumas vezes a extirpação de um erro, que a descoberta de muitas verdades.

É muito difícil, e em certas circunstâncias quase impossível, sustentar na vida pública o crédito e conceito que merecemos na vida privada.

É muito provável que a posteridade, para quem tantos apelam, tenha tão pouco juízo como nós e os nossos antepassados.

É nas grandes assembleias deliberantes que melhor se conhece a disparidade das opiniões dos homens, e o jogo das paixões e interesses individuais.

É necessário saber muito para poder admirar muito.

É necessário subir muito alto para bem descortinar as ilusões e angústias da ambição, poder e soberania.

É no mundo intelectual que se admiram e apreciam as maravilhas inumeráveis do mundo sensível e material.

É quando menos se crê em milagres que os povos os exigem dos que governam.

É tal a falibilidade dos juízos humanos, que muitas vezes os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade conduzem-nos à miséria e à desgraça.

É tal a incapacidade pessoal de alguns homens, que a fortuna, empenhada em sublimá-los, não pode conseguir o seu propósito.

É tão fácil enganar, quanto é difícil desenganar os homens.

É tão fácil o prometer, e tão difícil o cumprir, que há bem poucas pessoas que cumpram as suas promessas.

É tão fácil sentir a felicidade como é difícil defini-la.

É triste a condição de um velho que só se faz recomendável pela sua longevidade.

Em certas circunstâncias o silêncio de poucos é culpa ou delito de muitos.

Em diversas épocas da nossa vida somos tão diversos de nós mesmos como dos outros homens.

Em geral o temor ou medo, e não a virtude, mantêm a ordem entre os homens.

Em matérias e opiniões políticas os crimes de um tempo são algumas vezes virtudes em outro.

Em saber gozar e sofrer, os animais levam-nos grande vantagem: o seu instinto é mais seguro do que a nossa altiva razão.

Em tese geral não há homem feliz sem mérito, nem desgraçado sem culpa.

Em vão procuramos a verdadeira felicidade fora de nós, se não possuímos a sua fonte dentro de nós mesmos.

Enganamo-nos ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a violência dos males que tememos.

Fazemos ordinariamente mais festa às pessoas que tememos do que àquelas a quem amamos.

Folgamos com os erros alheios como se eles justificassem os nossos.

Formam-se mais tempestades em nós mesmos que no ar, na terra e nos mares.

Ganhamos frequentes vezes perdoando oportunamente.

Há benefícios conferidos com tal rudeza e grosseria que de algum modo justificam os beneficiados da sua ingratidão.

Há certos passatempos e prazeres ilícitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.

Há crimes felizes que são reputados heróicos e gloriosos.

Há duas coisas que não se perdoam entre os partidos políticos: a neutralidade e a apostasia.

Há empregos em que é mais fácil ser homem de bem, que parecê-lo ou fazê-lo crer.

Há enganos que nos deleitam, como desenganos que nos afligem.

Há homens para nada, muitos para pouco, alguns para muito, nenhum para tudo.

Há homens que afectam de muito ocupados, para que os creiam de muito préstimo.

Há homens que hoje crêem pouco ou nada, porque já creram muito e demasiado.

Há homens que parecem grandes no horizonte da vida privada, e pequenos no meridiano da vida pública.

Há males na vida humana que são preservados de outros maiores, e muitas vezes ocasionam bens incalculáveis.

Há mentiras que são enobrecidas e autorizadas pela civilidade.

Há muita gente boa e feliz, porque não tem suficiente liberdade para se fazer má e desgraçada.

Há muita gente infeliz por não saber tolerar com resignação a sua própria insignificância.

Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.

Há muita gente que procura apadrinhar com a opinião pública as suas opiniões e disparates pessoais.

Há muita gente que, assim como o eco, repete as palavras sem lhes compreender o sentido.

Há muitas ocasiões em que a mesma prudência recomenda o aventurar-nos.

Há muitas ocasiões em que os ricos e poderosos invejam a condição dos pobres e insignificantes.

Há muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem benfeitores infelizes ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos.

Há muitos homens reputados infelizes na nossa opinião, que todavia são felizes a seu modo, segundo as suas ideias.

Há opiniões que nascem e morrem como as folhas das árvores, outras, porém, que têm a duração dos mármores e do mundo.

Há opiniões que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.

Há pessoas que dizem mal de tudo para inculcar que prestam para muito.

Há pessoas que ganham muito em ser lidas, e perdem tudo em ser tratadas: escrevem com estudo e vivem sem ele.

Há pessoas que, assim como as modas, parecem bem por algum tempo.

Há povos que são felizes em não ter mais que um só tirano.

Há sempre entre os homens uma sabedoria da moda, como um penteado, um calçado ou um vestuário.

Há um limite nas dores e mágoas que termina a nossa vida, ou melhora a nossa sorte.

Há verdades que é mais perigoso publicar do que foi difícil descobrir.

Ignorância e pobreza vêm de graça, não custam trabalho nem despesa.

Ignorância e preguiça a ninguém enriquecem.

Instruir e divertir os povos deve ser o empenho dos escritores; os mais hábeis são os que instruem divertindo.

Inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia.

Louvamos encarecidamente o estado, ciência ou arte que professamos, para justificar a nossa escolha e honrar as nossas pessoas.

Louvemos a quem nos louva para abonarmos o seu testemunho.

Mudai os tempos, os lugares, as opiniões e circunstâncias, e os grandes heróis se tornarão pequenos e insignificantes homens.

Mudai um homem de classe, condição e circunstâncias, vós o vereis mudar imediatamente de opiniões e de costumes.

Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas.

Muita luz deslumbra a vista, muita ciência confunde o entendimento.

Muitas pessoas se prezam de firmes e constantes que não são mais que teimosas e impertinentes.

Muito se perde por falta de inteligência, porém muito mais por preguiça e aversão ao trabalho.

Muitos homens são louvados porque são mal conhecidos.

Na admissão de uma opinião ou doutrina, os homens consultam primeiramente o seu interesse, e depois a razão ou a justiça, se lhes sobeja tempo.

Na mocidade buscamos as companhias, na velhice evitamo-las: nesta idade conhecemos melhor os homens e as coisas.

Na nossa conta corrente com a natureza raras vezes lhe creditamos os muitos bens de que gozamos, mas nunca nos esquecemos de debitar-lhe os poucos males que sofremos.

Nada agrava mais a pobreza, que a mania de querer parecer rico.

Não desenganemos os tolos se não queremos ter inumeráveis inimigos.

Não desespereis na desgraça, ela é frequentes vezes uma transição necessária para a boa fortuna.

Não é a fortuna, mas juízo somente, o que falta a muita gente.

Não é dado ao saber humano conhecer toda a extensão da sua ignorância.

Não é livre quem não tem inteligência suficiente para adquirir ou defender a liberdade.

Não é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranquilidade.

Não é raro aborrecermos aquelas mesmas pessoas que mais admiramos.

Não emprestes, não disputes, não maldigas, e não terás de te arrepender.

Não há coisa mais fácil que vencer os outros homens, nem mais difícil que vencer-nos a nós mesmos.

Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.

Não há homem que não deseje ser absoluto, aborrecendo cordialmente o absolutismo em todos os outros.

Não há inimigo desprezível, nem amigo totalmente inútil.

Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem juízo.

Não invejemos os que sobem muito acima de nós: a sua queda será muito mais dolorosa do que a nossa.

Não podemos deixar de ser difusos com os ignorantes, mas devemos ser concisos com os inteligentes.

Não provoques o Poder, que ele se tornará cruel e despótico no seu desagravo.

Não são incompatíveis muita ciência e pouco juízo.

Não se apaga o fogo com resinas, nem a cólera com más palavras.

Não se pode formar bom conceito de quem não tem boa opinião de pessoa alguma.

Não se reconhece tanto a ignorância dos homens no que confessam ignorar, como no que blasonam de saber melhor.

Não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser.

Nas revoluções dos povos a insignificância é a maior garantia de segurança pessoal.

Nas revoluções políticas os povos ordinariamente mudam de senhores sem mudarem de condição.

Nenhum governo é bom para os homens maus.

Nenhum homem é tão bom como o seu partido o apregoa, nem tão mau como o contrário o representa.

Nenhum tempo e nenhum lugar nos agrada tanto como o tempo que não existe, e o lugar em que não estamos.

Ninguém avalia tão caro o nosso merecimento, como o nosso amor-próprio.

Ninguém considera a sua ventura superior ao seu mérito, mas todos se queixam das injustiças dos homens e da fortuna.

Ninguém duvida tanto como aquele que mais sabe.

Ninguém é grande homem em tudo e em todo o tempo.

Ninguém é mais adulado que os tiranos: o medo faz mais lisonjeiros que o amor.

Ninguém é tão prudente em despender o seu dinheiro, como aquele que melhor conhece as dificuldades de o ganhar honradamente.

Ninguém é tão solícito e diligente em requerer empregos, como aqueles que menos os merecem.

Ninguém mente tanto nem mais do que a História.

Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como a nossa consciência.

Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como à nossa consciência.

Ninguém quer passar por tolo, antes prefere parecer velhaco.

Ninguém resiste à lisonja sendo administrada, oportunamente, com a perícia e destreza de um hábil adulador.

Ninguém se agasta tanto do desprezo como aqueles que mais o merecem.

Ninguém se conhece tão bem como aquele que mais desconfia de si próprio.

Nobre e ilustrada é a ambição que tem por objecto a sabedoria e a virtude.

Nos altos empregos os grandes homens parecem ainda maiores; mas os pequenos figuram de mais diminutos.

Nos nossos revezes, queremos antes passar por infelizes, do que por imprudentes, ou inábeis.

Num povo ignorante a opinião pública representa a sua própria ignorância.

Nunca os louvores que damos são gratuitos; temos sempre em vista alguma retribuição por este sacrifício do nosso amor-próprio.

Nunca perdemos de vista o nosso interesse, ainda mesmo quando nos inculcamos desinteressados.

O ambicioso, para o ser muito, afecta algumas vezes não valer nada.

O amor na mocidade é ocupação, na velhice distracção ou alienação.

O amor-próprio do tolo, quando se exalta, é sempre o mais escandaloso.

O arrependimento é ineficaz quando as reincidências são consecutivas.

O ateísmo é tão raro quanto é vulgar o politeísmo e a idolatria.

O avarento é o mais leal e fiel depositário dos bens dos seus herdeiros.

O avarento, por um mau cálculo, sofre de presente os males que receia no futuro.

O coração enlutado eclipsa o entendimento e a razão.

O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos laboriosa.

O entusiasmo é um género de loucura que conduz algumas vezes ao heroísmo, e muitas outras a grandes crimes e malfeitorias.

O erro máximo dos filósofos foi pretender sempre que os povos filosofassem.

O espírito de intriga inculca demérito nos intrigantes.

O espírito vive de ficções, como o corpo se nutre de alimentos.

O estudo confere ciência, mas a meditação, originalidade.

O estudo da história acumula sobre a experiência individual a de muitos séculos e milénios.

O fraco ofendido atraiçoa, o forte e magnânimo perdoa.

O fraco ofendido desabafa maldizendo.

O futuro é como o papel em branco em que podemos escrever e desenhar o que queremos.

O governo dos tolos é sempre mais infesto aos povos que o dos velhacos.

O homem de juízo aproveita, o tolo desaproveita a experiência própria.

O homem de palavra é aquele que menos fala.

O homem mais sensível é necessariamente o menos livre e independente.

O homem que cala e ouve não dissipa o que sabe, e aprende o que ignora.

O homem que despreza a opinião pública é muito tolo ou muito sábio.

O homem que frequentes vezes se inculca por honrado e probo, dá justos motivos de suspeitar-se que não é tal ou tanto como se recomenda.

O homem que não é indulgente com os outros, ainda não se conhece a si próprio.

O hóspede acanhado é um dobrado incómodo para quem o hospeda.

O ignorante espanta-se do mesmo que o sábio mais admira.

O império mais poderoso e fatal que existe é o das circunstâncias.

O insignificante presume dar-se importância maldizendo de tudo e de todos.

O interesse explica os fenómenos mais difíceis e complicados da vida social.

O interesse forma as amizades, o interesse dissolve-as.

O interesse sempre transparece no desinteresse que afectamos.

O invejoso é tirano e verdugo de si próprio: ele sofre porque os outros gozam.

O juízo, por mais vulgar, é menos apreciado que o engenho.

O lisonjeiro conta sempre com a abonação do nosso amor-próprio.

O louvor fecundo distingue menos que a admiração silenciosa.

O louvor não merecido embriaga como o vinho.

O louvor que mais prezamos é justamente aquele que menos merecemos.

O luxo, assim como o fogo, tanto brilha quanto consome.

O luxo, como o fogo, devora tudo e perece de faminto.

O mal ou bem que fazemos aos outros reverte sobre nós acrescentado.

O medo é a arma dos fracos, como a bravura a dos fortes.

O medo e o entusiasmo são contagiosos.

O medo faz mais tiranos que a ambição.

O meio mais eficaz de nos vingarmos dos nossos inimigos é fazendo-nos mais justos e virtuosos do que eles.

O melhor sono da vida a inocência o dorme, ou a virtude.

O muito juízo é um grande tirano pessoal.

O mundo floresce pela vida, e renova-se pela morte.

O nosso amor-próprio é muitas vezes contrário aos nossos interesses.

O nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças.

O nosso amor-próprio exalta-se mais na solidão: a sociedade reprime-o pelas contradições que lhe opõe.

O nosso bom, ou mau procedimento, é o nosso melhor amigo, ou pior inimigo.

O nosso espírito é essencialmente livre, mas o nosso corpo torna-o frequentes vezes escravo.

O nosso orgulho eleva-nos para que nos precipitemos de mais alto.

O ódio e a guerra que declaramos aos outros gasta-nos e consome-nos a nós mesmos.

O orgulho pode parecer algumas vezes nobre e respeitável, a vaidade é sempre vulgar e desprezível.

O pobre lastima-se de querer e não poder, o avarento ufana-se de que pode, mas não quer.

O poder repartido por muitos não é eficaz em nenhum.

O prazer do crime passa, o arrependimento sobrevem e o remorso perpetua-se.

O prazer que mais deleita é o que provém da satisfação de uma necessidade mais incómoda e urgente.

O pródigo pode ser lastimado, mas o avarento é quase sempre aborrecido.

O que ganhamos em autoridade, perdemos em liberdade.

O que há de melhor nos grandes empregos é a perspectiva ou a fachada com que tanta gente se embeleza.

O que mais sabe, menos sofre: a sabedoria infinita é impassível.

O que se qualifica em alguns homens como firmeza de carácter não é ordinariamente senão emperramento de opinião, incapacidade de progresso, ou imutabilidade da ignorância.

O remorso é no moral o que a dor é no físico da nossa individualidade: advertência de desordens que se devem reparar.

O roubo de milhões, enobrece os ladrões.

O saber é riqueza, mas de qualidade tal que a podemos dissipar e desbaratar sem nunca empobrecermos.

O sábio que não fala nem escreve é pior que o avarento que não despende.

O silêncio é o melhor rebuço para quem não se quer revelar, ou fazer-se conhecer.

O silêncio é o melhor salvo conduto da mais crassa ignorância como da sabedoria mais profunda.

O silêncio, ainda que mudo, é frequentes vezes tão venal como a palavra.

O temor da morte é a sentinela da vida.

O tempo pretérito se torna presente pela memória, e o futuro pela nossa imaginação.

O trabalho é amargo, mas os seus frutos são doces e aprazíveis.

O trabalho involuntário ou forçado é quase sempre mal concebido e pior executado.

O valor mais resoluto é o que procede da desesperação.

O velho calcula muito, executa pouco: a mocidade é mais executiva que deliberativa.

O velho crê-se feliz em não sofrer, o moço infeliz em não gozar.

O velho teme o futuro e abriga-se no passado.

Ocupados em descobrir os defeitos alheios, esquecemo-nos de investigar os próprios.

Onde os homens se persuadem que os governos os devem fazer felizes, e não eles a si próprios, não há governo que os possa contentar nem agradar-lhes.

Ordem social é limitação de liberdade; desordem, liberdade ilimitada.

Ordinariamente nos fingimos distraídos quando não nos convém parecer atentos.

Ordinariamente tratamos com indiferença aquelas pessoas de quem não esperamos bens nem receamos males.

Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.

Os acontecimentos políticos humilham e desabonam mais a sabedoria humana que quaisquer outros eventos deste mundo.

Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir.

Os anarquistas são como os jogadores infelizes ou inábeis, que, baralhando muito as cartas, ou mudando de baralhos, esperam melhorar de fortuna e condição.

Os anos mudam as nossas opiniões, da mesma forma que alteram a nossa fisionomia.

Os arrufos entre amantes podem ser renovações de amor, mas entre os amigos são deteriorações da amizade.

Os benefícios conferidos levam sempre o ónus da gratidão e reconhecimento.

Os bens de que gozamos exercem sempre menos a nossa razão do que os males que sofremos.

Os bens que a ambição promete são como os do amor, melhores imaginados que conseguidos.

Os bens que a virtude não dá ou não preserva são de pouca duração.

Os bons conselhos desagradam aos apaixonados como os remédios aos que estão doentes.

Os bons presumem sempre bem dos outros; os maus, pelo contrário, sempre mal; uns e outros dão o que têm.

Os bons tremem quando os maus não temem.

Os conselhos dos moços derivam das suas ilusões, os dos velhos, dos seus desenganos.

Os crimes fecundam as revoluções, e dão-lhes posteridade.

Os elogios de maior crédito são os que os nossos próprios inimigos nos tributam.

Os empregos que por intrigas e facções se alcançam, por facções e intrigas se perdem.

Os erros circulam entre os homens como as moedas de cobre, as verdades como os dobrões de ouro.

Os erros de uns são lições para outros, estes acertam porque aqueles erraram.

Os erros de uns são lições para outros; estes acertam porque aqueles erraram.

Os espíritos metódicos são ordinariamente os menos sublimes e transcendentes.

Os faladores não nos devem assustar, eles revelam-se: os taciturnos incomodam-nos pelo seu silêncio, e sugerem justas suspeitas de que receiam fazer-se conhecer.

Os filósofos vivem em disputa e morrem na dúvida.

Os governos fracos fazem fortes os ambiciosos e insurgentes.

Os governos tendem à monarquia, como os corpos gravitam para o centro da terra.

Os grandes empregos desacreditam e ridicularizam os pequenos homens.

Os grandes homens em certas relações são pequenos homens em outras.

Os grandes, os ricos e os sábios sorriem-se: os pequenos, os pobres e os néscios dão gargalhadas.

Os homens afectam desinteresse para melhor promoverem os seus interesses.

Os homens crêem tão pouco na autoridade da própria razão que acabam por justificá-la com a alegação da dos outros.

Os homens de bem perdem e empobrecem nos mesmos empregos em que os velhacos ganham e se enriquecem.

Os homens de extraordinários talentos são ordinariamente os de menor juízo.

Os homens de pouca inteligência não sabem encarecer a própria capacidade sem rebaixar a dos outros.

Os homens disfarçam-se, tal como as mulheres se enfeitam, para agradarem ou enganarem.

Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.

Os homens em geral ganham muito em não serem perfeitamente conhecidos.

Os homens em sociedade são como as pedras numa abóbada, resistem e ajudam-se simultaneamente.

Os homens enganam-se miseravelmente quando esperam encontrar a sua felicidade, mais na forma dos seus governos que na reforma dos seus costumes.

Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e desgosto.

Os homens mais orgulhosos são geralmente os mais irritáveis e vingativos.

Os homens mais respeitados não são sempre os mais respeitáveis.

Os homens não sabem avaliar-se exactamente: cada um é melhor ou pior do que os outros o consideram.

Os homens nos parecerão sempre injustos enquanto o forem as pretensões do nosso amor-próprio.

Os homens poderiam parecer-nos mais justos ou menos injustos, se não exigíssemos deles mais do que podem ou devem dar-nos.

Os homens preferem geralmente o engano, que os tranquiliza, à incerteza, que os incomoda.

Os homens probos são menos capazes de dissimulação do que os velhacos.

Os homens são geralmente tão avaros do seu dinheiro, como pródigos dos seus conselhos.

Os homens são poucas vezes o que parecem; eles trabalham incessantemente por parecer o que não são.

Os homens são sempre mais verbosos e fecundos em queixar-se das injúrias do que em agradecer os benefícios.

Os homens sem mérito algum, brochados de insígnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.

Os homens têm geralmente saúde quando não a sabem apreciar, e riqueza quando a não podem gozar.

Os homens têm querido dar razão de tudo, para dissimular ou encobrir o seu pouco saber.

Os homens, para não desagradarem aos maus de quem se temem, abandonam muitas vezes os bons, a quem respeitam.

Os ignorantes exageram sempre mais que os inteligentes.

Os ingratos pensam minorar ou justificar a sua ingratidão, memorando com frequência os vícios e defeitos dos seus benfeitores.

Os insignificantes são como os mascarados, audazes por desconhecidos.

Os louvores que nos dão os nossos inimigos podem ser diminutos, mas nunca são exagerados.

Os maiores detractores dos governos são aqueles que pretendem governar.

Os mais arrojados em falar são ordinariamente os menos profundos em saber.

Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecer crédito ainda que digam verdades.

Os males da vida são os nossos melhores preceptores, os bens, os nossos maiores aduladores.

Os maus não nos levam em conta a nossa bondade e indulgência, reputam-na fraqueza, e tiram o argumento para multiplicar as suas malfeitorias.

Os maus não são exaltados para serem felizes, mas para que caiam de mais alto e sejam esmagados.

Os maus queixam-se de todos, os bons de poucos, os melhores de ninguém ou de si próprios.

Os moços de juízo honram-se em parecer velhos, mas os velhos sem juízo procuram figurar como moços.

Os moços são tão solícitos sobre o seu vestuário, quanto os velhos são negligentes: aqueles atendem mais à moda e à elegância, estes à sua comodidade.

Os moços, por falta de experiência, de nada suspeitam, os velhos, por muito experimentados, de tudo desconfiam.

Os nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento moral. Eles são os historiadores dos nossos erros, vícios e imperfeições.

Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões.

Os Outros

Os pequenos inimigos, ainda que menos danosos, são sempre mais incómodos que os grandes.

Os pobres divertem-se com pouco dinheiro, os ricos enojam-se com muita despesa.

Os povos desencantados tornam-se insubordinados.

Os povos, como as pessoas, variam de opiniões e gostos, e na sua inconstância passam frequentes vezes de um a outro extremo.

Os que asseveram que os maus são ou podem ser felizes, não têm noções claras da genuína felicidade.

Os que falam em matérias que não entendem parecem fazer gala da sua própria ignorância.

Os que governam preferem o engano que os deleita à verdade que os incomoda.

Os que mais possuem não são os que melhor digerem.

Os que não sabem aproveitar o tempo dissipam o seu, e fazem perder o alheio.

Os que reclamam para si maior liberdade são os que ordinariamente menos a toleram e permitem nos outros.

Os sábios duvidam mais que os ignorantes; daqui provém a filáucia destes e a modéstia daqueles.

Os sábios falam pouco e dizem muito, generalizando e abstraindo resumem tudo.

Os sábios que são respeitados pelos seus escritos são algumas vezes desprezíveis pelas suas acções.

Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem.

Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.

Os velhacos têm por admiradores todos os tolos, cujo número é infinito.

Os velhos caluniam o tempo presente atribuindo-lhes os males de que padecem, consequências do passado.

Os velhos dão bons conselhos para se redimirem de ter dado maus exemplos.

Os velhos erram muitas vezes por demasiadamente prudentes, os moços quase sempre por temerários.

Os velhos invejam a saúde e vigor dos moços, estes não invejam o juízo e a prudência dos velhos: uns conhecem o que perderam, os outros desconhecem o que lhes falta.

Os velhos prezam ordinariamente os mortos e desprezam os vivos.

Os velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão uma ideia favorável da maturidade e progresso da sua inteligência.

Os velhos que seguem as modas, presumem rejuvenescer com elas.

Os velhos ruminam o pretérito, os moços antecipam e devoram o futuro.

Os velhos tornam-se nulos e inúteis à força de prudência e circunspecção.

Os vícios, como os cancros, têm a qualidade de corrosivos.

Para bem conhecer os homens, é necessário primeiramente vê-los e praticá-los de perto, e depois estudá-los e meditá-los de longe.

Para quem não tem juízo os maiores bens da vida convertem-se em gravíssimos males.

Perante um auditório de tolos, os velhacos tornam-se fecundos, e os doutos silenciosos.

Perdoamos mais vezes aos nossos inimigos por fraqueza, que por virtude.

Podemos reunir todas as virtudes, mas não acumular todos os vícios.

Pouco dizemos quando o interesse ou a vaidade não nos faz falar.

Pouco espírito inutiliza muito saber.

Pouco saber exalta o nosso amor-próprio, muito saber humilha-o.

Prezamos e avaliamos a vida muito mais no seu extremo que no seu começo.

Quando a cólera ou o amor nos visita a razão se despede.

Quando a consciência nos acusa, o interesse ordinariamente nos defende.

Quando defendemos os nossos amigos, justificamos a nossa amizade.

Quando moços, contamos tantos amigos quantos conhecidos; porém maduros pela experiência, não achamos um homem de cuja probidade fiemos a execução do nosso testamento.

Quando não podemos gozar a satisfação da vingança, perdoamos as ofensas para merecer ao menos os louvores da virtude.

Quando o amor nos visita, a amizade despede-se.

Quando o interesse é o avaliador dos homens, das coisas e dos eventos, a avaliação é quase sempre imperfeita e pouco exacta.

Quando os tiranos caem, os povos levantam-se.

Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca sorte, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo.

Queixamo-nos da fortuna para desculpar a nossa preguiça.

Quem desconfia de si próprio, menos pode confiar nos outros.

Quem muito nos festeja, alguma coisa de nós deseja.

Quem não desconfia de si, não merece a confiança dos outros.

Quem não espera na vida futura, desespera na presente.

Quem não pode ou não sabe acumular, nunca chega a ser sábio nem rico.

Querendo parecer originais, tornamo-nos ridículos ou extravagantes.

Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.

Saber viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade que muita gente morre sem a ter compreendido.

São incalculáveis os benefícios que provêm da noção de incerteza do dia e ano da nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade.

Se a vida é um mal, por que tememos morrer; e se um bem, porque a abreviamos com os nossos vícios?

Se as viagens simplesmente instruíssem os homens, os marinheiros seriam os mais instruídos.

Se fôssemos sinceros em dizer o que sentimos e pensamos uns dos outros, em declarar os motivos e fins das nossas acções, seríamos reciprocamente odiosos e não poderíamos viver em sociedade.

Sem as ilusões da nossa imaginação, o capital da felicidade humana seria muito diminuto e limitado.

Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa.

Sobeja-nos tanto a paciência para tolerar os males alheios, quanto nos falta para suportar os próprios.

Sofrei privações na mocidade, e sereis regalados na velhice.

Somos benfazentes mais vezes por vaidade que por virtude.

Somos bons consoladores, e muito maus sofredores.

Somos em geral demasiadamente prontos para a censura, e demasiadamente tardos para o louvor: o nosso amor-próprio parece exaltar-se com a censura que fazemos, e humilhar-se com o louvor que damos.

Somos enganados mais vezes pelo nosso amor-próprio do que pelos homens.

Somos muitas vezes maldizentes para nos inculcarmos perspicazes.

Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se não há-de aceitar.

Somos muitos francos em confessar e condenar os nossos pequenos defeitos, contanto que possamos salvar e deixar passar sem reparo os mais graves e menos defensáveis.

Somos tão avaros em louvar os outros homens, que cada um deles se crê autorizado a louvar-se a si próprio.

Sucede aos homens como às substâncias materiais, as mais leves e menos densas ocupam sempre os lugares superiores.

Sucede frequentes vezes admirarmos de longe o que de perto desprezamos.

Ter privança com os que governam é contrair responsabilidade no mal que fazem, sem partilhar o louvor do bem que operam.

Todas as virtudes são restrições, todos os vícios, ampliações da liberdade.

Todos querem liberdade, muitos a possuem, poucos a merecem.

Todos reclamam reformas, mas ninguém se quer reformar.

Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens de que gozam.

Um grande crime glorificado ocasiona e justifica todos os outros crimes e atentados subsequentes.

Um grande mérito força o respeito, e afugenta a adulação.

Um homem pode saber mais do que muitos, porém nunca tanto como todos.

Um povo corrompido não pode tolerar um governo que não seja corrupto.

Uma grande qualidade ou talento desculpa muitos pequenos defeitos.

Uma grande reputação é talvez mais incómoda que a insignificância pessoal.

Unir para desunir, fazer para desfazer, edificar para demolir, viver para morrer, eis aqui a sorte e condição de natureza humana.

Uns homens ocasionam os males e exigem que outros os remedeiem.

Uns homens sobem por leves como os vapores e gases, outros como os projécteis pela força do engenho e dos talentos.

Viver é doce; viver é agro: nesta alternativa se passa a vida.